O Brasil tem enfrentado uma série de desastres ambientais que tem despertado a atenção para a crise climática. Secas na Amazônia e enchentes no sul do país têm causado impactos significativos. No entanto, apesar de reconhecer a relação desses eventos com o aquecimento global e adotar o discurso da descarbonização, o governo brasileiro está agindo de forma contraditória. O professor Philip Fearnside aponta que, fora do Ministério do Meio Ambiente, o governo tem tomado medidas que aumentam as emissões, como a abertura de novos campos de exploração de petróleo e gás e a expansão dos já existentes.
Em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, Fearnside analisa os efeitos das enchentes e secas no Brasil. Ele destaca que esses desastres costumam resultar em migração, como no caso das secas no nordeste que levaram populações a se deslocarem para o sudeste e para a Amazônia. Além dos impactos imediatos sobre as pessoas e o meio ambiente, esses eventos podem desencadear um êxodo populacional em determinadas regiões.
No caso específico da Amazônia, Fearnside alerta que a seca prolongada em 2024 aumentará o risco de incêndios e morte de árvores devido à combinação de falta de água e altas temperaturas. Essas consequências terão impacto não apenas no clima do Brasil, mas também em toda a região sul do continente. O professor lamenta a falta de ação prática por parte do poder público, destacando que as medidas adotadas até o momento, como o combate ao desmatamento ilegal pelo Ibama, são importantes, mas insuficientes para enfrentar a crise climática.
Fearnside é um renomado pesquisador, formado em Biologia pelo Colorado College e doutor em Ciências Biológicas pela University of Michigan. Ele é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA e já recebeu diversos prêmios na área de meio ambiente. Sua produção científica é amplamente reconhecida internacionalmente.
Diante desse cenário preocupante, é fundamental que o Brasil adote medidas efetivas para enfrentar a crise climática. Fearnside ressalta a importância de parar de construir estradas na Amazônia, como a BR-319, e de cancelar projetos que levam ao desmatamento e às emissões de gases poluentes. Além disso, o país deve reduzir o uso de combustíveis fósseis e investir em fontes de energia renovável, como a solar e eólica.
A transição energética não é apenas uma questão de mitigar os efeitos da crise climática, mas sim uma questão de sobrevivência. É preciso abandonar os combustíveis fósseis e implementar políticas que promovam uma transição para uma matriz energética mais limpa e sustentável.
Nesse contexto, a Conferência das Partes (COP28) se torna ainda mais relevante. É fundamental que o Brasil assuma um compromisso real de combate às mudanças climáticas e pare de usar combustíveis fósseis. A ascensão da China como uma potência mundial também pode ter impactos significativos nas ações globais sobre o clima, uma vez que tanto a China quanto os Estados Unidos são os maiores emissores de gases do efeito estufa.
Diante dos desafios que se apresentam, é necessário que o Brasil adote medidas urgentes e efetivas para enfrentar a crise climática. A proteção do meio ambiente e a busca por soluções sustentáveis devem ser prioridades do governo e da sociedade como um todo. Somente assim poderemos garantir um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações.