O Grêmio, pela terceira vez em sua história, está rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro. E a queda em 2021 não aconteceu por acaso. Aliás, foi muito merecida por todo o descaso imprimido pela atual direção ao futebol do clube. A temporada que está se encerrando foi uma verdadeira aberração em termos de administração do principal departamento da instituição -e aqui não vou falar do que aconteceu ao longo do ano passado, pois chega a ser intragável a forma como se decidiu pela saída de diversos profissionais de reconhecida capacidade.
Tudo começou quando, antes mesmo da final da Copa do Brasil referente a 2020, o presidente Romildo Bolzan Júnior, acreditando no poder supremo de uma parceria que havia sido histórica, mas que já não dava mais frutos, renovou contrato com o técnico Renato Portaluppi sem mesmo saber o cenário que se teria pela frente. Não que o treinador não fosse uma referência (pelo contrário), mas já perdia força por conta da queda de rendimento do time e precisava de um suporte político para seguir dando as cartas sem, todavia, ter as chaves do centro de treinamento só para ele.
É claro que não deu certo, e Romildo, algumas semanas depois, não teve cacife para segurar Renato em função da eliminação na pré-Libertadores. Vale lembrar, no entanto, que em meio a tudo isso o presidente havia abdicado de ter um vice-presidente de futebol efetivo, fazendo descer ao vestiário o CEO Carlos Amodeo (figura de pouco agrado do grupo, como Kannemann já havia dado a letra), e também não fez questão de ir atrás de um executivo. O que aconteceu? Um integrante do Conselho de Administração (no caso, Cláudio Oderich) chiou, e a comissão técnica foi desfeita – afinal, era mais importante se ter o apoio político do que manter convicções. Como curiosidade, nomes indicados pelo comandante anterior, como Rafinha, sequer haviam estreado.
O que se planejou ruiu. Se foi atrás de um vice de futebol, mas antes já se começou a busca por um treinador. Ou seja, se inverteu a ordem natural dos fatos. O presidente, a todo custo, convenceu seu parceiro de direção, Marcos Herrmann, a assumir o futebol – era o terceiro nome seguido no cargo oriundo da chapa eleita -, e não demorou muito para Tiago Nunes chegar como treinador. O início, é verdade, foi promissor, com uma sequência de resultados e atuações até convincentes, que culminaram na conquista do Gauchão.
Só que a soberba, mais uma vez, apareceu. Todos falavam em alto e bom som sobre a qualidade do plantel, mas ninguém percebia a acomodação natural de alguns nomes e também que lacunas se formavam com algumas saídas. No Brasileirão, o show de horrores começou cedo, uma vez que o time jamais conseguiu figurar fora do Z-4, exceção feita à primeira rodada. No entanto, parecia não haver coragem para mudar tudo mais uma vez. Em meio ao caos, Diego Cerri foi escolhido como executivo, mas sem poder algum.
Em uma quase derradeira tentativa de alterar o quadro que todo mundo enxergava, mas que a direção reiterava ser algo passageiro, foi-se ao mercado comprar jogadores de seleção – sim, no meio do ano -, e a escolha de Luiz Felipe Scolari era tida como a salvação da lavoura, desde que tivesse autonomia para fazer as mudanças necessárias do plantel. Claro que não ganhou isso, e os dirigentes preferiram ficar ao lado dos jogadores e não bancaram a ideia do comandante. Mais uma demissão, seguida quase que automaticamente do pedido de desligamento de Herrmann.
Já era outubro, e Romildo precisou apelar para gente não ligada à sua gestão. Denis Abrahão, de vice de futebol, parecia uma solução por conta de seu discurso inflamado – ao contrário do ritmo enfadonho de seus antecessores. Todavia, pecou na escolha do treinador. Vagner Mancini já chegou com o estigma de ‘rebaixador’ de times. E não deu outra. Se perdeu por completo, com o aval da cartolagem, e não conseguiu dar a volta por cima. Diante deste cenário, fica fácil entender que a queda não foi culpa da arbitragem ou da Covid-19, como o presidente e seus pares teimam em acreditar?
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Fonte: 90min