O agravamento sem freios da crise climática faz com surjam várias ideias para serem tomadas em casos extremos. A mais nova proposta, sugerida por pesquisadores da Universidade de Utah e do Observatório Astrofísico Smithsonian, envolve atirar poeira da Lua no espaço para que ela bloqueie parte da radiação solar.
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Enquanto medidas mais simples ainda podem ser tomadas para reverter o cenário atual das mudanças climáticas, alguns cientistas já pensam em ações emergenciais para o futuro. Com a meta de manter o aquecimento global em até 1,5 ºC desde os níveis pré-industriais próxima a falhar, alternativas complexas para lidar com a questão são tema de frequentes pesquisas.

A nova ideia consiste em produzir um fluxo de poeira proveniente da lua capaz de impedir que uma porção do calor do sol chegue à Terra. A proposta tem fundamentação científica e uma execução plausível — Scott Kenyon, astrofísico de Harvard, e seus parceiros de estudo Benjamin Bromley e Sameer Khan, publicaram um artigo a respeito no periódico PLOS Climate.
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A fundamentação teórica
Na astrofísica, o conceito de Ponto de Lagrange define locais de equilíbrio entre a atração gravitacional exercida por dois corpos. Existem cinco desses pontos para cada par de corpos e eles possuem diferentes relevâncias para cálculos de órbita, servindo inclusive para o posicionamento de satélites.
No ponto L1 entre a Terra e o Sol — a 1,5 milhão de quilômetros do planeta — um corpo em órbita acompanha a Terra, mas não gira em torno dela. Satélites, telas ou, neste caso, poeira lunar, localizados neste ponto podem espalhar ou servir de escudo contra parte da radiação solar.

Qualquer material particulado poderia exercer a mesma função — cientistas já pensaram em explodir asteroides ou lançar minúsculas partículas de vidro a partir de um objeto no ponto L1. A Lua, porém, já está mais próxima a este ponto do que a Terra e pode ser uma fonte natural de partículas que cumpririam a função.
Pondo a ideia em prática
Os cientistas descrevem o processo como uma “ejeção balística” de poeira da Lua a partir de uma estação no polo norte do satélite natural. A base teria a função de extrair o material do solo lunar e lançá-lo no espaço de forma a atingir o ponto desejado. Estima-se que 10 milhões de toneladas do material seriam necessárias para atingir o efeito climático desejado. Pode parecer muito, mas é o equivalente a uma “lua” de 40 metros de diâmetro.
O efeito da poeira não geraria nenhum eclipse, na verdade, cerca de apenas 2% da radiação solar seria bloqueada. Isso compraria tempo para que outras ações fossem tomadas na Terra para reverter as mudanças climáticas. O lançamento das partículas também não seria constante: seriam necessários 6 dias dessa atividade por ano.

Pode parecer um plano mirabolante, mas ele possui vantagens em relação a outros métodos idealizados para casos extremos. A nuvem de poeira lunar segue um raciocínio parecido com técnicas de geoengenharia solar — que envolvem, por exemplo, o lançamento de partículas de enxofre na atmosfera para reter a radiação do sol.
Usar o enxofre desta forma, porém, pode ter consequências negativas, como afetar o regime de chuvas no planeta e agravar o fenômeno de chuva ácida. Em comparação, as partículas lunares seriam um método não-invasivo.
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Fonte: Canaltech