Muitas vezes, quando falamos de tecnologia aplicada à educação, pensamos em videoaulas por meio de plataformas como o Zoom, lousas eletrônicas ou conteúdos consumidos por meio de smartphones e tablets de qualquer lugar. No entanto, como dizia parafraseando Shakespeare: “Há muito mais coisas entre o lousa e o aluno do que supõe a nossa vã filosofia”.
O fato é que tecnologias mais, digamos, profundas, estão tomando conta, aos poucos das salas de aula. E isso envolve não apenas o conteúdo ou a forma como ele é transmitido. Envolve, na verdade, uma customização focada no perfil do aluno e na maneira como ele absorve o conhecimento. E para isso, o uso da Inteligência Artificial (IA) vem sendo primordial e – acima de tudo – um divisor de águas.
E para explicar como a IA vem promovendo essa revolução no ensino, o “Oito perguntas sobre” dessa semana conversou com José Cláudio Securato, Ph.D, Fundador e CEO da Saint Paul Escola de Negócios e da plataforma LIT.
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Confira como foi o papo:
Canaltech – Nesse cenário de pandemia, o uso de tecnologias para o ensino precisou ser acelerada e as edtechs ganharam muito espaço. Na sua visão, em um cenário pós-pandemia, esse uso maciço de ferramentas tecnológicas no ensino tendem a acelerar ainda mais?
José Cláudio Securato: É um caminho sem volta. Na Saint Paul, nós iniciamos o projeto do LIT em 2016, já entendendo que a transformação digital seria uma tendência em educação. Assim, a pandemia não criou um modismo ou usa tecnologias como soluções temporárias. A pandemia antecipa tendências ao sincronizar a visão que a tecnologia pode ser uma elemento de impulso da educação. No pós-pandemia teremos já o surgimento de novos modelos de educação.
CT – O que é o Aprendizado “Always On”? Como fazer com que os alunos sejam os agentes e protagonistas do seu aprendizado? Como mantê-los conectados o tempo inteiro sem cansá-los?
J.C.: “Always On” é a autoconsciência que o aprendizado ocorre em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer forma. Estar com o modo aprender “on” significa estar aberto ao aprendizado. Aprendemos quando estamos trabalhando, fazendo um projeto com colegas de trabalho, ao assistir um vídeo, ao ler um livro ou um post, ao se propor a resolver um problema. Enfim, se aprende ao viver cada momento do dia. Mas para se intensificar a aprendizagem é fundamental estar atento e aberto para o aprender. Ao terminar uma reunião e anotar dois aprendizados daquele encontro potencializa enormemente a absorção do aprendizado, por exemplo.
Neste contexto, ser gestor e programador do seu processo de aprendizado significa estar atento ao seu dia para entender o que aprender, por que aprender e para que aprender. Significa escolher sua jornada de aprendizagem, desenhar seu próprio caminho.
Por fim, veja as pessoas no modo onlearning (ou modo aprender “on”), naturalmente atentos ao aprendizado e que intercalam processos formais e informações de aprendizagem, presenciais e a distância, com auto-aprendizagem, aprendizagem dirigida, aprendizagem peer-to peer. Isso significa uma pessoa que aprende em uma reunião de trabalho, que acessa o LIT do seu celular no intervalo entre reuniões para aprender algo correlato por 5-7 minutos, por exemplo.
CT – Como a Inteligência Artificial pode contribuir com o processo de aprendizado do aluno, principalmente nesse modelo de ensino híbrido apresentado pela LIT?
J.C.: A Inteligência Artificial (IA) muda o jogo de todos os setores da economia e com educação não será diferente. IA contribui desde a identificação de padrões até na personalização individual da aprendizagem.
Na identificação de padrões é possível perceber comportamentos coletivos. Como a característica de alunos contribuem/prejudicam jornadas de aprendizagem? Percebemos no LIT que alunos com traços de personalidade mais extrovertidos (personalidade identificada com IA) tinham, em média, dois pontos a menos em avaliações que alunos com outros perfis de personalidade. A partir desse diagnóstico via IA para identificação de padrões, fomos para a definição de personalização da jornada de aprendizagem individualmente. Resultado, hoje não há mais esta diferença de resultados em avaliações.
Este é um pequeno exemplo. O Paul, nome que damos para a IA do LIT, é um professor 24 horas por dia / 7 dias por semana para tirar dúvidas, fazer explicações sobre temas complexos para os alunos. Em testes, nós tempos o uso de IA para atrelar expressões faciais e análise de sentimento versus sucesso/insucesso no aprendizado, além de uso IA para atividades preditivas como provável insucesso de um aluno ou para indicar conteúdos que sejam relevantes para sua vida e carreira.
