Nesta quarta-feira (17), um grupo de cientistas publicou um estudo inédito sobre o desenvolvimento de embriões de camundongos fora do útero materno, a partir de uma espécie de útero artificial. Nessas condições, foi possível observar que os embriões continuaram a se desenvolver, com órgãos que se formavam normalmente durante a embriogênese (o coração pulsava a uma velocidade normal de 170 batidas por minuto), em plena harmonia com os sistemas circulatório e nervoso.
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O experimento com os embriões de camundongos foi desenvolvido pelo Weizmann Institute of Science, em Israel, e publicado na revista científica Nature. O objetivo do estudo era ampliar a compreensão sobre o desenvolvimento de mamíferos e entender como mutações genéticas, nutrientes e condições ambientais podem afetar o feto.
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Duante os experimentos, os cientistas também inseriram nos embriões genes que indicavam os órgãos em crescimento com cores fluorescentes, como é possível observar na imagem acima.
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Como os camundongos cresceram no útero artificial?
De acordo com Dr. Jacob Hanna, um dos responsáveis pela pesquisa e membro do instituto israelense, os embriões dos camundongos já estavam na metade de seu desenvolvimento quando foram colocados no útero artificial. De forma geral, o tempo de gestação da espécie dura cerca de 20 dias, sendo que os primeiros cinco foram dentro da fêmea. Posteriormente, os embriões foram alocados na estrutura experimental. Até o momento, a equipe desenvolveu mais de mil embriões desta maneira.
No entanto, a pesquisa já avançou para além do que foi descrito no artigo, conforme apontou o jornal The New York Times, e a equipe de Hanna também conseguiu desenvolver, de forma direta, os óvulos fertilizados no útero artificial. Em outras palavras, o grupo retirou os óvulos fertilizados das fêmeas logo após a fertilização — algo como no dia zero de desenvolvimento — e os cultivou no útero artificial por 11 dias.
Até então, os pesquisadores só eram capazes de fertilizar óvulos de mamíferos em laboratório e cultivá-los por um curto período em ambientes artificiais, como esses ovários. Isso porque os embriões demandavam de um útero vivo e era difícil reproduzir essa complexidade de estímulos em um ambiente externo. Por exemplo, mamíferos placentários se desenvolvem presos ao útero materno, o que não aconteceu durante o experimento. Dessa forma, a maneira possível de estudar o desenvolvimento de tecidos e órgãos era em outras espécies — como vermes, sapos e moscas — que não precisam de útero.
Como superar as barreiras da placenta?
No entanto, o grupo de pesquisadores buscava uma forma de entrar no útero e ver, em tempo real, o desenvolvimento dos camundongos, o que só seria possível através de um útero artificial. Para isso, Hanna estudou por sete anos projetos que viabilizavam esse feito e chegou a um sistema de duas partes que inclui incubadoras, dutos para distribuição de nutrientes e um sistema de ventilação.
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Dessa forma, os embriões dos camundongos foram colocados em frascos de vidro dentro de incubadoras, onde flutuavam em um fluido especial, rico em nutrientes. Além disso, esses frascos foram afixados a uma roda que girava lentamente, impedindo que os embriões grudassem na parede e, eventualmente, se deformassem e morressem. E as incubadoras foram conectadas a uma máquina de ventilação para o fornecimento ativo de oxigênio e dióxido de carbono aos embriões, controlando também a concentração desses gases e a pressão.
No 11º dia de desenvolvimento, os pesquisadores examinaram os embriões, do tamanho de sementes de maçã, e os compararam com aqueles que se desenvolveram no útero de camundongos vivos. Segundo o grupo, os embriões estavam idênticos, exceto pelo tamanho. Os embriões criados em laboratório cresceram demais e precisavam de um suprimento extra de sangue para se manterem vivos. Os nutrientes disponíveis no líquido em que flutuavam não era mais o suficiente.
Agora, o próximo objetivo do estudo é superar esse obstáculo. Por enquanto, uma ideia é adotar uma solução nutritiva enriquecida ou um suprimento de sangue artificial que se conecte às placentas dos embriões. No futuro, a equipe espera realizar todo o procedimento dentro da estrutura artificial e os novos caminhos ampliarão a compreensão da gravidez humana, como o porquê de casos de aborto espontâneo.
Útero artificial em ação no desenvolvimento dos camundongos
A seguir, confira os embriões de camundongos em desenvolvimento, durante o experimento, fora do útero. No vídeo, é possível acompanhar a formação dos batimentos cardíacos e o desenvolvimento do sistema sanguíneo.
Para acessar o artigo completo sobre o desenvolvimento de camundongos em úteros artificiais, publicado na revista científica Nature, clique aqui.
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Fonte: Canaltech