A alimentação adequada durante a gestação é essencial para garantir a saúde tanto da mãe quanto do bebê. Uma dieta inadequada pode levar a desfechos indesejáveis, como parto prematuro, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional. Por isso, identificar a carência de nutrientes na dieta das gestantes e fornecer uma orientação alimentar adequada pode ser crucial para prevenir complicações e salvar vidas.
Segundo Maria Julia de Oliveira Miele, vencedora do Prêmio Capes de Tese de 2023 na categoria Medicina III, é importante ir além de apenas controlar o peso durante a gravidez. É fundamental nutrir o corpo adequadamente. Muitas vezes, as orientações se resumem a comer menos para evitar ganho excessivo de peso, mas isso não leva em consideração a chamada “fome oculta”. A fome oculta ocorre quando o corpo está faminto de nutrientes, mesmo que a pessoa esteja consumindo calorias suficientes. Por isso, é necessário realizar uma avaliação nutricional completa durante o pré-natal para identificar possíveis deficiências e propor mudanças na alimentação.
A pesquisa realizada por Miele analisou os hábitos alimentares de 1.500 gestantes em seu primeiro parto, provenientes de cinco centros de saúde localizados em diferentes regiões do Brasil. O objetivo era identificar padrões alimentares, diagnosticar possíveis carências nutricionais e propor estratégias para reverter essa situação. Os resultados foram alarmantes: em 2015, mais de 2,5 milhões de natimortos ocorreram em todo o mundo e 300 mil mulheres morreram devido a complicações relacionadas à gravidez.
A pesquisa também revelou diferenças regionais no padrão alimentar das gestantes. Enquanto as gestantes da região Nordeste apresentaram uma alimentação mais saudável, com maior consumo de alimentos in natura, frutas, vegetais, sementes e castanhas ricas em nutrientes como selênio e zinco, as gestantes das regiões Sul e Sudeste se destacaram pelo consumo excessivo de açúcares e alimentos ultraprocessados. Esses hábitos alimentares inadequados contribuem para a má nutrição e o sobrepeso durante a gestação.
O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados é um problema comum nas grandes cidades e tem contribuído para uma epidemia de obesidade. Esse padrão alimentar está associado a um maior risco de complicações na gravidez, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional. Por isso, é fundamental conscientizar as gestantes sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada.
Além da análise dos hábitos alimentares, a pesquisa de Miele também propôs a utilização do perímetro braquial como uma ferramenta para identificar riscos de complicações na gravidez. Essa medida pode ser uma alternativa simples e rápida para avaliar o estado nutricional das gestantes quando não é possível obter o peso ou quando há dificuldades no acompanhamento desse dado. A pesquisa também identificou uma relação entre a circunferência cefálica da mãe e do bebê.
Os resultados dessa pesquisa foram publicados em revistas internacionais e trazem contribuições importantes para a área da saúde materna. Foram desenvolvidos modelos preditivos específicos para diferentes desfechos gestacionais adversos, como prematuridade, restrição do crescimento fetal, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional. Além disso, foi proposto um modelo geral que pode ser aplicado em qualquer uma dessas situações. A pesquisa também criou um arcabouço conceitual para o rastreamento e monitoramento do risco nutricional durante a gestação.
Em resumo, identificar uma dieta inadequada durante a gestação e oferecer uma orientação alimentar adequada podem reduzir os desfechos indesejáveis da gravidez. É fundamental promover uma alimentação saudável e equilibrada, evitando o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados. Essas medidas podem salvar vidas e garantir um desenvolvimento saudável tanto para a mãe quanto para o bebê.