Para lidar com os desafios do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e acelerar pesquisas sobre o vírus, o primeiro repositório de dados abertos do Brasil, com informações demográficas e exames clínicos e laboratoriais de pacientes que fizeram testes para a COVID-19 (em unidades laboratoriais no país e em hospitais do estado de São Paulo) entra em operação nesta semana. Sediado pela USP, o projeto recebe o nome de COVID-19 Data Sharing/BR.
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Até o momento, o novo repositório abriga dados abertos e anonimizados de mais de 177 mil pacientes, sendo 9.634 dados de desfecho e quase 5 milhões de resultados de exames clínicos e laboratoriais realizados em todo o país pelo Grupo Fleury e, na cidade de São Paulo, pelos hospitais Israelita Albert Einstein e Sírio-Libanês, desde novembro de 2019.
Mesmo que o primeiro caso da COVID-19 só tenha sido registrado no Brasil em fevereiro desse ano, pelo Hospital Albert Einstein, a cobertura de um período anterior nos dados deve permitir que os pesquisadores consigam analisar um histórico de saúde um pouco mais amplo, até para fins comparativos. Além disso, poderão buscar evidências de sintomas de COVID-19 em pacientes atendidos anteriormente.
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Como funciona?
A ideia é que novos dados sejam, constantemente, inseridos e gerenciados no repositório, sediado na Universidade de São Paulo (USP). Para além das quatro instituições, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) está buscando estabelecer parcerias com outras instituições de atendimento a pacientes, públicas e privadas, para compartilhamento de informações sobre a infecção respiratória.
Afinal, quanto maior for essa base de dados, mais possível será alcançar o objetivo de sua criação, que é auxiliar pesquisas científicas sobre a COVID-19 em diversas áreas de conhecimento, incluindo principalmente a saúde.
“Ciência é cada vez mais uma atividade coletiva e as iniciativas de compartilhamento de dados têm se ampliado em todo o mundo. A estratégia de Open Science da Fapesp é o plano de fundo desta iniciativa. Buscamos aproveitar a crise para alavancar a iniciativa de Data Sharing sediada na USP. Nossa expectativa é que possamos não apenas agregar novos parceiros, mas, sobretudo, contribuir para que a comunidade cientifica tenha dados de qualidade para propor soluções que nos permitam enfrentar a pandemia”, explica Luiz Eugênio Mello, diretor-científico da Fundação, para a Agência Fapesp.
O que está disponível?
Os pesquisadores poderão acessar nesse repositório, basicamente, três categorias de informação: dados demográficos (como detalhes sobre gênero, ano de nascimento e região de residência do paciente) dos pacientes; exames clínicos e laboratoriais propriamente ditos; informações, quando disponíveis, sobre a movimentação do paciente, como internações e desfecho dos casos da COVID-19 (recuperação ou óbitos).
Durante o desenvolvimento do banco, uma versão pequena do conjunto de dados foi, inicialmente, disponibilizada para pesquisadores no dia 17 de junho para um período-piloto de consultas. Até o dia 24 de junho, os grupos de pesquisa puderam enviar dúvidas e comentários para os responsáveis pelo repositório com sugestões para o aprimoramento.
“Todas as sugestões serão analisadas e verificaremos o que poderá ou não ser implementado em curto, médio e longo prazo”, afirma Cláudia Bauzer Medeiros, professora do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e participante do projeto.
Agora, em uma nova etapa que já está sendo planejada, o repositório COVID-19 Data Sharing/BR também deve concentrar dados de imagens, como radiografias e tomografias, de pacientes diagnosticados com o novo coronavírus.
Impactos na saúde
Além de pesquisadores do Brasil, o conjunto inicial de dados disponibilizado para consultas já foi acessado e baixado por cientistas dos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Alemanha, Bélgica, Argentina, Romênia, Holanda, Reino Unido, Índia, Canadá, França, Finlândia e Tailândia. Todos podem se beneficiar das informações compartilhadas a partir dos casos brasileiros da COVID-19.
Além disso, o COVID-19 Data Sharing/BR reúne dados nacionais sobre o novo coronavírus com qualidade suficiente para incluí-los em grandes estudos internacionais. Assim, a iniciativa caminha para contribuir, não apenas para pesquisas voltadas à situação no Brasil, mas também para acelerar a pesquisa mundial na busca por uma vacina ou cura da doença, por exemplo.
Fonte: Canaltech