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Estudo em engenho de São Tomé e Príncipe revela origem do sistema de plantation

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Estudo em engenho de São Tomé e Príncipe revela origem do sistema de plantation - 1

A primeira pesquisa arqueológica já realizada na ilha de São Tomé, na costa da África, revelou o envolvimento do país de São Tomé e Príncipe na concepção do sistema econômico plantation, que foi exportado para as Américas e predominou no Brasil, Caribe e diversos outros locais no norte e sul do continente.

Na década de 1530, a colônia portuguesa de São Tomé era a maior produtora de cana de açúcar do mundo. Essa monocultura, junto ao trabalho de africanos escravizados, ditou o modelo que seria utilizado para a expansão econômica da metrópole pelo Atlântico. O sucesso da ilha, no entanto, foi curto, já que o açúcar produzido era de baixa qualidade em comparação ao sucesso da colônia brasileira, e as insurreições de escravizados, frequentes.

O engenho da Praia Melão, em São Tomé, que abrigou as origens do sistema de plantations usado futuramente no Brasil — vista sudeste (Imagem: M. Dores Cruz et al./Antiquity)
O engenho da Praia Melão, em São Tomé, que abrigou as origens do sistema de plantations usado futuramente no Brasil — vista sudeste (Imagem: M. Dores Cruz et al./Antiquity)

No início do século XVII, os lucros gerados em São Tomé minguaram e os donos de terra já haviam migrado para o Brasil, deixando a origem do modelo econômico esquecida. Apesar da ilha de ter sido importante para a história do mundo atlântico moderno, até hoje as pesquisas históricas e arqueológicas focaram principalmente no Caribe e nas Américas do Sul e do Norte.


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Segundo os pesquisadores, São Tomé foi um ponto de ligação importante entre a Europa e a África, mas a falta de pesquisas ocultou a importância do arquipélago na história das colônias e suas contrapartes modernas e da escravidão das plantations. Com a pesquisa recente, isso está sendo mudado.

As plantations de São Tomé

O estudo foi liderado por M. Dores Cruz, da Universidade de Colônia e do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, que levou uma equipe até a Praia Melão, o maior engenho de cana de açúcar e propriedade do século XVI. O tamanho da construção já evidencia que um grande número de escravizados foi empregado no local, especialmente no salão principal, onde o engenho era operado e o açúcar era fervido.

Acesso ao segundo andar e entalhes no engenho — na imagem do canto inferior direito, evidências de queima (Imagem: M. Dores Cruz et al./Antiquity)
Acesso ao segundo andar e entalhes no engenho — na imagem do canto inferior direito, evidências de queima (Imagem: M. Dores Cruz et al./Antiquity)

Também construída pelos escravizados, a estrutura apresenta janelas enormes, feitas para facilitar a visão das áreas de trabalho e consequente monitoramento dos trabalhadores.

Moldes de cerâmica para o açúcar são comuns no sítio arqueológico, espalhados pelo chão e embutidos nas paredes. Com fluorescência de raios-x, técnica usada para descobrir a composição elemental de materiais, foi possível descobrir sua origem. Três cacos de moldes foram analisados e revelaram ter vindo da região de Aveiro-Ovar, em Portugal, que era um grande centro de produção de cerâmica à época.

O aspecto mais importante da pesquisa, enfim, foi a demonstração das origens do sistema econômico aplicado mais tarde nas Américas, especialmente as conexões de longa distância necessárias para garantir seu sucesso. O estudo traz implicações muito grandes para o entendimento da história colonial do continente.

Reconstrução arquitetônica do engenho de São Tomé, mostrando como teria sido a construção à época de seu uso (Imagem: Luís Branco, M. Dores Cruz et al./Antiquity)
Reconstrução arquitetônica do engenho de São Tomé, mostrando como teria sido a construção à época de seu uso (Imagem: Luís Branco, M. Dores Cruz et al./Antiquity)

Segundo os pesquisadores, é preciso seguir fazendo investigações arqueológicas no local e em outros sítios pouco estudados, garantindo a proteção e evitando perder heranças culturais do passado. No caso do engenho de Praia Melão, o ambiente tropical, vegetação crescente, desenvolvimento econômico da região e potenciais impactos humanos aumentam os riscos de destruição do sítio arqueológico, tornando importantes os esforços de proteção e pesquisas seguintes.

O local sobreviveu por 400 anos, sendo adaptado para a produção para álcool e farinha de mandioca, e é bom que esforços para manter esse patrimônio em pé sigam sendo feitos — mesmo que tais esforços consistam do enterro de escavações e partes da construção.

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Fonte: Canaltech