CT – Como aliar a aplicação de dados em um modelo de ensino personalizado ao aluno? Como é criada essa UX customizada dos estudantes nos cursos da LIT?
J.C.: Hoje há duas formas de personalização. A primeira diz respeito a “como” aprender; a segundo, “o que” aprender.
A personalização da aprendizagem como aprender ocorre com o incentivo a cada aluno em copiar e colar em um campo específico textos e conversas de sua autoria. Estes textos devem ser pessoais e de trabalho para maior riqueza de palavras e maior acurácia da análise. A Inteligência Artificial análise as palavras submetidas pel@ alun@ e devolve uma análise de traços de personalidade baseada na metodologia Big Five (ganhadora de um Prêmio Nobel). A partir destes traços de personalidade, o LIT desenvolveu um algoritmo que atrela os traços de personalidade às formas de aprendizagem.
Ou seja, o aprendizado ocorre pelos nossos sentidos e o que se procura otimizar é qual seriam os melhores sentidos para cada pessoa, para cada aluno? Alguns aprendem melhor lendo, outros assistindo, discutindo, ouvindo, escrevendo etc. Resumindo, estamos atrelando traços de personalidade com formas de aprendizagem usando IA.
A personalização “o que” aprender funciona com o Paul aplicando um questionário (assessment) aos alunos com objetivo de analisar qual o conhecimento prévio o aluno possui sobre aquele cursos que está sendo iniciado por alguém. Ao final da avaliação, o Paul indica se há alguma parte do programa que pode ser eliminada da jornada, otimizando tempo e aumentando engajamento dos alunos. Esse processo demora em média 6 minutos.
CT – Como o investimento em tecnologia pode possibilitar uma educação mais acessível e democrática? Que ferramentas tecnológicas podem possibilitar isso?
J.C.: Poderíamos ter feito tudo isso e cobrado mais pelos nossos cursos, pois o diferencial justificaria esse aumento no investimento pelos nossos alunos. Mas preferimos o caminho da economia compartilhada, da disrupção. Um caminho de não tornar esses avanços para poucos, ao contrário, torná-los acessíveis para muitos. O LIT é disponível por R$ 100/mês aproximadamente para acesso completo a plataforma. Qual curso de uma instituição comparável com a Saint Paul (e até a própria Saint Paul) custa R$ 100?
Portanto, tecnologias como computação em nuvem (Cloud), inteligência artificial (IA), blockchain e arquitetura de software por microsserviços permitem um custo unitário decrescente. Isso significa que quanto mais pessoas forem alun@s do LIT, menor será o valor de nossas assinaturas.
CT – Nessa pandemia, quais cursos da LIT foram mais procurados? Houve alguma área específica que registrou maior procura?
J.C.: Os cursos mais procurados foram de Metodologias Ágeis, Liderança Estratégica, os programas de introdução à Inteligência Artificial e outros mais tradicionais como Economia Brasileira e Análise de Demonstrativos Financeiros. Cada curso deste superou 35 mil acessos na pandemia.
CT – Tão importante quanto o conteúdo é a experiência de ensino que o aluno terá nos cursos. Hoje, que tecnologias conseguem proporcionar isso aos estudantes de forma mais eficiente?
J.C.: Compare a experiência de acessar um filme via uma TV a cabo convencional e o Netflix. Você gastaria 4 minutos para acessar o filme na TV a cabo (espero que você não precise se lembrar onde parou de assistir…), enquanto você leva 40 segundos na Netflix. Em educação é a mesma coisa. Muitos falam em aprendizagem em micromomentos, mas não conseguem entregar porque ainda estão na era da educação online e não da educação digital. No LIT com a função “meus micromomentos” os alunos escolhem quanto tempo tem, o que querem aprender e em 30 segundos estão com o conteúdo carregado em seus devices.
No LIT focamos na UX (user experience) dos alunos trazendo funcionalidades digitais de outros segmentos (micromomentos, comentários de alunos em pontos específicos de vídeos, continuar aula do ponto em que parou, capacidade seamless, possibilidade de assistir offline etc.) e com análise de dados com IA e machine learning para compreender o que faz sentido para os alunos.
CT – E falando sobre tendências: que novas tecnologias podemos ver na Educação para os próximos anos?
J.C.: Nos próximos anos as tendências tecnológicas em educação são atreladas a novas aplicações de Inteligência Artificial na aprendizagem, blockchain para cadeias de certificação, arquitetura por microsserviços para dar flexibilidade e velocidade às implementações tecnológicas nas plataformas, ferramentas para segurança cibernética, principalmente para evitar fraudes em certificados, além de realidade aumentada, virtual e mista.
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Fonte: Canaltech