Campeonato Brasileiro

Da estreia no Flamengo à afirmação em Israel: o goleiro que se divide entre o futebol e o exército

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Da estreia no Flamengo à afirmação em Israel: o goleiro que se divide entre o futebol e o exército - 1

​Sair da Gávea, no Rio de Janeiro, para o Exército de Israel é uma longa distância. Mais de 10 mil quilômetros, para ser mais preciso. E foi com esta trajetória incomum que Daniel Miller Tenenbaum precisou lidar para dar sequência ao seu sonho de criança: ser um jogador de futebol profissional. Aos 24 anos de idade, o goleiro do Maccabi Tel Aviv – maior clube israelense – trilhou um caminho que lhe ofereceu a oportunidade de ganhar sequência debaixo das traves e resolveu arriscar.

 

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Com apenas uma partida realizada no time principal do ​Flamengo (um empate em 1 a 1 contra o Grêmio em 2014, entrando em campo após expulsão de César), Daniel foi emprestado ao Maccabi no segundo semestre de 2016. E por lá permanece até hoje, comprado em definitivo. No entanto, mesmo de longe, ainda mantém contato com alguns de seus ex-companheiros de trabalho dos tempos de Rubro-Negro. Dentre eles, ​Paulo Victor, hoje titular do Grêmio, de quem fala com muito carinho:

O Paulo me ajudou muito, como um irmão mais velho. Sempre me dando conselhos, me ajudando em tudo, tudo mesmo. A gente ainda mantém contato, ele sempre me pergunta como está aqui, se preciso de alguma coisa. É muito legal“, contou, destacando que, apesar da amizade, torcerá pelo Rubro-Negro na Libertadores, uma vez que vários amigos (incluindo seus treinadores de goleiros da época) seguem no clube.

A situação incomum gera questionamentos. Afinal de contas, como, no meio de uma carreira de atleta profissional, Daniel foi parar no exército israelense? A explicação tem ligação com suas ​raízes judaicas, sua dupla cidadania e a legislação do país:

Pelo que soube, o Maccabi faz um mapeamento de judeus que jogam pelo mundo, porque, quando você é judeu e vem morar em Israel, você ganha o passaporte. Tem uma lei aqui que diz que qualquer judeu do mundo que vem para ficar em Israel vira israelense. E também tem outra lei que diz que, quando você vem até os 23 anos, você tem o serviço obrigatório do exército. Eu vim com 21, então obrigatoriamente eu tenho que cumprir dois anos de serviço militar. Já fiz um ano, falta mais um“, detalhou.

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Tudo bem que a vida de goleiro não é fácil e é cheia de riscos, mas servir um exército em paralelo aos seus afazeres esportivos justo numa área tão conhecida por guerras e conflitos?! Soa mais perigoso que o ofício de frear a alegria dos atacantes. Só que não é bem assim a história. A rotina de Daniel – apesar de estafante – passa longe de qualquer enfrentamento bélico:

O exército entende minha condição de atleta, então meus horários por lá dependem da hora em que vou treinar ou jogar pelo Maccabi. Lá eu faço trabalho de escritório, burocrático, logística e coisas do tipo. O pessoal de fora logo pensa ‘está no exército, vai pra guerra’, mas não é assim. Fico no escritório, no ar-condicionado, mas é uma rotina pesada, já que são dois trabalhos. No meu momento de descanso de atleta, eu ainda preciso trabalhar e ficar com a cabeça pensando“, contou, dando ainda mais detalhes de sua vida em Tel Aviv:

Gosto muito de morar aqui, é zero perigoso. Zero. A imagem que os brasileiros têm é que, se você andar na rua vai ter um míssil caindo na sua cabeça. E desde que eu estou aqui, não vi nada disso. Você pode andar na rua às 3h da manhã com o telefone na mão que não vai te acontecer nada. A qualidade de vida é muito boa. Mesmo longe da família e de alguns amigos, é uma vida boa“, esclareceu.

 

 

Daniel faz todas as tarefas militares em hebraico, já que o clube providenciou aulas particulares a fim de tornar sua adaptação ainda mais rápida. Formado em Administração ainda nos tempos de Rio de Janeiro, ele vê múltiplas opções para o futuro, seja como jogador ou até depois, no pós-carreira. Arrependimento de ficar num mercado menos visto e menos conhecido pelos brasileiros? Nenhum, pelo contrário:

 

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Não sei se é o momento de voltar para o Brasil. No futuro, claro que considero. Não tenho as portas fechadas para nenhum time nunca, mas acho que agora não é o momento, é mais seguir por aqui mesmo. Eu vi como uma oportunidade, uma chance de crescer na carreira e de ganhar janela para outros lugares no futuro“, afirmou, completando que a Premier League é a liga que mais lhe atrai no momento como profissional. No entanto, fez questão de ressaltar que se surpreendeu positivamente com os torcedores em Israel:

Eu não imaginava tanto fanatismo, achei que seria mais largado. Me surpreendeu muito, as torcidas são super fanáticas, cantam o tempo inteiro e agora no estádio novo aqui (Bloomfield, onde a entrevista foi realizada), o clima tem ficado muito legal. Mas quando a gente joga fora a torcida me xinga o tempo inteiro também. Tem os dois lados, um apoia e o outro xinga“, contou aos risos.

 

Fã de ​Alisson e Ederson, enxerga como um sonho a seleção brasileira, apesar de não descartar também a possibilidade de defender a israelense caso venha a ser chamado em virtude da dupla cidadania. Mas na realidade Daniel não quer pensar nisso no momento, prefere seguir conquistando seu espaço jogo a jogo e se firmar de vez no Maccabi Tel Aviv. Afinal de contas, ele sabe muito bem como é a vida com as luvas:

 

“Goleiro é um esporte dentro do futebol”.

 

Filosófico, mas totalmente verdadeiro.

Fonte: 90min