Quando o romance de estreia de Stephenie Meyer, Crepúsculo, chegou às prateleiras em 2005, tornou-se uma verdadeira sensação cultural, assim como Harry Potter antes dele.
Em 2008, Kristen Stewart e Robert Pattinson, dois atores que se tornaram alguns dos mais aclamados de sua geração, assumiram os papéis principais de Bella Swan e Edward Cullen, uma adolescente melancólica em uma nova cidade que se apaixona por um colega adolescente que na verdade é um vampiro.
Três livros e quatro filmes depois, Crepúsculo deixou para trás um legado complicado, o que é uma maneira sutil de dizer que muitas pessoas realmente odeiam isso. Mas por quê?
A crítica cultural Lindsay Ellis tentou investigar isso em um ensaio em vídeo do YouTube de 2018 intitulado “Querida Stephenie Meyer”, que pretendia se desculpar com a autora pela forma como Ellis mesma tratou a série durante o auge de sua popularidade.
Como Ellis coloca de maneira incisiva, “Não estou dizendo que Crepúsculo merece ser reavaliado porque era ‘secretamente bom’ o tempo todo, mas sim que o nível de bile virulenta que veio a defini-lo e a Meyer em si não estava realmente proporcional à ruindade de Crepúsculo ou qualquer coisa que Stephenie Meyer tenha feito”.
Este é um ponto bem colocado por Ellis, então vamos investigar por que exatamente Crepúsculo inspira tanta fúria de seus críticos mais severos? Vamos ver adiante (via Looper).
O ódio injustificado à Crepúsculo
Crepúsculo é brega, ridículo e até mesmo problemático em alguns pontos. Bella Swan, tanto nos livros quanto nos filmes, é um pouco vazia, alguém que poderia ser considerada como uma substituta para os espectadores que desejam começar um relacionamento com um estranho pálido e brilhante que a encara antes de salvar sua vida e declarar seu amor eterno.
Edward tem mais de um século de idade quando conhece Bella, que é uma adolescente, então essa diferença de idade certamente poderia ser percebida como pedofilia.
Toda a série pode muito bem ser percebida como uma alegoria conservadora sobre sexo pré-marital, já que Bella constantemente implora para que Edward a transforme em vampira, e ele se recusa, explicando que eles só podem considerar a possibilidade depois de casados.
Eles o fazem assim que se formam no ensino médio, e Bella imediatamente engravida depois de ter relações sexuais pela primeira vez.
Depois que o bebê, meio humano, meio vampiro, nasce, o melhor amigo de Bella, Jacob Black, interpretado por Taylor Lautner no cinema, forma uma conexão muito estranha com o bebê.
Deixando essas coisas de lado, Crepúsculo é, em um nível básico, uma fantasia exagerada e brega voltada para jovens mulheres que, até aquele momento, não necessariamente tinham uma peça de cultura pop mainstream que servisse como uma diversão.
Ainda assim, fãs e críticos têm tentado entender por que Crepúsculo, uma franquia um tanto boba e, em última análise, inofensiva, é tão desprezada.
Um dos problemas apontados é que os livros e filmes fazem parecer como se a vida de Bella não importasse sem estar vinculada a um homem.
Mas o ódio gerado, como muitos apontam é por ser uma obra destinada a adolescentes, e a cultura destinada a adolescentes quase sempre é vista como inferior.
Isso sem falar no machismo da sociedade. A cultura dominada por homens despreza o desejo feminino, o que explica grande parte do ódio à franquia por parte de pessoas que nem sequer leram ou viram os filmes.
Há incontáveis obras piores por aí e ninguém fala nada sobre – até mesmo filmes e séries que estão no mainstream. Mas, naturalmente, quando a autora é mulher e a protagonista também, o ódio injustificado sempre é maior.
Crepúsculo está disponível na Netflix. Uma série baseada nos livros está a caminho.
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Fonte: Observatório do Cinema