Donald Trump pode não ser reeleito na disputa presidencial de novembro. Mas as guerras comercial e tecnológica que o seu governo vem travando contra a China vem dando dor de cabeça às empresas do país asiático, algumas de alcance global, como a Huawei. E para se proteger da intempestividade dos EUA, as autoridades chinesas estão planejando um amplo conjunto de novas políticas públicas para desenvolver sua indústria doméstica de semicondutores.
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Segundo uma reportagem do site de notícias Bloomberg, a evolução da indústria de chips chinesa ganhou o mesmo tipo de prioridade que o governo dedicou à construção de sua capacidade atômica. Pequim está preparando um amplo apoio para os chamados semicondutores de terceira geração para os próximos cinco anos – ou seja, até 2025, a China não quer mais depender de tecnologia estrangeira para desenvolver seus processadores, de acordo com pessoas, próximas às deliberações do governo local. ,
Para isso, um conjunto de medidas para fortalecer a pesquisa, educação e financiamento para a indústria foi adicionado a um esboço do 14º plano de cinco anos do país, que será apresentado aos principais líderes do país em outubro deste ano. É neste evento que as autoridades públicas se reúnem para traçar sua estratégia econômica para a próxima meia década, incluindo esforços para aumentar o consumo doméstico e internalizar a tecnologia considerada crítica.
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O presidente Xi Jinping prometeu cerca de US $ 1,4 trilhão até 2025 para tecnologias que vão desde redes sem fio à inteligência artificial. Os semicondutores são fundamentais para praticamente todos os componentes das ambições tecnológicas da China – e uma administração Trump cada vez mais agressiva ameaça cortar seu fornecimento do exterior.
“A liderança chinesa percebe que os semicondutores sustentam todas as tecnologias avançadas e que o país não pode mais depender de suprimentos americanos”, disse Dan Wang, analista de tecnologia da empresa de pesquisa Gavekal Dragonomics. “Diante das restrições mais rígidas dos EUA ao acesso às tecnologias que compõem os chips, a resposta da China só pode ser continuar pressionando para que a sua própria indústria se desenvolva.”
Com as notícias de que o governo chinês pretende investir forte no setor nos próximos cinco anos, ações de várias das principais fabricantes de chips locais se valorizaram na Bolsa. O Shanghai Fudan Microelectronics Group teve alta de 4,3% em seus papeis na bolsa de Hong Kong. Já no mercado da China continental, a Will Semiconductor Ltd. – a segunda maior empresa chinesa de chips – viu suas ações aumentarem quase 10%. A Xiamen Changelight fechou com alta de 14%, enquanto a Focus Lightings Tech Co. subiu 5,6%.
Dependência do Ocidente
Anualmente, a China importa mais de US$ 300 bilhões em circuitos integrados. Além disso, seus desenvolvedores de semicondutores contam com ferramentas e patentes de design de chips feitos nos EUA, bem como tecnologias de fabricação críticas criadas em países aliados dos norte-americanos. No entanto, a deterioração dos laços entre Pequim e Washington tornou cada vez mais difícil para as empresas chinesas adquirirem componentes e tecnologias de fabricação de chips no exterior.
Nos últimos meses, o governo dos Estados Unidos colocou dezenas de empresas de tecnologia da China em uma lista suja do seu Departamento de Comércio. Dessa forma, essas companhias ficam impedidas de ter acesso a componentes e tecnologia americanas. E a principal afetada com essa medida até aqui foi a gigante Huawei , que ainda trava com a administração Trump uma guerra pelos mercados de 5G mundo afora. Em diversos países, a empresa chinesa foi impedida de vender os equipamentos que formam a infraestrutura das redes móveis de quinta geração.
Além disso, a Huawei, hoje a segunda maior fabricante de smartphones do mundo, atrás apenas da Samsung, perderá o acesso a chips de empresas como a taiwanesa TSMC. Isso porque as novas regulamentações americanas proíbem fornecedores em qualquer lugar do mundo de trabalhar com a fabricante chinesa se eles usarem equipamentos americanos. Tal endurecimento nas regras aumentaram a urgência de construir alternativas domésticas na própria China.
Tomando a dianteira
Semicondutores de terceira geração são, principalmente, chipsets feitos de materiais como carboneto de silício e nitreto de gálio. Eles podem operar em alta frequência e em ambientes de alta potência e temperatura. Logo, são amplamente utilizados em chips de radiofrequência de quinta geração, radares militares e veículos elétricos.
E já que nenhum país domina agora a tecnologia incipiente de terceira geração, a aposta da China é que suas corporações possam competir se acelerarem as pesquisas nesse campo agora. Líderes globais desse setor, como a americana CREE Inc e a japonesa Sumitomo Electric Industries estão apenas começando a expandir seus negócios, enquanto gigantes da tecnologia chinesa, como a Sanan Optoelectronics e a estatal China Electronics Technology Group já começam a fazer incursões nesta nova geração de chipsets. Além disso, outros fabricantes de chips do país, como a Semiconductor Manufacturing International, a Will Semiconductor e a National Silicon Industry Group podem se beneficiar mais amplamente do apoio estatal e acelerar suas pesquisas para tornar o país independente na fabricação destes compomentes.
“Este é um setor prestes a sofrer um crescimento explosivo”, disse Alan Zhou, sócio-gerente do fundo de investimento em chips An Xin Capital Co. durante um fórum do setor na semana passada. “Devido ao aumento da demanda e do investimento da China, esta é uma área que poderia criar uma ‘gigante chinesa de chips de classe mundial’ em poucos anos”.
A Bloomberg procurou o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China, responsável pela elaboração das metas relacionadas à tecnologia, para comentar os planos chineses no setor de semicondutores. No entanto, o órgão estatal optou por não se pronunciar.
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Fonte: Canaltech