Um novo estudo, publicado na revista científica Science, afirma que caso não consigamos limitar o aquecimento global a 1,5 °C — como combinado pelo acordo de Paris —, podemos chegar pontos críticos, ou pontos de inflexão, quando as mudanças climáticas já não poderão ser revertidas, mesmo que todas as emissões de carbono cessem.
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No estado de aquecimento atual, já estamos à beira de 5 grandes pontos de inflexão, incluindo o derretimento dos gelos antárticos e da Groenlândia. Os pontos de inflexão acontecem quando um sistema é tão perturbado que a mudança se torna autossustentável, ou seja, uma geleira que continua derretendo sem aquecimento adicional ou uma floresta que continua se tornando uma savana.
Pontos de inflexão climáticos e seus perigos
Estimativas anteriores punham as temperaturas mínimas para mudanças desse calibre entre 3 °C a 5 °C, mas observações climáticas, modelos matemáticos e reconstruções de aquecimento do paleoclima antigo descobriram números bem menores. O estudo sintetiza mais de 200 pesquisas na área para fazer suas próprias estimativas acerca dos pontos de inflexão.
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Foram identificados 9 elementos-chave para pontos de inflexão climática no mundo todo, contribuintes ao funcionamento do planeta, e 7 pontos regionais que podem modificar consideravelmente a vida humana, totalizando 16. Destes, 5 podem ser causados nas temperaturas de hoje: colapso do gelo antártico e gronelandês, degelo generalizado do permafrost, colapso da convecção do Mar do Labrador, e morte dos recifes de coral tropicais.
Passar dos pontos de inflexão da Groenlândia e Antártica já significa um aumento de 10 metros no nível do mar, mesmo que leve centenas de anos para atingir seu pico. Alguns recifes de coral já estão morrendo em profusão por conta do branqueamento causado pela temperatura, mas a mudança ainda é reversível. Passando do ponto de inflexão, os corais seriam devastados, afetando 500 milhões de pessoas que dependem deles no mundo todo.
O Mar do Labrador, na costa canadense, é responsável pelo aquecimento europeu, e mudanças nele podem causar invernos muito severos, como a Pequena Era do Gelo entre os séculos XIV e meados do XIX. O degelo do permafrost da Rússia, Escandinávia e Canadá aumentaria as emissões de carbono e deformaria as paisagens drasticamente.
A partir de mudanças de 2 °C, as chuvas de monção no oeste africano e no Sahel seriam severamente afetadas, e a floresta amazônica entraria no processo de se tornar savana. Mesmo um aumento de 1,5 °C, no entanto, tem um impacto dependente de quanto tempo permanecerá afetando o clima — nos piores casos, o aumento teria de continuar por 5 ou 6 décadas
Por enquanto, ainda há tempo de agir, e é esse tipo de aviso que os cientistas responsáveis pelo estudo trazem com ele. É possível reverter o avanço de aumentos de 1,5 °C caso as emissões sejam cortadas quanto antes possível, o que os autores chamam de “pontos de inflexão positivos”, ou seja, mudanças incrementais causadas por ações coletivas societais.
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Fonte: Canaltech