Sustentabilidade & Meio Ambiente

Sete doenças que podem se proliferar no Brasil devido ao aquecimento global

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Sete doenças que podem se proliferar no Brasil devido ao aquecimento global - 1

Os efeitos do aquecimento global, provocado pela ação humana, já não são mais alvo de questionamento, ainda mais quando se juntam com fenômenos naturais, como o El Niño. É inquestionável que o mundo está ficando mais quente e, invariavelmente, as mudanças climáticas facilitam a disseminação de doenças já conhecidas, mas também aumentam o risco de surgimento de novas enfermidades no Brasil.

De forma direta, as mudanças climáticas são associadas com morte por calor, muito por causa da desidratação. Nessas circunstâncias, crianças, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade correm mais risco. No entanto, a maior causa de mortes estará relacionada com um efeito indireta, o aumento na incidência de infecções virais e bacterianas. Aqui, é possível incluir a dengue, a febre maculosa, a cólera e outras inúmeras doenças.

“As doenças que eram tipicamente tropicais são observadas em países que não são tropicais”, pontua o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury e professor da Escola Paulista de Medicina (EPM), durante o 8º Encontro Fleury de Jornalismo em Saúde, no qual o Canaltech esteve presente.


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Em paralelo, os países tropicais, como o Brasil, também estão em risco com a intensificação de doenças já conhecidas e com a introdução de novas. “Estamos aprendendo sobre doenças que eram comuns em outros lugares, mas que estão começando a aparecer aqui”.

Explosão de casos de dengue

A expectativa é que, como o aquecimento global, aumente as doenças que têm mosquitos como vetores, como a dengue e o Aedes aegypti. É importante lembrar que esse mesmo vetor pode transmitir também os vírus zika e chikungunya.

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Com o aquecimento global, doenças transmitidas por mosquitos vão se tornar mais comuns em todo o mundo (Imagem: Nuriyah Nuyu/Pixabay)

“Os mosquitos têm uma parte muito grande do seu ciclo biológico dentro da água. Quando você altera o regime de chuvas, há um impacto direto na intensidade deles”, explica o infectologista. Essas alterações são um dos efeitos das mudanças climáticas.

Por exemplo, no sul do Brasil, incluindo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, não eram comuns tantos casos de dengue. Só que com as fortes chuvas observadas neste ano, há aumento significativo no número de casos. Diante da nova tendência, a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) já aponta para a situação crítica prevista para 2024.

Olhando para outras nações, na Argentina, onde a doença também era relativamente incomum, os casos estão aumentando. Ainda mais raro, alguns países da Europa têm apresentado casos autóctones (locais) da doença, como a França e a Espanha.

Carrapatos se proliferam mais no calor

As doenças transmitidas por carrapatos, incluindo a febre maculosa do carrapato-estrela, também devem se tornar mais frequentes. Neste ponto, é preciso lembrar que algumas regiões do Brasil, já são endêmicas para a doença, como o interior de São Paulo — com 11 mortes somente este ano — e Minas Gerais.

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Aumento das temperaturas favorece a proliferação de carrapatos e deve preocupar o Brasil (Imagem: James Gathany/CDC)

“Com as chuvas e o aumento das temperaturas, os carrapatos se multiplicam muito mais. A tendência é que aumente o número de [outras] doenças que eles transmitem, como tifo murino, febre Q, encefalite ‘tick-borne’ [sem tradução para o português ainda], febre powassan, doença de lyme e babesiose”, pontua Granato.

Novas doenças no Brasil

Olhando para a realidade brasileira e fazendo um exercício de futurologia, Granato aponta para o risco das seguintes sete doenças, relacionadas com as mudanças climáticas, chegarem ou se intensificarem no Brasil:

  1. Febre do Nilo Ocidental: esta é uma doença viral transmitida por um flavivírus, da família Flaviviridae, assim como a dengue, a zika e a febre amarela. A doença já foi identificada no Brasil;
  2. Vírus Nipah: transmitido por morcegos, a infecção pode causar síndromes respiratórias agudas e até encefalites (inflamações no cérebro) mortais;
  3. Doença de Lyme: provocada por uma bactéria que é transmitida por carrapatos, a infecção pode atingir o cérebro e o coração, quando não é corretamente tratada;
  4. Encefalite “tick-born”: é um vírus transmitido por carrapatos infectados, sendo mais comuns nas estações mais quentes do ano. É associado com quadros de encefalite e meningite;
  5. Encefalite japonesa: transmitido por mosquitos, o flavivírus afeta o sistema nervoso central do indivíduo. O agente infeccioso também é da mesma família que a dengue e a febre amarela;
  6. Cólera: doença bacteriana que é transmitida pela ingestão de água e de alimentos contaminados. As pessoas infectadas tendem a apresentar diarreia, e já existem dados que associam o aumento de casos com o El Niño (que provoca o aquecimento das águas do oceano);
  7. Vírus Powassan: este é também um flavivírus, só que é transmitida por carrapatos. Mesmo nos locais em que já foi registrado, como o Canadá, ainda é considerado raro.

Como encarar o aquecimento global?

Como as mudanças climáticas já são uma realidade, os governos, os profissionais de saúde e as populações vão precisar encarar as novas dinâmicas envolvendo doenças, conhecidas ou não, mesmo que medidas sejam adotadas hoje para conter o aquecimento global — como reduzir a emissão dos gases do efeito estufa.

Diante desse cenário, o especialista indica ações que ajudam a minimizar e conter os novos desafios na área da epidemiologia, como:

  • É fundamental informar e orientar a população sobre as doenças mais comuns em suas regiões, compartilhando meios de prevenção;
  • Onde não há, é preciso investir em saneamento básico;
  • As atuais soluções da indústria farmacêutica não serão suficientes para encarar essa nova realidade. Por isso, é preciso investir em pesquisas e no desenvolvimento de novas vacinas e medicamentos;
  • Na área de pesquisa, as parcerias público-privadas tendem a ser fundamentais para desenvolver novos produtos e estratégias cada vez mais eficazes;
  • É preciso melhorar a infraestrutura na área de saúde para todos, em uma comunidade;
  • O monitoramento ativo e a vigilância epidemiológica são fundamentais para identificar possíveis perigos à saúde pública.

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Fonte: Canaltech