Uma caverna siberiana providenciou à ciência a primeira família neandertal já encontrada na história — é a caverna de Chagyrskaya, nas montanhas Altai. Os indivíduos encontrados mostram altos sinais de endogamia, mas o fator mais interessante é que o grupo mostrou ser patrilocal, ou seja, os pais permaneciam no lugar onde nasceram e as mães vinham de outras populações. Não se sabe, no entanto, se a prática era comum aos neandertais ou apenas ao grupo em questão, que estava nos limites do alcance geográfico da espécie.
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Em 2010, o DNA dos Homo neanderthalensis foi sequenciado completamente, o que mudou nossa compreensão deles e da nossa própria espécie: a maioria dos Homo sapiens traz um pouco de genes neandertais no sangue, que trazem algumas vantagens e desvantagens, como maior resistência à covid-19, mas também a certos remédios. Desde então, os genomas de 16 neandertais europeus foram sequenciados, além de 2 mais antigos, da Sibéria, de épocas bem diferentes.
For the first time, scientists have been able to directly document the fabric of a Neanderthal family and community — making them seem much more human.
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Novos genomas e a família neandertal
Da caverna de Chagyrskaya, foram sequenciados 11 genomas, além de dois da caverna de Okladnikov, o que aumentou a quantidade de DNA já analisado por nós em 72%: do primeiro local, foi possível identificar diversas relações familiares, incluindo um pai e uma filha adolescente. Um provável primo de primeiro grau foi identificado, além de um par de prováveis primos ou avó e neto.
Também foi identificada a heteroplasmia, uma duplicação rara do DNA mitocôndrico que tende a desaparecer dentro de algumas gerações e que nos ajudou a entender que viveram juntos e provavelmente morreram juntos, talvez em uma forte tempestade, segundo especialistas.
O local fica a apenas alguns dias de caminhada da caverna de Denisova, onde o homem denisovano foi identificado pela primeira vez, mas os espécimes não tinham relação direta com seus parentes ancestrais — o que talvez fosse possível, dado que um dos denisovanos encontrados tinha mãe neandertal e pai denisovano.
O parentesco dos indivíduos de Chagyrskaya é mais próximo dos neandertais europeus, sugerindo que os neandertais de Altai se extinguiram e foram substituídos por migrantes de outras partes do continente. Eles habitaram a caverna em algum momento entre 59.000 e 51.000 anos atrás: nessa época, o mundo havia acabado de sair de uma parte especialmente fria da última Era do Gelo, que impeliu os neandertais à expansão, mesmo estando em um período muito mais frio do que o atual.
Embora pequena, Chagyrskaya fica acima de um vale por onde bisões, íbex e cavalos migravam, oferecendo muita comida aos neandertais, sendo um lugar convidativo. Na caverna, foram encontradas ferramentas de pedra e ossos de animais em números sem precedentes.
Endogamia e variedade genética
Ao comparar o DNA mitocondrial das mães com os cromossomos Y do neandertal macho, os cientistas encontraram muito mais diversidade: embora exista uma pequena possibilidade de que os machos pudessem ter dominado os aspectos reprodutivos da espécie, o mais provável é que houvessem sido patrilocais. Na maioria dos grupos humanos antigos e seus parentes ancestrais, como os gorilas, a mudança das mulheres entre comunidades era comum.
Quando um dos sexos muda de local, isso ajuda na diversidade genética, mas parece que os neandertais de Chagyrskaya não fizeram isso o suficiente, já que o nível de endogamia — pouca variedade genética que pode levar ao incesto e é produto dele — era similar ao de gorilas sob risco de extinção.
Embora isso não tenha causado a extinção dos H. neanderthalensis, também não ajudou em sua sobrevivência. O frio do local garantiu que o DNA tenha ficado preservado: não há registros de famílias de Homo sapiens da mesma época, já que viviam em regiões mais quentes, onde o material genético é degradado muito mais rapidamente.
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Fonte: Canaltech