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Hospital de SP regenera tecidos com bioimpressão 3D; assista à operação

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Hospital de SP regenera tecidos com bioimpressão 3D; assista à operação - 1

Para tratar lesões de pele e feridas complexas, uma equipe médica de São Paulo propõe uma técnica inovadora: a bioimpressão 3D de tecidos. Em 30 minutos, a bioimpressora sintetiza um novo tecido que será usado para repor a região lesionada — como um enxerto —, constituído a partir das células-troncos do próprio paciente.

Por enquanto, a técnica foi realizada em dois pacientes no Hospital Nove de Julho (SP), que pertence à rede de saúde integrada Dasa. Segundo a equipe médica, um dos indivíduos apresentava uma grave lesão decorrente de pé diabético — que em último caso, pode provocar a amputação do membro.

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Médicos brasileiros usam bioimpressora 3D para regenerar tecidos (Imagem: DragonImages/Envato Elements)

Enquanto isso, o outro paciente sofreu um acidente de carro, o que provocou feridas graves na pele, e foi selecionado para receber um enxerto bioimpresso. Em breve, a técnica poderá ser usada também em casos de queimaduras e de câncer de pele, com o tempo de cicatrização médio de 30 dias.


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A seguir, entenda como funciona todo o processo e confira vídeos do procedimento de bioimpressão 3D sendo realizado, disponibilizados pelo próprio hospital:

Como é feita a bioimpressão dos tecidos?

Na primeira etapa, a equipe de profissionais da saúde higieniza o tecido lesionado e, em seguida, um software faz uma imagem da região afetada e a envia para a bioimpressora. Este primeiro momento do processo pode ser conferido no vídeo abaixo, mas atenção: algumas pessoas podem considerar as cenas fortes, já que a ferida está aberta:

Após mapear a região que deve ser preenchida com o enxerto, a equipe médica retira tecido adiposo da região abdominal do próprio paciente e, em seguida, o material é microfiltrado. O objetivo é obter apenas as células-tronco do paciente e estas serão misturadas com cola natural de fibrina.

Aqui, é interessante observar que a “tinta” da impressora é constituída por um material genético autólogo, ou seja, do próprio paciente. Dessa forma, o risco de rejeição ao enxerto é significativamente menor do que seria para outro tipo de material.

Instalada dentro do próprio centro cirúrgico, a máquina começa a sintetização do tecido. Só que, neste momento, ela forma apenas uma base que receberá, posteriormente, as células-tronco do paciente. É importante destacar que todo novo tecido deve ser construído a partir de camadas sobrepostas. Veja como funciona esta etapa:

Agora sim: a última etapa de bioimpressão com as células-troncos do paciente começa. Como é possível observar, a seringa — que está preenchida pelo material avermelhado — contém as células do próprio paciente e, como contamos, será incluída no processo de fabricação do enxerto.

Por fim, o paciente passa pela operação de implante do enxerto e deve esperar por 30 dias até a cicatrização. Em tratamentos convencionais, o tempo de espera pode ser de seis meses e nem sempre os resultados terminam conforme o esperado.

“Apesar de o processo parecer simples, essa tecnologia abarca muitos avanços de última geração da medicina e da ciência. Ela une biotecnologia de alta qualidade com recursos computacionais e de inteligência artificial de ponta”, comenta o médico Heron Werner, coordenador do Biodesign Lab — fruto de uma parceria da Dasa com a PUC-Rio para o estudo de novas tecnologias.

Potencial do tratamento em diabéticos

“O potencial desta inovação é enorme. A reabilitação e a qualidade da regeneração são muito vantajosas para os pacientes, que recuperam a qualidade de vida. Além disso, a técnica é mais uma solução que os médicos ganham para alcançar um melhor desfecho clínico”, explica o médico Bruno Pinto, diretor-geral do Hospital Nove de Julho.

“Neste primeiro momento, vamos evitar muitas amputações, principalmente em pacientes portadores de pés diabéticos e com feridas de difícil tratamento”, acrescenta o médico Maurício Pozza, sócio-proprietário da 1000Medic — a empresa responsável por trazer a tecnologia ao país.

Amputações de pés e pernas no Brasil

Vale destacar que o problema das amputações em pacientes diabéticos é um grave problema da saúde no país e, por enquanto, tecnologias como a de bioimpressão 3D de enxertos têm alcance restrito.

Segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (Sbacv), mais de 245 mil brasileiros passaram por algum procedimento médico que envolvesse a amputação das pernas ou dos pés entre os anos de 2012 e 2021. A maioria destes casos está relacionada com o diabetes.

Em 2021, a média diária de amputações no Brasil foi estimada em 79,1. Isso significa afirmar que, a cada hora, pelo menos três brasileiros têm as pernas ou os pés amputados. Sem dúvidas, a demanda por novas tecnologias e soluções é mais que necessária.

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Fonte: Canaltech