Pablo Hoffmann, engenheiro florestal e diretor-executivo da ONG Sociedade Chauá, conquistou recentemente o Prêmio Whitley, popularmente chamado de “Oscar da Conservação”. Concedido pela instituição britânica filantrópica Whitley Fund for Nature (WFN), o prêmio representa uma grande conquista e, principalmente, o reconhecimento dos esforços que Pablo e seus colegas da ONG vêm empregando há anos para a conservação da floresta de araucárias na região sul do Brasil.
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Voltada para líderes no trabalho de conservação ambiental em todo o hemisfério sul, a premiação acontece anualmente e envolve uma série de etapas, que vão desde a inscrição do projeto desejado até entrevistas e envio de documentos. “Claro, está meu nome lá, mas é um prêmio para a instituição, para o trabalho que a gente desenvolveu”, ressaltou Pablo, em entrevista ao Canaltech. “Ninguém faz nada sozinho, isso é um trabalho de equipe”, disse.
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“Dá para dizer que as araucárias praticamente só existem com seu esplendor e características máximas de formação florestal nos estados do sul do Brasil”, explicou ele. Ele alerta que, originalmente, as araucárias (também conhecidas como “Pinheiros do Paraná”) cobriam cerca de 40% da área total do estado do Paraná.
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Hoje, remanescentes em boa qualidade, bem conservados, ocorrem em uma cobertura de área menor que 1%. A preocupação dele e de seus colegas com a degradação da floresta de araucárias é parte da dedicação à conservação, com raízes em algumas décadas no passado.
Décadas de preservação
Foi durante a graduação em engenharia ambiental na Universidade Federal do Paraná (UFPR) que Hoffman e seus amigos começaram a dar os primeiros passos no que se tornaria uma longa luta pelo meio ambiente. “A gente gostava muito de esportes de aventuras e da natureza, e alguém teve a ideia de fazer uma viagem de caiaque pelo litoral do Paraná e registrar a viagem com fotografias”, recordou.
A viagem rendeu uma série de fotos, que foram usadas em exposições. Motivados, eles perceberam que tinham potencial de fazer a diferença na conservação ambiental, e se envolveram em novas viagens e expedições; a ideia era registrar e divulgar não somente características interessantes, mas também os riscos dos ecossistemas (termo que descreve a rede de interações entre seres vivos e o meio ambiente) que visitaram. Ali, no fim da década de 1990, nascia o embrião do que se transformaria na Sociedade Chauá.
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A instituição foi formalizada somente em 2003. “Era uma oportunidade de fazer a diferença para conservar esses ecossistemas que a gente apreciava tanto, e aprecia até hoje”, disse ele. Naquele momento, o trabalho não contava mais somente com um grupo de amigos, mas sim uma equipe diversa, formada por estudantes, biólogos, engenheiros e até leigos interessados no assunto. Em 2005, eles decidiram criar um viveiro de plantas nativas.
Hoffman conta que, no começo, o viveiro era tímido, construído com alguns tijolos. “Coletamos algumas sementes e resolvemos começar o viveiro”, relembrou ele. “A partir dessa iniciativa, a gente viu que isso era um nicho importante, que era algo que poderia fazer a diferença na conservação”, explicou. Assim, pensando na degradação da floresta de araucárias, a instituição passou a empregar mais esforços no trabalho com o viveiro.
Os desafios do trabalho
A criação do viveiro foi um trabalho complexo que exigiu vontade e perseverança, mas os resultados vieram. “Começamos com um canteirinho que tinha 500 mudas, com 5 espécies; hoje, a gente tem um viveiro que produz cerca de 60 mil mudas por ano e tem entre 200 e 210 espécies, todas da floresta de araucária”, relatou o engenheiro. Atualmente, há pouquíssimos remanescentes da floresta original, e muito disso se deve a ciclos econômicos ocorridos na região.
Embora tenham contribuído para desenvolver e enriquecer o sul do país, o ciclo da erva-mate e outras atividades extrativistas causaram danos consideráveis no ecossistema das florestas ali. “Quando a gente pensa na conservação da araucária, tem que pensar que, junto dela, tem todo um ecossistema”, explicou. Juntas, outras árvores, plantas, animais, insetos e outros fazem o ecossistema funcionar, e pensar na conservação das araucárias é pensar também na conservação de todo o conjunto que compõe seu ecossistema.
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Logo no início do trabalho, eles notaram uma grande falta de informação sobre plantas nativas, ameaçadas de extinção; assim, eles próprios realizaram o levantamento delas. “Começamos a fazer uma lista das espécies ameaçadas de extinção no Paraná e fomos procurá-las; depois, a gente mapeou, coletou sementes, ia pro viveiro, fazia elas germinarem, fazia mudas para replantar”, contou, ressaltando que todo o trabalho foi feito com rigor científico e técnico.
Além destes desafios, há ainda as exigências particulares de cada espécie, afinal, algumas precisam de sol, e outras, de sombra; algumas pedem mais água, outras, menos. Eles também fazem o rastreamento das plantas coletadas, que incluem dados da data e local da coleta. “Em algumas áreas, a gente já tem indivíduos adultos produzindo frutos; isso é muito legal, mostra que seu trabalho frutificou — literalmente!”, comemorou, em entrevista ao Canaltech.
Futuro na conservação
Hoffman explica que a soma recebida por meio do Prêmio Whitley deverá ser usada no projeto que enviaram à instituição. Para isso, eles planejam ampliar o número de matrizes, de indivíduos, coletas e, quem sabe, do número de espécies. “Queremos continuar o que já fazemos, envolvendo mais pessoas e plantando mais mudas”, explicou.
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A equipe da Sociedade Chauá considera que estas são ideias e resultados interessantes para o projeto, mas que podem ir além. “Ter mais 10, 20 viveiros, produzindo mudas e se engajando, tendo mais diversidade tanto de espécies quanto de genética também seriam resultados fantásticos”, sugeriu Pablo. A restauração de qualidade em outras áreas, com alta diversidade de espécies, são desfechos excelentes, que fazem parte dos objetivos dos membros da instituição.
Além disso, eles têm também o objetivo de engajar 10 mil pessoas; a meta é ambiciosa e pode ser alcançada com a ajuda das redes sociais, proprietários rurais, universidades e outras instituições, com resultados significativos. “No fundo, as pessoas precisam conhecer e saber a função das plantas, dos animais e dos ecossistemas, para que elas possam considerar isso importante e gostar minimamente daquilo, amar aquilo e perceber a importância”, disse ele.
Pablo acredita que a comunicação será essencial para mais pessoas absorverem, entenderem e colocarem em prática as informações sobre a importância destes ecossistemas. “Desde que haja este entendimento — e é por meio da comunicação que vamos conseguir isso, espero —, podemos conseguir salvar uma espécie ou um ecossistema”, sugere. Mas ele deixa o alerta: “é só com a colaboração coletiva; caso contrário, não funciona”.
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Fonte: Canaltech