Astronautas russos são chamados de cosmonautas. Para os chineses, o termo é taikonautas. Para os norte-americanos e a maioria dos europeus, é astronautas mesmo. Mas por que existem termos diferentes se eles são todos viajantes espaciais e que, muitas vezes, compartilham as mesmas missões (como, por exemplo, no caso da Estação Espacial Internacional)?
É isso o que vamos explicar nesta matéria. E, spoiler: tecnicamente é correto chamar todos eles de astronautas, mesmo. Por definição, astronauta é a pessoa treinada para uma viagem espacial, e tanto faz se sua tarefa será comandar, pilotar ou servir como membro da tripulação de uma nave espacial. E o termo pode valer tanto para os viajantes que superam a órbita terrestre (a mais ou menos 100 km de altitude), quanto para os que fazem voos suborbitais.
Ainda, com o surgimento das empreitadas privadas rumo ao espaço, surgiu uma nova categoria: a dos astronautas privados. Até 2003, apenas profissionais formados pelos governos, forças armadas e agências espaciais estatais tinham a oportunidade de conhecer o espaço, mas no ano seguinte a nave SpaceShipOne, da Scaled Composites (financiada exclusivamente por fundos privados) fez o primeiro voo espacial tripulado da história que não tinha “mãos” estatais em seu projeto — o viajante foi Mike Melvill, piloto do voo inaugural da nave e, consequentemente, o primeiro astronauta do setor privado.
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Contudo, o termo astronauta não pode ser aplicado a qualquer pessoa que viaja para o espaço, incluindo cientistas, políticos, jornalistas e turistas. Segundo a NASA e a Roscosmos, essas pessoas não-astronautas que porventura têm a oportunidade de visitar o espaço devem ser chamadas de “participantes de voos espaciais”.
O termo astronauta nos Estados Unidos
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Nos EUA e em outras nações que têm o inglês como idioma principal, astronauta é a pessoa que viaja para o espaço. O termo é derivado das palavras gregas “ástron” (que significa “estrela”) e “nautes” (que significa “navegante” ou “marinheiro”).
Deixando as empresas privadas de lado, considerando apenas os astronautas da NASA, não é simples ser qualificado para ir ao espaço. A agência espacial exige requisitos como ser cidadão dos Estados Unidos e passar por um rigoroso exame físico, com a pressão sanguínea não podendo superar o nível de 140 por 90.
Para comandantes e pilotos, é necessário ter bacharelado em engenharia, ciências biológicas, ciências físicas ou matemática, e uma pós-graduação conta pontos na seleção. Ainda, é preciso ter pelo menos mil horas voando como um comandante-piloto de jato, e experiência como piloto de testes é desejável. O candidato a astronauta deve ter entre 1,57 e 1,90m de altura.
Já para os especialistas em missão, também é preciso ter bacharelado em engenharia, ciências biológicas, ciências físicas ou matemática, com pelo menos três anos de experiência profissional comprovada. Nesses casos, o candidato deve ter entre 1,49 e 1,93m de altura.
As pessoas que completam o rigoroso treinamento da NASA para se tornarem astronautas recebem uma insígnia oficial de merecimento. Depois que completam sua missão no espaço e voltam à Terra, os astronautas recebem um pino de ouro como condecoração.
O termo cosmonauta na Rússia
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Cosmonauta é uma adaptação da palavra russa kosmonavt, derivada das palavras gregas “kosmos” (“universo”) e “nautes” (“marinheiro”). Então, semanticamente falando, a única diferença entre um astronauta e um cosmonauta é que, no primeiro caso, a palavra considera as estrelas e, no segundo, o universo. Por convenção, cosmonauta é o viajante espacial da Roscosmos (a agência espacial federal russa), com o termo também valendo para a agência espacial soviética de antigamente.
