A pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) transformou muitos setores da indústria e tecnologia, fazendo com que diversas empresas precisassem se reinventar para seguir lucrando e mantendo seus caixas com recursos suficientes para pagar seus funcionários.
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Um dos mercados mais afetados pela crise econômica decorrente disso foi o automotivo. Por mais que hoje muitas empresas apresentem recuperação, os números observados durante a pandemia são bem piores de quando a COVID-19 ainda não assolava o mundo com internações e mortes. Entretanto, as montadoras deram um jeito e, em meio a essa turbulência, criaram um serviço diferente para tentar driblar a crise: os carros por assinatura.
A bem da verdade, já podemos ter carros por assinatura há algum tempo, mas sempre por meio de locadoras e empresas especializadas. Entretanto, diante do cenário econômico e das inúmeras mudanças no perfil dos clientes, marcas como Fiat, Jeep, Chery, Hyundai, Volkswagen e Renault resolveram dar mais essa opção aos seus concessionários e compradores, cada qual com suas vantagens e desvantagens.
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*Nota da redação: O único lembrete que deve ser feito no momento é que, em meio à falta de semicondutores, muitas fabricantes estão com suas produções paralisadas. Por isso, o tempo de espera para a assinatura de um automóvel pode ser maior do que o normal.
Uma nova modalidade
Os serviços e o modo como as montadoras administram suas frotas é bem parecido. O que muda, no caso do cliente, são mesmo os preços e modelos a serem adquiridos. De modo bem básico, se uma pessoa se interessar por um carro por assinatura, basta acessar o site de uma das fabricantes que disponibiliza essa modalidade e, depois de alguns passos, ter um veículo 0km em sua garagem em alguns dias. O mais interessante é que, tal qual acontece com um carro alugado, o cliente não se preocupará com a manutenção, seguro nem documentação do veículo. Tudo o que ele precisará fazer é cuidar do automóvel e abastecê-lo, como se fosse o seu próprio.
“Identificamos essa oportunidade de mercado porque entendemos que nossos clientes, sobretudo os mais jovens, não querem mais ter as coisas, mas sim usufruir delas. Então, separamos alguns dos nossos principais modelos para fazerem parte do serviço”, explica Romain Darmon, gerente geral do Renault on Demand, setor da Renault responsável pelo serviço de assinatura da marca francesa, em entrevista ao Canaltech.
No caso do Renault On Demand, os modelos disponíveis são o Kwid, Stepway e o Duster, em suas respectivas variantes de entrada e topo de gama. Os preços variam de R$ 1.269 a R$ 2.359, sempre com contratos de 12 a 24 meses. Também há planos de quilometragem, tal qual em outras empresas. Essa limitação acontece porque, para as marcas, o interessante é que esse tipo de serviço seja destinado ao consumidor final e não para fins profissionais.
“A escolha por limitar a quilometragem diz muito sobre o serviço que queremos oferecer. A ideia é sempre levar os automóveis para os clientes que, em potencial, também seriam nossos compradores. Não é nossa intenção oferecer isso para motoristas de aplicativos, uma vez que esse mercado já é bem atendido. O foco, aqui, é outro”, conta Ricardo Casagrande, diretor de vendas da Volkswagen no Brasil, ao Canaltech.
Depois de usados, os carros por assinatura voltam para as redes de concessionárias e, após uma inspeção criteriosa, são revendidos para outros clientes. Em alguns casos, os antigos locadores podem comprá-lo.
Quem quer assinar um carro?
Ter um carro ainda é muito complicado no Brasil. Além dos preços absurdos, existe uma enorme dificuldade de conseguir aprovar crédito e financiamento, mesmo com as inúmeras vantagens oferecidas pelas montadoras. Assinar um automóvel, porém, é uma tarefa mais simples e demanda apenas uma análise de crédito mais básica e, em alguns casos, um cartão de crédito.
Segundo Casagrande, a Volkswagen não deu tanta atenção para a idade na hora de bolar seu serviço por assinatura, o Sign and Drive. “Observamos que existia uma lacuna no mercado para que pudéssemos oferecer um serviço com toda a comodidade e segurança para o cliente. Além de possibilitar que uma pessoa que, às vezes, não teria condições de comprar um desses modelos em um financiamento, pudesse usufruir dele pelo Sign and Drive, já que, financeiramente, é mais vantajoso”, explica.
E, de fato, se colocarmos na ponta do lápis, faz muito sentido sob o ponto de vista financeiro. Por exemplo: se escolhermos um Volkswagen T-Cross Highline na modalidade básica de assinatura, ou seja, com o menor nível de quilometragem e por um ano, o valor parte de R$ 2.499 por mês. Mas, se quisermos comprar o mesmo veículo, sem entrada, em financiamento de 24 meses e, claro, somando gastos como seguro e manutenção, o valor pode ser até o dobro.
Essa matemática também vale para os serviços da Renault, Fiat, Jeep, Hyundai e Chery, outros importantes players dentro desse crescente mercado. No caso da Fiat/Jeep, por exemplo, já é possível dirigir um Jeep Compass 2022 com todas as melhorias e novidades por menos de R$ 3.000, com tudo incluso, por meio do serviço Flua, que contempla outros modelos do Grupo Stellantis, como Argo, Strada e Renegade.
Já a Chery e a Hyundai estão dentro do guarda-chuva do grupo CAOA, que disponibiliza os veículos da gama no Caoa Sempre. Para situar o leitor, é possível ter o novíssimo Tiggo 8, em sua variante TXS, por a partir de R$ 3;659,51. Em um financiamento sem entrada, o SUV de oito lugares pode custar mais de R$ 5 mil mensais para o proprietário.
“Por vezes as pessoas não querem ter o produto, mas querem se aproveitar de seus benefícios. O serviço por assinatura coloca um carro 0km nas mãos do cliente sem ele ter de se preocupar com mais nada, a não ser abastecer”, salienta Darmon.
Vale a pena?
Do ponto de vista financeiro, ter um carro por assinatura é extremamente vantajoso e vale muito a pena se pensarmos que, por um valor mensal, teremos um automóvel 0km, sem preocupações com burocracia e manutenção. O brasileiro, porém, tem em sua cultura que ter um carro próprio ainda é sinônimo de status e vitória pessoal, mesmo que isso, na prática, não signifique tanta coisa assim. Se a tendência global for seguida por aqui, os automóveis devem se tornar serviços e não mais bens de consumo.
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Fonte: Canaltech