Não é de hoje que os seres humanos se utilizam de métodos para alterar a consciência, seja simplesmente para se divertir, para ver ou se conectar com figuras espirituais ou para se conectar à natureza. Conhecemos substâncias psicodélicas e as usamos há milênios, mas também sabemos, há muito tempo, que não é necessário utilizar drogas para isso. Há cantos ritualísticos, técnicas envolvendo tambor e balanços rítmicos, etc. A mais potente, e talvez mais curiosa, envolve luz.
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Mais especificamente, é a luz piscante, técnica chamada de gantzflicker. Ela é realizada ao ligar e desligar (ou interromper) a luz continuamente, alternando cores em um padrão rápido e rítmico, como num estroboscópio. Isso pode criar, instantaneamente, uma experiência psicodélica, provocando fenômenos visuais como a visão de objetos geométricos e cores ilusórias, talvez até mesmo objetos complexos, como animais e rostos.
Em alguns casos, a gantzflicker pode até mesmo acabar gerando estados alterados de consciência, como perder a noção de tempo e espaço, e de emoção, gerando de medo a euforia, como num transe. A ciência ainda entende pouco sobre o fenômeno, mas ele já vem sendo explorado há muito tempo. A história desse uso será contada como parte do festival Being Human, na Inglaterra, em formato de exibição de museu.
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História das luzes psicodélicas
A primeira documentação do efeito gantzflicker foi em 1819, pelo fisiologista Jan E. Purkinje, que descobriu efeitos visuais ilusórios quando fechava os olhos enquanto direcionados ao sol e balançava as mãos em frente a eles. No final do mesmo século, Charles Benham, um fabricante de brinquedos, fez um dispositivo para imitar o efeito, um círculo com padrão monocromático que, quando girado, produzia cores ilusórias que dançavam ao longo do disco.
Versões modificadas dessa máquina continuaram sendo feitas e usadas em experimentos, como os de William Grey Walter, pioneiro na neurofisiologia, que utilizou luzes estroboscópicas para sincronizar com o ritmo cerebral no início da popularização dos eletroencefalogramas. Em 1962, Brion Gysin finalmente inventou um dispositivo chamado Dreamachine (máquina dos sonhos, em inglês).
A Dreamachine é composta por um cilindro cheio de padrões que envolve uma lâmpada, suspensa no centro. Girando a 78 rpm, os padrões piscantes — que devem ser observados de olhos fechados — causam alucinações. Seu criador acreditava que seria uma forma diferente de entretenimento, podendo até mesmo substituir a televisão: “a única obra de arte a ser vista de olhos fechados”.
Embora não tão popular, ela inspirou poetas e cineastas, gerando filmes como The Flicker, de 1966, que consiste apenas de cores monocromáticas piscantes, o primeiro a conter o aviso de que poderia induzir a ataques epiléticos ou produzir sintomas moderados de choque em algumas pessoas.
Artistas conceituais, mais recentemente, criaram outros dispositivos, como o Bindu Shards, de James Turrell, um globo com luzes estroboscópicas feito em 2010, e um planetário inspirado na Dreamachine, da Collective Act, que viajou a Inglaterra em exibição neste ano. Com 200 anos de idade, a descoberta continua misteriosa aos cientistas.
O que diz a ciência?
Uma hipótese mais atual acredita que o efeito resulta de interações entre as luzes exteriores e os impulsos elétricos internos do cérebro, com imagens mais intensas se manifestando quando as frequências piscantes e as cerebrais se alinham melhor.
É provável, também, que a interrupção constante da luz induza a estados cerebrais pela imaginação sugestiva, ou seja, acabamos forçando a interpretação de imagens desconexas, efeito cujo transe é amplificado pelas propriedades da estimulação rítmica.
Mais importante, a característica principal do ganzflicker é a universalidade: engenheiros, artistas, historiadores e matemáticos estudam, como uma unidade científica, esse efeito causado de forma modesta, sem uso de drogas, que muda nossa consciência dramaticamente.
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Fonte: Canaltech