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Fase que baniu o Capitão América dos EUA tirou o herói da irrelevância

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O Capitão América atualmente é um herói que luta pela liberdade e justiça em todo o mundo — e até na galáxia inteira. Mas, por muitos anos, principalmente entre os anos 1980 e 2000, Steve Rogers se perdeu em seus conceitos básicos. Além disso, com o fim da Guerra Fria e a mudança do cenário geopolítico da vida real, muitos leitores passaram a enxergar o Sentinela da Liberdade como um símbolo nacionalista e ultrapatriota, que age como um “escoteiro” serviço do governo.

Steve Rogers foi criado nos anos 1940 para motivar os soldados na Segunda Guerra Mundial e, ali sim, havia um certo ufanismo e patriotismo exacerbado — na época, o mundo todo estava aprendendo como usar a propaganda de guerra para influenciar a massa e manipular informações. O resultado inicial foi um sucesso, com o Capitão América gerando um grande sentimento de fidelidade e amor aos Estados Unidos.

Contudo, depois que o conflito acabou, a Marvel precisou atualizá-lo várias vezes, para tentar definir motivações mais complexas. Além disso, entre os anos 1970 e 2000, as histórias em quadrinhos passaram a ser grande aliadas das autoridades no combate contra as drogas, e vale lembrar que o maior símbolo dos Estados Unidos na cultura pop teve seu corpo aprimorado justamente com uma substância que modifica o corpo para ter uma vantagem artificial contra os oponentes.


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Capitão América foi atualizado com mérito na fase de Waid e Garney (Imagem: Reprodução/Marvel Comics)

Nesse tempo as histórias perderam o rumo, e o Capitão América passou por diversas alterações em suas atitudes, seu discurso, suas convicções e a mensagem transmitida pela sua figura. A Marvel identificou esse “ranço patriótico” em uma grande parcela dos leitores, especialmente os que moram fora dos Estados Unidos.

O herói precisava mesmo de uma grande mudança. E, na época, o roteirista Mark Waid estava em seu auge, assim como o ilustrador Ron Garney, que mostraram em outros trabalhos boas ideias para reformular personagens clássicos como o Capitão América.

Temos que falar sobre o contexto em que o Capitão América mudou

Como as vendas astronômicas de títulos a exemplo dos X-Men e de Chris Claremont e Jim Lee e do Homem-Aranha de Todd McFarlane animaram o mercado na virada dos anos 1980 para os anos 1990, tanto a DC Comics quanto a Marvel Comics tentavam compensar a saturação de tramas que ainda repetiam fórmulas das Eras de Ouro e Prata dos quadrinhos com caminhões de revistas nas bancas.

Abarrotar as prateleiras, atirando para tudo quanto é lado, era uma forma de as editoras tentarem encontrar a preferência dos leitores da nova década; e de entenderem melhor como evitar a debandada dos veteranos, que estavam de saco cheio de continuidade retroativa e fórmulas desgastadas. Isso só foi alcançado nos anos 2000.

Muitos leitores, cansados de tramas que ainda não haviam superado as coisas que deram certo nas décadas anteriores, trocaram os super-heróis por histórias mais “pé no chão” do mercado alternativo, assim como os mangás e catálogos adultos como o do selo Vertigo. Sem ter como enfrentar a vanguarda, a DC e a Marvel apelaram para “mortes chocantes”, como a do Superman; e para desenhos com mais ação, menos textos e imagens sugestivas, cheios de personagens bombados e sexualizados ao extremo e abordagens mais violentas.

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Capitão América retomou sua pose imponente na fase de Waid e Garney (Imagem: Reprodução/Marvel Comics)

O segmento estava em transição, com várias mudanças nos formatos e impressão de publicação — a tecnologia, por exemplo, trouxe melhor qualidade e variedade de cores e possibilidade de uso de diferentes tipos de papel. O padrão de narrativa se desvinculava de modelos ultrapassados, como sequências em que os personagens sempre “conversavam sozinhos”, com balões de pensamentos que “avisavam” para o leitor o que os heróis iriam fazer — algo que soava infantil na época.

