No começo deste mês, o Reino Unido se tornou o primeiro país a aprovar o antiviral contra a covid-19. Desenvolvido pela farmacêutica norte-americana MSD, também conhecida como Merck, o tratamento pode ser um “divisor de águas” para pessoas imunossuprimidas ou com comorbidades, já que é receitado para impedir o agravamento da infecção causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Estudos também avaliam o uso da pílula para a prevenção da doença.
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Em paralelo a essa aprovação do Reino Unido, a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), também analisa um pedido de uso emergencial do molnupiravir. Por enquanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recebeu nenhum pedido para a análise do uso deste antiviral no Brasil.
No entanto, parte dos dados do molnupiravir enviados para as agências regulatórias internacionais foram coletados no Brasil, onde um estudo concluiu os benefícios da medicação oral contra o coronavírus. Hoje, uma segunda pesquisa investiga a sua capacidade em prevenir a doença, quando há risco de alta exposição ao vírus.
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Afinal, o que é o molnupiravir?
Antes de seguirmos, vale explicar que o molnupiravir é um antiviral, ou seja, um remédio que age contra vírus. Inclusive, os estudos e o desenvolvimento surgiram antes do aparecimento da covid-19. No caso do coronavírus, a medicação age no organismo, atrapalhando a replicação viral. Nesse momento, o agente infeccioso tem maior dificuldade em se replicar, o que diminui sua concentração no organismo do paciente e faz com que a possível infecção perca força.
De acordo com os dados disponíveis até agora, o medicamento é mais eficaz se tomado nos estágios iniciais da infecção, reduzindo pela metade o risco de morte e hospitalização de pacientes com alguma probabilidade de desenvolverem quadros graves da doença. Para alcançar esse objetivo, o uso recomendado da medicação é de 5 dias, logo que se descobre a possibilidade da infecção e não demanda de hospitalização — e pode ser feito em casa.
Entre os fatores de risco que justificam o uso do antiviral estão: idade avançada, obesidade, diabetes mellitus, doenças do coração ou outra comorbidade, por exemplo.
Testes da pílula contra a covid-19 no Brasil
Para entender o cenário da pesquisa brasileira, o Canaltech conversou com a infectologista Monica Gomes, do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR/Rede Ebserh). “Nós, no HC, tivemos um papel bastante importante, porque fomos o centro que mais incluiu pacientes no Brasil e o segundo maior de inclusão do mundo”, conta Gomes sobre o estudo já concluído e compartilhado com as agências regulatórias internacionais.
A pesquisa “avaliou o uso do medicamento em comparação com o uso do placebo em pessoas que tinham covid-19 leve ou moderada e pelo menos um fator de risco para gravidade”, explica Gomes. Foram incluídas apenas pessoas não vacinadas.
O medicamento era usado em até 5 dias do aparecimento dos sintomas da covid-19 e por outros 5 dias de medicação.”Acompanhávamos os pacientes mais proximamente por 29 dias para observar se havia ocorrência de hospitalização ou morte”, conta a infectologista.
“Esse estudo mostrou que houve 50% de redução na taxa de hospitalização dos pacientes que usaram o molnupiravir em relação ao placebo. Em um cenário de aproximadamente 700 pessoas, houve 14% de hospitalização em quem tomou placebo e 7% em quem tomou molnupiravir”, detalha Gomes.
Além disso, “existem outros dados que mostram que o uso do medicamento reduz a quantidade de vírus na via respiratória e isso, provavelmente, tem um potencial não só de diminuição da gravidade da doença, mas também de menor transmissão para as pessoas que estão em volta daquela com covid-19 em tratamento”, explica.
Remédio também previne a covid-19?
Em uma nova pesquisa do molnupiravir, “o medicamento, agora, vai ser estudo para a prevenção das pessoas que não têm covid-19. Por exemplo, pessoas que não tenham covid, mas morem com alguém que tenha”, conta Gomes. Nesse novo estudo, o Complexo Hospital de Clínicas não estará envolvido. No entanto, a infectologista adianta: “O estudo pode demonstrar que o medicamento pode ser usado como prevenção e não apenas tratamento da covid”.
A nova pesquisa, de Fase 3, é liderada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na qual seria avaliada a eficácia e a segurança do uso profilático pós-exposição (PEP). Os participantes receberão o tratamento ou o placebo, sem saber em qual grupo estão, durante cinco dias. O acompanhamento dos pesquisadores será feito, no total, por 29 dias. Ao final, será possível estabelecer a segurança e a eficácia do remédio na prevenção da doença.
Produção brasileira do antiviral e de genéricos
Caso a Anvisa comprove eficácia e a segurança do molnupiravir, o potencial remédio contra a covid-19 poderá ser produzido no Brasil. Isso porque a Fiocruz está em “conversas avançadas” com a farmacêutica norte-americana MSD para a fabricação, segundo informações divulgadas em outubro.
“A Fiocruz tem acompanhado diversos projetos candidatos para o tratamento da covid-19”, explicou a fundação em nota. “Os projetos enviados à fundação passam por avaliação de uma comissão técnica criada para essa finalidade com o objetivo de avaliar os resultados preliminares e a tecnologia de produção”, completou.
Se todo o processo correr conforme o planejado, a ideia é fabricar o remédio contra a covid-19 no Instituto de Tecnologia em Fármacos, conhecido como Farmanguinhos, no Rio de Janeiro, onde também são feitas as vacinas.
Versão genérica do remédio
Em paralelo, a farmacêutica MSD anunciou uma medida histórica: não receberá royalties pelas vendas do molnupiravir em determinadas localidades, enquanto o mundo enfrentar a pandemia do coronavírus SARS-CoV-2. Para isso, a empresa autorizará que países de menor renda produzam versões genéricas do medicamento.
No final de outubro, a MSD concedeu uma licença isenta de royalties a uma organização sem fins lucrativos apoiada pelas Nações Unidas, a Medicines Patent Pool. A ideia é que o medicamento para casos leves e moderados da covid-19 seja fabricado e vendido a baixo custo nas nações mais pobres, onde as vacinas ainda não chegam de forma adequada.
O acordo da farmacêutica com a Medicines Patent Pool permitirá que empresas de 105 países, principalmente da África e da Ásia, sublicenciem a formulação da pílula antiviral e, dessa forma, consigam produzir nacionalmente o medicamento.
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Fonte: Canaltech