Os alquimistas bem que tentaram por longos séculos, mas é certo o ouro é um elemento que não é nada fácil de ser produzido, já que não pode ser sintetizado por reações químicas simples. Então, o que teria gerado todo o ouro que temos na Terra, e gerando tanta quantidade de ouro em outros lugares do universo? Uma resposta poderia estar na fusão nuclear gerada por colisões entre estrelas de nêutrons, mas um estudo recente liderado por Chiaki Kobayashi, astrofísica na University of Hertfordshire, concluiu que isso não explica a abundância deste metal. Então, obviamente existe algum processo produzindo o ouro, que ainda nos é desconhecido.
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Para produzir ouro, é preciso que ocorra fusão nuclear entre prótons e nêutrons. As colisões que ocorrem entre estrelas de nêutrons geram esta colisão, e acabam com os núcleos recém-unidos ejetados no espaço. Kobayash explica que as supernovas comuns não poderiam ser “culpadas” pelo ouro, já que as estrelas massivas o suficiente para fundir o ouro antes de morrerem — o que já é raro o suficiente — se tornariam buracos negros ao explodir, e o ouro seria engolido. Outra possibilidade está nas supernovas magneto-rotacionais que, de tão intensas, chegam a revirar completamente uma estrela. Neste fenômeno, a estrela que chegou ao fim de sua vida gira tão rapidamente que é destruída por campos magnéticos, e se revira de dentro para fora conforme explode.
Ao morrer, a estrela lança jatos quentes de matéria ao espaço e, como a estrela se revirou, seus jatos são cheios de ouro nucleico. Mas, novamente, as estrelas que fundem ouro são raras — e as que fundem ouro e o ejetam para o espaço são mais raras ainda. Mesmo assim, Kobayashi ressalta que estes processos ainda não explicam o ouro presente na Terra. “Existem duas etapas nessa questão. A primeira: as estrelas de nêutrons que se mesclam não são o suficiente. A segunda: mesmo com uma segunda fonte, ainda não conseguimos explicar a quantidade de ouro observada”, explica. Estudos anteriores acertaram que as colisões entre estrelas de nêutrons liberam uma chuva de ouro, mas não consideraram a raridade destas colisões, tanto que os cientistas só viram isso acontecer uma vez.
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Então, os pesquisadores se debruçaram sobre uma grande quantidade de dados e os aplicaram em modelos robustos sobre como as galáxias evoluem e produzem novas substâncias. Por meio desta iniciativa, eles puderam explicar a formação de átomos leves como o carbono-12, que tem apenas seis prótons e seis nêutrons, e outros mais pesados, como o urânio-238, que tem 92 prótons e 146 nêutrons — uma amplitude impressionante, já que o estudo incluiu elementos que geralmente são ignorados.
No fim, eles até conseguiram relacionar as supernovas magneto-rotacionais ao európio, outro átomo de difícil explicação. Entretanto, o ouro continua sendo um enigma; existe algo que os cientistas não conhecem, mas que está produzindo ouro, ou as colisões de estrelas de nêutrons estão produzindo mais ouro do que os modelos atuais sugerem. De qualquer forma, é certo que os astrofísicos ainda têm bastante trabalho pela frente até entenderem de onde todo o metal está vindo.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista The Astrophysical Journal.
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Fonte: Canaltech