Não faltam afirmações de que as redes sociais fazem mal aos adolescentes. No entanto, um estudo publicado na edição de julho da revista científica Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America aponta que forçar esse público a sair da internet não é eficaz — tampouco possível. A ideia de estabelecer horários livres das redes pode ser mais benéfica.
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O estudo encontra prós e contras no uso de mídia social por jovens e diferenças em ambos entre diversos grupos demográficos, mas destaca que, em geral, as evidências que sustentam a hipótese de que o uso de mídias sociais pode prejudicar a saúde mental dos jovens são correlacionais e fracas, assim como as evidências que sustentam a hipótese de que o uso de mídias sociais pode ser benéfico.
A questão é que, conforme apresentado no artigo, a maneira com a qual o uso da mídia social afeta um adolescente em particular pode depender de uma mistura de fatores biológicos, psicológicos, sociais e relacionados à própria mídia social.
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Os responsáveis pelo artigo encontraram evidências de que a terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia de aceitação e compromisso (ACT), o desenvolvimento de habilidades sociais, o aconselhamento em grupo e os esportes são valiosos para tratar jovens cujo uso de mídia social é problemático.
A pesquisa também destaca níveis mais altos de atendimento, como programas residenciais, de internação, de visitação de áreas selvagens e clínicas multidisciplinares como opções viáveis na solução de eventuais problemas.
Como lidar com adolescentes e as redes sociais?
Em entrevista ao Canaltech, o autor do estudo, Paul Croarkin, explica que a forma como nos comunicamos mudou drasticamente nos últimos 10 a 20 anos e continuará a mudar nos próximos. Em seu ponto de vista, a mídia social pode ter efeitos positivos para os adolescentes em termos de apoio, conexão e comunicação.
Segundo o estudo, o YouTube é atualmente a plataforma de mídia social mais usada por adolescentes de 13 a 17 anos (95% já usaram o Youtube), seguido pelo TikTok (67%) e Instagram (32%). As tendências de uso da Internet mostram um aumento de 24% dos adolescentes endossando o uso quase constante da Internet de 2014 a 2015 para 46% em 2022.
Questionado sobre como os pais podem lidar com adolescentes e as redes sociais, o especialista sugere: “Arranje tempo e crie espaço para acompanhar como seu filho adolescente usa a mídia social. Quanto tempo eles estão gastando em plataformas de mídia social? Como eles as usam? Como isso afeta suas emoções e comportamentos? Eduque-se e reeduque-se com frequência sobre as plataformas de mídia social”.

Croarkin acrescenta que essas plataformas evoluem e mudam rapidamente, e recomenda discutir e trabalhar nisso como uma família. “É útil desenvolver uma tecnologia familiar e um plano de mídia social. O importante é criar uma regra clara e consistente do tempo de uso de tecnologia e redes sociais em família. Seja gentil consigo mesmo como pai ou mãe, pois isso é muito desafiador, mas também desenvolva consciência e atenção ao seu próprio comportamento com as mídias sociais e a tecnologia. Isso é particularmente importante quando seus filhos são pequenos, pois eles aprenderão com seus comportamentos”, orienta o pesquisador.
Mas então, por quanto tempo é seguro deixar um adolescente mexer no celular? Segundo o médico, estabelecer um período por dia é importante, mas apenas um fator dentre vários a se considerar. Também é importante entender a qualidade e a natureza do uso de plataformas sociais por um adolescente (se é positivo ou negativo). “No entanto, em geral, a maioria das diretrizes recomenda um máximo de 2 a 3 horas por dia”, afirma o especialista.
Redes sociais afetam cérebros em desenvolvimento?
Quando se trata de adolescência, o estudo alerta que o desenvolvimento incompleto dos córtices pré-frontal e parietal envolvidos no funcionamento executivo e nas redes regulatórias emocionais pode resultar em adolescentes mais vulneráveis ao conteúdo emocional da mídia social e ao seu potencial negativo. Em outras palavras, os jovens podem ter compreensões negativas sobre determinados assuntos comentados nas redes.
“O desenvolvimento do cérebro está em andamento durante a adolescência. Este é um período de grande risco, mas também de grandes oportunidades. Pensamos em problemas mentais e neurológicos como um só, pois ambos envolvem o cérebro”, aponta o autor do estudo. “As principais preocupações são os riscos de depressão, impulsividade, ansiedade, automutilação e suicídio”, completa Croarkin.
Redes sociais: fatores biológicos, psicológicos e sociais
Segundo o médico, os adolescentes estão passando por rápidas mudanças neurobiológicas e de personalidade. Ele explica que o córtex pré-frontal é uma importante área do cérebro que tem muitas funções, mas serve como “freio” para impulsos e más decisões.
“Essa área do cérebro se desenvolve ao longo da adolescência. As relações sociais são fundamentais para os adolescentes e os ambientes digitais são uma parte importante disso. Existem preocupações e pesquisas contínuas que sugerem que as adolescentes podem ter estressores e vulnerabilidades únicos relacionados às mídias sociais”, expõe o autor.
Por fim, o especialista orienta considerar quanto tempo é gasto nas redes sociais e quão fácil ou difícil é para um adolescente parar de usar para realizar outras atividades. “É importante considerar os outros comportamentos e sintomas do adolescente. Existem mudanças negativas de humor, diminuição do interesse em outras atividades, diminuição do desempenho acadêmico, decisões impulsivas, irritabilidade, pensamentos sombrios ou discussão de pensamentos suicidas?”, propõe, como reflexão para pais ou responsáveis, antes de definirem um tempo limite ou cercear o adolescente quanto ao uso da internet.
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Fonte: Canaltech