Mas Robert Frost, treinador de astronautas da NASA, dá outra visão sobre a diferença entre os dois termos: ainda que ambos sejam funcionalmente equivalentes, eles diferem essencialmente por conta das diferentes filosofias operacionais entre ambas as agências espaciais (NASA e Roscosmos), que resultam em conjuntos de habilidades e áreas de conhecimento ligeiramente distintas.
Em suma, optar por chamar um astronauta russo de cosmonauta acaba sendo simplesmente um ato de respeito às diferenças entre Estados Unidos e Rússia, com os russos tendo uma longa história de voo espacial humano. A União Soviética enviou o primeiro humano ao espaço (Yuri Gagarin, em abril de 1961), enquanto o primeiro astronauta norte-americano a ser enviado para o espaço foi Alan Shepard, em maio do mesmo ano. Em junho de 1963, os soviéticos saíram à frente mais uma vez na Corrida Espacial, enviando a primeira mulher ao espaço (Valentina Tereshkova), enquanto os Estados Unidos só enviaram a primeira mulher astronauta para fora da Terra em junho de 1983 (Sally Ride).
Só que os EUA acabaram ficando como os grandes vencedores dessa batalha espacial ao enviar astronautas à superfície da Lua pela primeira vez, o que aconteceu em 1969 com a missão Apollo 11 — e se você duvida que isso tenha acontecido de verdade, o Canaltech tem uma matéria mostrando evidências e provas concretas de que o pouso do Homem na Lua não foi uma farsa muitíssimo bem elaborada pela NASA.
Ah, os cosmonautas também recebem condecorações e homenagens após suas missões, mantendo vivo o legado inaugurado por Gagarin.
Outros termos ao redor do mundo
Há outros sinônimos para “viajantes espaciais” adotados por outras nações além dos Estados Unidos e da Rússia. Na China, nação que também tem um programa espacial importante, usa-se o termo taikonauta, que é uma palavra híbrida derivada de “tàikōng”, que significa “espaço”. Esse termo surgiu em 1988, quando o país asiático começou a treinar tripulantes para naves espaciais, com o termo se popularizando internacionalmente em 2003, quando a China enviou ao espaço sua primeira nave tripulada — a Shenzhou 5. Yang Liwei, portanto, tornou-se o primeiro taikonauta da história.
Também existe o termo espaçonauta (spationaut, em inglês), adaptado do original francês spationaute. Da mesma maneira que os demais termos, é a junção de palavras que significam “espaço” e “navegante”, a partir da palavra latina “spatium”.
Ainda, existe o termo “angkasawan”, cunhado para descrever os participantes do Programa Espacial Angkasawan, que foi uma iniciativa do governo da Malásia para enviar um astronauta próprio à Estação Espacial Internacional (ISS). “Angkasawan” é um termo local que é sinônimo de “astronauta”, com Sheikh Muszaphar Shukor se tornando o primeiro malaio a ir para o espaço em outubro de 2007.
No Brasil, usa-se, por convenção, o termo “astronauta” mesmo, com Marcos Pontes (atual Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) sendo, por enquanto, o primeiro e único astronauta brasileiro que já visitou a ISS. Pontes partiu em março de 2006 e conduziu de oito experimentos científicos brasileiros no ambiente de microgravidade. Ele também foi o primeiro lusófono (ou seja, a primeira pessoa nativa de países cuja língua oficial é o português) a se tornar astronauta, bem como o primeiro homem do Hemisfério Sul a ir ao espaço.
Conclusão
Sendo assim, considerando todas as explicações acima, entende-se que chamar viajantes espaciais de “astronautas” é tecnicamente correto, independentemente de seu país de origem, uma vez que todos os termos próprios acabam significando a mesma coisa, semanticamente falando.
No entanto, por questão de respeito às diferenças culturais e políticas de cada nação, bem como a seu histórico na exploração espacial, é de bom tom chamar russos de cosmonautas e chineses de taikonautas — ainda que franceses não pareçam levar tão a sério o termo espaçonautas quanto Rússia e China o fazem com seus termos próprios.
Fonte: Canaltech