Cientistas conseguiram montar uma linha do tempo histórica de proporções nunca antes vistas, demonstrando as migrações e a história dos povos que habitaram o Crescente Fértil, região da antiga Mesopotâmia considerada o “Berço da Civilização Ocidental”. A complexa e abrangente análise foi possível através do sequenciamento do DNA de 777 humanos da Idade Antiga.
- Arqueólogos voluntários encontram templo romano de 2.000 anos nos Países Baixos
- Conheça 10 das cidades mais antigas do mundo
Normalmente, sabemos acerca da história das populações e seus movimentos migratórios por registros históricos, tanto textos e arte quanto histórias orais. O problema é que relatos nunca são completamente acurados: a história, afinal, é escrita pelos vencedores, num dito popular que faz, sim, sentido científico. Com arqueologia, paleobiologia e sequenciamento de DNA, no entanto, fica difícil mentir.
O berço da civilização e as pesquisas
Publicada na revista científica Science, a enorme pesquisa teve a participação de mais de 200 co-autores em diversos países, um trabalho que, há apenas algumas décadas, seria considerado impossível. Muito dele, inclusive, foi realizado durante a pandemia da covid-19. Os genomas analisados partiram do Neolítico, de cerca de 10.000 a.C., até o período de dominação otomana da região, em cerca de 1.700 d.C.
–
Podcast Porta 101: a equipe do Canaltech discute quinzenalmente assuntos relevantes, curiosos, e muitas vezes polêmicos, relacionados ao mundo da tecnologia, internet e inovação. Não deixe de acompanhar.
–
Através do estudo da linguística, já era sabido que povos da Anatólia — região do oeste da Turquia — e da Europa eram relacionados pela linguagem, mas agora foi possível descobrir como isso aconteceu. Ao migrar das terras altas do oeste asiático, as populações contornaram as montanhas do Cáucaso, indo à Anatólia, no oeste, e às estepes, no norte, e delas aos Bálcãs e então de volta à Armênia.
Todas as línguas indo-europeias, com o estudo, podem ser conectadas por uma corrente de migrações a uma origem comum há 6.000 anos. A quantidade massiva de dados permitiu que três publicações fossem realizadas.
Uma delas trata da história genética do Arco Sul (outro nome para o Crescente Fértil), que analisou os anos de 5.000 a.C. a 1.000 a.C. e notou trocas de genes entre pessoas das estepes eurasianas e do arco sul. Isso revelou alguns insights sobre populações pastorais da estepe de Yamnaya e a possível origem da língua indo-europeia — ancestral linguística de diversas línguas, do grego ao latim, ao hindi e ao persa.
Mais uma publicação analisou o DNA de mesopotâmios e suas migrações em períodos pré-Neolítico Tardio e Neolítico Tardio (também chamado de Neolítico Cerâmico) à Anatólia. Eles acreditam que a região, que foi um epicentro de revoluções técnicas no período, recebeu migrações do Crescente Fértil em dois pulsos diferentes.
Outro estudo foca na história antiga e medieval da região, analisando populações como a romana, urartiana e micênica, cujos detalhes nunca foram bem entendidos pelos historiadores, mesmo tendo feito parte da história registrada — às vezes, faltam fontes e textos complementares.
Os dados abrem possibilidades para estudar as origens da população do Crescente Fértil ao longo da história de forma inédita. Ainda precisamos investigar o porquê das migrações e o que causou o sucesso de algumas línguas em detrimento de outras, segundo os cientistas.
Especialistas notam, no entanto, que é necessário cuidado nas interpretações e consciência de suas limitações: os estudos, por exemplo, mostraram uma visão eurocêntrica em relação aos achados, um problema que deve ser abordado em publicações futuras.
Trending no Canaltech:
- Nova vilã do Batman é obscena demais para ser adaptada no cinema
- Chevrolet confirma chegada do novo Bolt ao Brasil em setembro
- Queer Eye: Brasil | Quando estreia a versão nacional do reality show?
- Os tipos de câncer mais comuns em pessoas jovens
- 3 apps para organizar as figurinhas da Copa do Mundo 2022
Fonte: Canaltech