Cientistas do Brasil e da Tunísia identificaram uma molécula na saliva dos carrapatos com propriedades anticoagulantes. No futuro, a descoberta pode ser usada em novos remédios para quem tem distúrbios da coagulação sanguínea, como pessoas com problemas cardíacos.
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Publicado na revista científica Toxins, o estudo investigou as propriedades de uma molécula encontrada nas glândulas salivares da espécie Hyalomma dromedarii. Popularmente, o artrópode — que não é um inseto, mas sim um aracnídeo — é conhecido como carrapato de camelos do Deserto do Saara.
A pesquisa contou com a participação de cientistas do Instituto Butantan, da Universidade de Tunis El Manar e do Instituto Pasteur, sendo os dois últimos localizados na Tunísia.
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Por que pesquisar os carrapatos?
Pode parecer estranho um grupo de pesquisadores se interessar pelas propriedades da saliva de um carrapato, mas, na verdade, isso faz muito sentido e pode ser explicado pelos seus hábitos alimentares. Afinal, eles se alimentam de sangue e este não pode coagular.
“Para que possam se alimentar, eles precisam que o sangue do hospedeiro esteja fluido, por isso possuem moléculas com ação anticoagulante em sua saliva. Nós buscamos identificar essas moléculas para encontrar candidatos para o tratamento de doenças cardiovasculares, por exemplo”, explica Fernanda Faria, diretora do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação do Butantan e coordenadora do estudo.
Entenda a descoberta do possível anticoagulante
A molécula analisada no estudo se chama dromaserpina e é capaz de inibir o principal fator da coagulação no sangue, a trombina — uma proteína que atua na formação dos coágulos e interfere na agregação das plaquetas.
“Após selecionar a molécula para a pesquisa, nós fizemos a clonagem e a expressamos em bactérias. Depois, purificamos a molécula para caracterizar a sua estrutura e verificar a sua atividade em testes globais de coagulação sanguínea e seus fatores”, detalha a pesquisadora.
Em paralelo, o grupo de cientistas testou atividade da molécula na presença da heparina — um anticoagulante disponível há anos no mercado. “Existem evidências de que alguns inibidores de coagulação podem ser potencializados pela heparina. Foi o caso da dromaserpina: com a presença desse fármaco, a molécula apresentou uma atividade anticoagulante muito mais importante”, conta Faria.
A partir do mês de março, o objetivo do grupo será investigar a atividade da molécula do carrapato em células no laboratório (in vitro). Caso os resultados da próxima etapa sejam positivos, os testes em animais (pré-clínicos) devem começar no próximo ano.
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Fonte: Canaltech