Embora raras, amizades entre diferentes espécies podem existir na natureza. É o que afirmam pesquisadores após analisarem a relação entre chipanzés e gorilas por 21 anos em uma reserva na Bacia do Congo. Os animais ocupam as mesmas árvores, se avisam sobre perigos na região e podem até comer juntos, dependendo do dia. Existem relatos de que os chipanzés mais jovens batem no peito como gorilas.
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Publicado na revista iScience, o estudo que apontou para esta amizade até então desconhecida entre chipanzés (Pan troglodytes) e gorilas (Gorilla gorilla e Gorilla beringei) foi liderado por pesquisadores da Wildlife Conservation Society, no Congo.
Vale lembrar que, na biologia, se falaria que as espécies vivem em simpatria. Isso significa que ocorrem na mesma área geográfica, encontram-se e, eventualmente, têm trocas, mas os autores do estudo defendem que há uma relação mais amigável — mesmo que o termo seja demasiado humano.
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Dá para usar a palavra amizade para falar na relação entre as espécies?
Entre 1999 e 2020, os pesquisadores observaram casos em que as espécies brigaram violentamente, mas estes encontros não eram a norma e não chegavam a ser fatais. “As relações interespécies que observamos foram extremamente tolerantes, frequentemente afiliativas [com vínculos] e consistentes ao longo de muitos anos”, explica Jake Funkhouser, da Universidade de Washington em St. Louis (WashU) e um dos autores do estudo, para a agência de notícias Mongabay.
“Ao considerar o vínculo duradouro entre gorilas e chimpanzés, então, sim, podemos pensar nesses relacionamentos como amizades”, acrescenta o pesquisador, justificando o uso do termo amizade.
Chipanzés e gorilas podem ser aliados na natureza
Segundo os autores do estudo, as relações entre os chipanzés e os gorilas se intensificam em três principais atividades:
- Busca por comida: gorilas seguiam os chipanzés para encontrar figos na floresta — esta é uma fruta bastante apreciada pelos animais, mas as figueiras são escassas.
- Alerta de invasores: as duas espécies respondem aos chamados de alarme para a presença de predadores, como os leopardos, o que amplia o radar para a detecção de ameaças;
- Comportamento: jovens chimpanzés batem no peito como gorilas. Anteriormente, o comportamento era registrado apenas em gorilas, mas pode ter sido aprendido devido ao longo tempo de convivência.
Desdobramentos da amizade improvável
A partir desse relato de amizade entre espécies, os autores sugerem que este pode ser um indicador de outra história para nossa formação e evolução enquanto humanos. “Se as observações de macacos não humanos são informativas sobre os comportamentos dos humanos arcaicos e modernos, então, nosso estudo sugere que essas interações, provavelmente, teriam ocorrido em contextos sociais tolerantes”, explicam os pesquisadores.
Em outras palavras, os diferentes hominídeos podem ter convivido mais em harmonia do que em brigas constantes, como se pensava. Inclusive, isto justificaria a existência de nossos genes neandertais, por exemplo. Só que, hoje, esta é apenas uma hipótese.
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Fonte: Canaltech