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No Peru, plataforma milenar imita som de trovão ao dançar sobre ela

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No Peru, plataforma milenar imita som de trovão ao dançar sobre ela - 1

Arqueólogos descobriram, no Peru, uma antiga “pista de dança retumbante”, estrutura feita para criar um som percussivo parecido com o de um trovão ao ser pisoteada. O piso especial fica em uma plataforma a céu aberto em Viejo Sagayaico, a 200 km da capital, Lima, e foi feito entre 1000 e 1400 d.C. Ele teria sido usado até 1532, durante o reinado Inca na região, e provavelmente ainda sobreviveu aos primeiros anos da invasão espanhola.

Os pesquisadores sabem que os rituais andinos de dança de antes da chegada dos europeus eram parte importante das práticas religiosas dos povos da região. Isso leva a crer que a plataforma foi construída especialmente para ressoar os sons naturais associados à dança, segundo Kevin Lane, arqueólogo do Instituto de Las Culturas (IDECU) da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, que encabeçou o estudo.

Para os incas, a conexão com os deuses através do som era importante, como diversos estudos vêm mostrando — entre eles, os deuses do trovão e das montanhas (Imagem: Pexels)
Para os incas, a conexão com os deuses através do som era importante, como diversos estudos vêm mostrando — entre eles, os deuses do trovão e das montanhas (Imagem: Pexels)

Uma pesquisa descrevendo o sítio foi publicada no periódico científico Journal of Anthropological Archaeology. Lane comenta que o sítio teria servido uma função única na paisagem andina do Peru, onde os mitos e crenças dos incas convergiam com os ritmos naturais da terra. A pista retumbante seria um “facilitador” à comunicação com o divino durante cerimônias, sendo não apenas um palco para performances, mas também uma espécie de templo dedicado ao deus do trovão, Illapa.


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Como o piso retumbante foi construído

A curiosa estrutura foi construída de forma que ficasse de frente à montanha próxima de Huinchocruz, e incluía uma plataforma cerimonial reverenciada conhecida como ushnu. Uma das duas plataformas a céu aberto servia como fundação para a pista de dança. Os deuses locais da montanha também teriam sido reverenciados através do piso especial, dada sua localização.

Segundo os arqueólogos responsáveis, a pista de dança foi identificada quando um som oco foi ouvido ao pisar no solo, o que despertou sua curiosidade. A plataforma consiste de quatro camadas de material especial, pensados especialmente para criar um som percussivo que imita o trovão. São elas o guano (esterco compactado) de camelídeos (lhamas) e lama argilosa, cuidadosamente empilhados.

As camadas da pista de dança foram escavadas e estudadas pelos arqueólogos, que acreditam ter um propósito ritual de se conectar aos deuses do trovão e da montanha (Imagem: Projeto ORP-PIACI)
As camadas da pista de dança foram escavadas e estudadas pelos arqueólogos, que acreditam ter um propósito ritual de se conectar aos deuses do trovão e da montanha (Imagem: Projeto ORP-PIACI)

As camadas foram empilhadas estrategicamente, com espaçamento suficiente para criar um som grave, como um contrabaixo, ao pisotear o solo. Toda a pista de dança tinha cerca de 10 metros de diâmetro e podia aguentar até 26 pessoas de cada vez, segundo as estimativas dos pesquisadores. A poeira levantada pela atividade, teoriza Lane, provavelmente era uma característica visual adicionada ao efeito da performance.

A descoberta levanta a possibilidade de que partes de outros sítios arqueológicos andinos também possam ter sido construídas para amplificar o som. O significado profundo dos sons em antigos rituais dos povos da região vem sendo estudado, em geral, em sítios como o de Chavin — outro local que passa pela análise é Huánuco Pampa, nos Andes Centrais. Aparentemente, a antiga civilização Inca usava o poder dos ruídos para criar uma conexão sagrada com as entidades que adoravam e o cosmos.

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Fonte: Canaltech