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Pães mumificados da Segunda Guerra Mundial são encontrados na Bahia

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Pães mumificados da Segunda Guerra Mundial são encontrados na Bahia - 1

Em um sítio arqueológico da Bahia, com ligações com a Segunda Guerra Mundial, foram encontrados pães mumificados “sem querer”. Os responsáveis pelo achado são pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que estudavam outros artefatos arqueológicos da região, mas que devem relatar suas análises dos alimentos preservados em um livro a ser publicado nos próximos meses.

Nos primeiros mapeamentos da região, em 2015, o arqueólogo Gilmar D’Oliveira encontrou cerâmicas, louças e objetos de vidro. Como os itens simples não chamavam muita atenção do ponto de vista científico, deixou-se para escavar a região no futuro. A cidade de Campo Formoso, na Bahia, já era objeto de estudo de D’Oliveira desde 2007, quando foi ao local estudar sítios de pintura rupestre.

Como os pães da Bahia se mumificaram?

Hoje abrigando mais este sítio arqueológico, Campo Formoso já foi lar de um garimpo de quartzo, que esteve em operação até 1942. O município fica a 406 km da capital do estado, Salvador, e tem mais 26 sítios arqueológicos inclusos no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).


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Da esquerda para a direita, os arqueólogos Gilmar Silva, Cristiana Santana (coordenadora da pesquisa) e Joyce Avelino analisam os pães mumificados (Imagem: LAP/Campus VII/Divulgação)
Da esquerda para a direita, os arqueólogos Gilmar Silva, Cristiana Santana (coordenadora da pesquisa) e Joyce Avelino analisam os pães mumificados (Imagem: LAP/Campus VII/Divulgação)

Da mina, os cristais de quartzo eram enviados aos Estados Unidos, país ao qual o Brasil se aliou na Segunda Guerra Mundial, e passavam a ser usados na produção de radiocomunicadores, dos quais são matéria-prima.

Os cientistas não sabiam que a região teve um garimpo, já que costumam encontrar sítios coloniais em suas pesquisas. Foi quando um local os informou disso que as escavações começaram, em 2016, revelando os pães — um inteiro e um pela metade. Ambos se encontravam sob os escombros da antiga padaria da comunidade, única construção feita com tijolos na época.

Os alimentos foram preservados através de uma mumificação natural, por conta de desidratação. Queimados no forno sem querer, eles foram descartados nas cinzas, que conseguiram dissecá-los e conservá-los por 80 anos.

O normal é que restos de comida acabem se decompondo, então seu processo de mumificação é bastante raro — geralmente, o que sobra de vestígios de alimento são sementes. Pães, moles e que se decompõe com facilidade, são ainda mais incomuns, e nunca haviam sido encontrados no Brasil. A única descoberta comparável ocorreu na Alemanha, quando, em 2021, um bolo de avelã com amêndoas do mesmo período foi encontrado.

Local onde ficava a antiga padaria do Garimpo Prateado, em Campo Formoso, onde foram encontrados os pães mumificados (Imagem: LAP/Campus VII/Divulgação)
Local onde ficava a antiga padaria do Garimpo Prateado, em Campo Formoso, onde foram encontrados os pães mumificados (Imagem: LAP/Campus VII/Divulgação)

Segundo os cientistas, os pães são parecidos com os “pães de cesto” ou “pães amassados com os pés”, tipicamente fabricados na Bahia. Os restos de alimento preservados são menores, no entanto, já que a desidratação modifica seu volume. Quem escavou a região e encontrou os artefatos foi a arqueóloga Joyce Santana, que relatou ter se surpreendido com a descoberta, mas demorado para descobrir sua importância. Foi em laboratório que isso se revelou.

Os objetos do sítio foram levados ao Laboratório de Arqueologia e Paleontologia do Campus VII da UNEB, em Senhor do Bonfim. Para evitar que se decompunham, os pães são mantidos em um ambiente parecido com o que foram encontrados — com cinzas e restos dos escombros da padaria antiga. Próximo a onde o estabelecimento ficava, também foi encontrado um cemitério, identificado por ondulações e outras dicas do terreno, já que não há lápides.

Como faz apenas 8 décadas que o local está intocado, não há como saber se microorganismos ainda estão presentes, então escavações não deverão ser feitas no cemitério por enquanto. Na primeira fase da pesquisa, foram coletadas memórias do Garimpo Prateado, que teve as atividades interrompidas por um surto de meningite, que vitimou dezenas de pessoas.

Dois mineradores que trabalharam no local foram entrevistados e relataram a vida local. As casas eram de palha e não tinham saneamento, o que ajudou a propagar a doença. Quando o garimpo foi fechado, o trabalho nas roças foi retomado, principalmente na criação de cabras. Os relatos e os artefatos encontrados pelos arqueólogos são, por enquanto, os únicos registros de tais eventos.

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Fonte: Canaltech