A primeira pesquisa arqueológica já realizada na ilha de São Tomé, na costa da África, revelou o envolvimento do país de São Tomé e Príncipe na concepção do sistema econômico plantation, que foi exportado para as Américas e predominou no Brasil, Caribe e diversos outros locais no norte e sul do continente.
- Destroços de navio negreiro de 1852 são encontrados em Angra dos Reis
- Sítio arqueológico descoberto no Sertão da Paraíba pode ser o maior do estado
Na década de 1530, a colônia portuguesa de São Tomé era a maior produtora de cana de açúcar do mundo. Essa monocultura, junto ao trabalho de africanos escravizados, ditou o modelo que seria utilizado para a expansão econômica da metrópole pelo Atlântico. O sucesso da ilha, no entanto, foi curto, já que o açúcar produzido era de baixa qualidade em comparação ao sucesso da colônia brasileira, e as insurreições de escravizados, frequentes.
No início do século XVII, os lucros gerados em São Tomé minguaram e os donos de terra já haviam migrado para o Brasil, deixando a origem do modelo econômico esquecida. Apesar da ilha de ter sido importante para a história do mundo atlântico moderno, até hoje as pesquisas históricas e arqueológicas focaram principalmente no Caribe e nas Américas do Sul e do Norte.
–
CT no Flipboard: você já pode assinar gratuitamente as revistas Canaltech no Flipboard do iOS e Android e acompanhar todas as notícias em seu agregador de notícias favorito.
–
Segundo os pesquisadores, São Tomé foi um ponto de ligação importante entre a Europa e a África, mas a falta de pesquisas ocultou a importância do arquipélago na história das colônias e suas contrapartes modernas e da escravidão das plantations. Com a pesquisa recente, isso está sendo mudado.
As plantations de São Tomé
O estudo foi liderado por M. Dores Cruz, da Universidade de Colônia e do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, que levou uma equipe até a Praia Melão, o maior engenho de cana de açúcar e propriedade do século XVI. O tamanho da construção já evidencia que um grande número de escravizados foi empregado no local, especialmente no salão principal, onde o engenho era operado e o açúcar era fervido.
Também construída pelos escravizados, a estrutura apresenta janelas enormes, feitas para facilitar a visão das áreas de trabalho e consequente monitoramento dos trabalhadores.
Moldes de cerâmica para o açúcar são comuns no sítio arqueológico, espalhados pelo chão e embutidos nas paredes. Com fluorescência de raios-x, técnica usada para descobrir a composição elemental de materiais, foi possível descobrir sua origem. Três cacos de moldes foram analisados e revelaram ter vindo da região de Aveiro-Ovar, em Portugal, que era um grande centro de produção de cerâmica à época.
O aspecto mais importante da pesquisa, enfim, foi a demonstração das origens do sistema econômico aplicado mais tarde nas Américas, especialmente as conexões de longa distância necessárias para garantir seu sucesso. O estudo traz implicações muito grandes para o entendimento da história colonial do continente.
Segundo os pesquisadores, é preciso seguir fazendo investigações arqueológicas no local e em outros sítios pouco estudados, garantindo a proteção e evitando perder heranças culturais do passado. No caso do engenho de Praia Melão, o ambiente tropical, vegetação crescente, desenvolvimento econômico da região e potenciais impactos humanos aumentam os riscos de destruição do sítio arqueológico, tornando importantes os esforços de proteção e pesquisas seguintes.
O local sobreviveu por 400 anos, sendo adaptado para a produção para álcool e farinha de mandioca, e é bom que esforços para manter esse patrimônio em pé sigam sendo feitos — mesmo que tais esforços consistam do enterro de escavações e partes da construção.
Trending no Canaltech:
- Elon Musk cogita trocar luta com Mark Zuckerberg por debate verbal
- Instagram caiu? Usuários reclamam que não conseguem fazer login
- OMS atualiza definição sobre o que é uma dieta saudável
- 10 referências e easter eggs em Thor: Amor e Trovão
- 5 séries de ação brasileiras para ver no streaming
- Disney+ quer acabar com compartilhamento de senhas
Fonte: Canaltech