A revitalização do Capitão América poderia ajudar a Marvel a encontrar uma solução para a decadência de suas propriedades mais populares. E eis que a proposta para um novo Sentinela da Liberdade foi executada lentamente, a partir do trabalho de Mark Waid e Ron Garney.

Equipe criativa acertou a mão na ação e na postura do Capitão América

Antes da chegada da nova equipe de artistas, o Capitão América tinha sido dado como morto em um arco bastante cheio de premissas mal-resolvida e desenhos que tornavam uma armadura usada por Steve Roger ainda mais tosca — ele teve que usar um exoesqueleto criado por Hank Pym e Tony Stark.

Lembram da questão das drogas e do Soro do Supersoldado? Então, ele usou essa armadura porque seu corpo ficou debilitado depois da remoção dessa substância do seu corpo. A Marvel encontrou uma forma ainda bem inconsistente para explicar que, na verdade, a solução injetada em Steve Rogers havia sido metabolizada fora de seu sistema. Tratava-se de um vírus, capaz de realizar alterações bioquímica e genética —que furada.

Depois que acabou essa conversinha, Waid e Garney mudaram a postura, as motivações e os conflitos de Steve Rogers, trazendo também de volta todos os elementos que sempre fizeram parte de sua trajetória — a exemplo do Caveira Vermelha, Sharon Carter, o Cubo Cósmico, entre outras coisas. A questão do Soro do Supersoldado associado às drogas foi deixado de lado, e o Capitão América se tornou ainda mais poderoso no combate corpo a corpo, principalmente pelo fato de ele sempre estar taticamente mais preparado que seus oponentes.

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Capitão América foi banido dos EUA sob acusação de traição (Imagem: Reprodução/Marvel Comics)

Os desenhos de Garney também deram mais imponência ao Capitão América, que foi retratado nessa fase em cenas de ação de tirar o fôlego. O desenhista estava estava em sua melhor forma, com traços precisos e design limpo, boa composição dos movimentos, tratamento de luz e sombra estilizado a partir da parceria com o arte-finalista Bob Wiacek, que valorizou ainda mais o volume que destacava o ímpeto combativo do herói.

Capitão América foi expulso dos EUA

Já no arco seguinte, o Capitão América foi banido pelo governo dos Estado Unidos, acusado de traição sobre um crime que não cometeu. A partir daí é que começou a desconstrução de Steve Rogers como um herói ufanista que trabalha primordialmente em prol do governo: ele teve que rodar o mundo para provar que era inocente, e nessa jornada passou a ser um protetor da liberdade e justiça em todo o globo. Mesmo depois de retornar aos Estados Unidos e ainda ter seu lado patriótico, o personagem se tornou muito mais complexo e passou a desenvolver melhor seu lado tático e estrategista — e não apenas um homem de batalha campal.

O herói questionar a invasão de privacidade do governo na Guerra Civil foi mais uma prova de sua luta pela liberdade. Se vocês notarem bem a versão do Universo Cinematográfico Marvel , vão notar que em todas suas aparições eles esteve contra as autoridades dos Estados Unidos.

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Revitalização do Capitão América ajudou a abrir caminho para melhorar o desenvolvimento do personagem (Imagem: Reprodução/Marvel Comics)

Para completar, a atualização de Waid e Garney abriram caminho para que Os Supremos, versão dos Vingadores da Terra Ultimate no começo dos anos 2000, trouxesse um Capitão América ainda mais casca grossa — um soldado que mata, que dá uma surra nos colegas de equipe, que não tem piedade contra os inimigos no campo de batalha e que só não mudou de patente porque nunca quis.

E mais também ajudou a vermos sua maturidade como estrategista, que foi fundamental para a vitória dos Vingadores na Saga Infinito; e a trazer o Capitão América Sam Wilson ainda mais em conflito com o governo, e até com os próprios cidadãos estadunidenses. Steve Rogers sempre vai promover os Estados Unidos e celebrar seu patriotismo, mas isso deixou de ser algo tão importante em suas batalhas — graças à fase de Waid, Garney e Wiacek.

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Fonte: Canaltech