Raríssimas abelhas mumificadas de 3.000 anos atrás foram encontradas por cientistas em Portugal — normalmente, o que temos são registros fósseis de suas colmeias, mas abelhas preservadas quase nunca foram identificadas na história da ciência. A espécie achada é da tribo Eucerini, bastante diversa, que fica dentro da família Apidae, com mais de 32 gêneros por todo o mundo.
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Todas as espécies do clado Eucerini são solitárias, mas podem se reunir em ninhos conjuntos. Geralmente os machos são encontrados em grupos grandes. Por conta das antenas longas, essas abelhas são conhecidas como “abelhas-dos-chifres-longos” em inglês (long-horned bees).
Hundreds Of Mummified Bees inside their Cocoons from the Time of the Pharaohs found in Portugalhttps://t.co/Ntv9gIS9D5 pic.twitter.com/Kak3Aqnxyb
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–— Arkeonews (@ArkeoNews) August 26, 2023
A família tem um registro fóssil bastante extenso em relação às colmeias, com mais de 100 milhões de anos de presença no planeta. Nos sítios arqueológicos portugueses, então, foram encontrados os espécimes preservados em um de quatro deles, o de Carreira Brava. Pertencendo ao gênero Eucera, a preservação dos animais estava incrível, com cada um prestes a sair de seu hexágono no momento da mumificação.
Abelhas e pólen milenares preservados
Além dos insetos, a câmara onde foram encontrados também manteve sua membrana interna, um tipo de seda gerado pela abelha-mãe com restos de um tipo de pólen monoespecífico do tipo Brassicaceae. Não foi possível apenas descobrir o tipo de abelha graças aos detalhes anatômicos, mas também o sexo e o tipo de suprimento de pólen monofloral deixado pela mãe quando construiu cada casulo.
Segundo o pesquisador Carlos Neto de Carvalho, da Universidade de Lisboa, foram encontrados quatro sítios paleontológicos com uma alta densidade de fósseis de colmeia, com milhares em um quadrado de 1 metro de largura, em um projeto anterior, que levou à descoberta dos animais mumificados. Eles ficam entre Vila Nova de Mulfontes e Odeceixe, na costa da cidade de Odemira. O município auxiliou bastante na pesquisa, permitindo inclusive a datação por carbono-14.
Originalmente, os cientistas buscavam entender mudanças no ecossistema europeu na costa do sudoeste português, em 2019, quando toparam com os restos de abelhas e suas “casas”. O clado Eucera, em particular, tem um comportamento que ajudou na preservação — seus espécimes ficam a maior parte da vida gestando abaixo da terra, se alimentando de pólen materno e saindo apenas quando a planta da qual se alimentam floresce, somente por algumas semanas do ano.
Os insetos foram escaneados com tomografia microcomputadorizada de raios-x, garantindo que os casulos ficassem intactos. Ainda não se sabe o que preservou tão bem as abelhas, mas causas prováveis são a falta de oxigênio por alguma enchente na colmeia, e uma queda na temperatura em consequência, ou mesmo durante a noite, logo antes da saída dos bichos. Como havia pólen o suficiente para a alimentação, as mudanças climáticas acabam sendo as principais suspeitas para a morte em massa.
A membrana da abelha-mãe teve um papel importante na mumificação do material orgânico, criando um ambiente anaeróbico que isolou os casulos da influência exterior. O polímero orgânico à prova d’água deixou o exoesqueleto de quitina das abelhas inteiro — o material, semelhante à celulose, geralmente se decompõe rápido quando elas morrem. O que ficou são icnofósseis, vestígios de fósseis no formato do corpo, que foram possíveis também pelo frio excessivo da época.
Mesmo com a morte dos bichos, ainda há 25 espécies de Eucera em Portugal, mostrando como a família de insetos consegue perseverar por milhares de anos e se adaptar a condições climáticas diferentes — algo que já estão tendo de fazer atualmente. Esse tipo de resistência é o que os cientistas pretendem entender dando prosseguimento ao estudo do caso, que já teve uma publicação no periódico científico Papers in Palaeontology.
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Fonte: Canaltech