A representatividade de gênero e sexualidade são fatores importantíssimos na construção identitária de cada pessoa, e por essa razão as pautas LGBTQIAPN+ estão cada vez mais presentes ao longo do ano, e não apenas no Mês do Orgulho. Contudo, já é extremamente gratificante ver que essa luta já vem rendendo excelentes resultados.
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Com mais e mais pessoas se sentindo confortáveis para se assumirem em suas identidades, cada vez mais contextos se tornam mais acolhedores e inclusivos, de ambientes de trabalhos a espaços públicos, físicos e digitais. Por mais que essa diversidade seja essencial, sim, em todos os espaços sociais, o benefício de termos grupos pluriculturais e pluri-identitários é ainda mais importante nos setores mais criativos da sociedade.
Games são espaços de debate, mas também acolhimento
É comum buscarmos no entretenimento lugares, não apenas de descanso, mas acolhimento. Sempre temos aquela série ou game favorito, que por algum motivo nos levam a um lugar confortável na nossa cabeça e imaginação.
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Um fator que pesa muito para criarmos esse laço de afeto é, justamente, o reconhecimento profundo — e até subconsciente — com elementos daquela história, contexto ou personagem. Tanto por isso, segundo uma pesquisa do início de 2024 da Nielsen Games, pessoas LGBTQIAPN+ são mais propensas a jogarem games de RPG ou simulação.
Isso porque, de maneira geral, nesses universos temos uma liberdade enorme para criarmos – ou no mínimo guiarmos – uma narrativa alinhada com a nossa identidade. Quando pegamos um game como Baldur’s Gate 3, com uma história de fantasia riquíssima, os pontos mais fortes do jogo, e que fazem dele algo tão impressionante, são seus elementos sociais.
Nele podemos escolher basicamente qualquer caminho e interesse afetivo, e o amor dos gamers pelo vampiro pansexual, Astarion é um sinal claro de como essa liberdade é importante para gerar identificação e criar laços. Praticamente todo personagem em Baldur’s Gate 3 está no espectro LGBTQIAPN+, de Umbralma a Karlach, e tudo é construído para que as interações sejam naturais, leves, livres de preconceito ou estereótipos.
No entanto, nem só de RPGs é feita essa representatividade, e dezenas de outros jogos modernos extremamente populares trazem o Orgulho LGBTQIAPN+, não como tema central, mas como elemento narrativo natural. Em Life is Strange, por exemplo, o relacionamento entre Max e Chloe é considerado pela maioria esmagadora dos gamers como canônico, pois tudo avança de forma tão natural, que seria estranho elas não terminarem “juntas”, independente da escolha final, — sem spoilers.
Naturalizar identidades é resgatar a essência de ser gamer
Já em Tell Me Why, da mesma desenvolvedora, Tyler é, possivelmente, o primeiro protagonista claramente transexual em um game, sem insinuações ou queerbait. Ele é o que é, e acompanhar sua trajetória para estar em paz com sua sexualidade e identidade é um ponto fortíssimo, e, ao mesmo tempo, de uma delicadeza, que é impossível não se emocionar.
A questão é que, todos esses elementos que enriquecem suas respectivas histórias, são ainda mais importantes para pessoas LGBTQIAPN+ em seus próprios processos de aceitação e construção de identidade. Por décadas os games trouxeram quase que integralmente personagens cis-hétero, sem nunca questionar o quanto isso, de fato, reflete a diversidade da sociedade como um todo.
Ter tantas histórias novas e incrivelmente poderosas quebrando essa heteronormatividade compulsória é um movimento enriquecedor e, acima de tudo, transformador. Elas servem para muito mais que atrair gamers LGBTQIAPN+, mas trazem recortes mais fiéis da nossa sociedade, criando experiências muito mais imersivas e críveis.
Naturalmente, os impactos positivos desse movimento também se refletem na própria forma como a indústria de games avança. O sucesso de personagens como Astorion, Max e tantos outros, escancaram a relevância da diversidade tanto nos games quanto em seu desenvolvimento, levando os estúdios a expandirem a pluralidade em seus times criativos.
Em paralelo, essas mudanças ainda viabilizam iniciativas como o The Trevor Project, que visam criar comunidades cada vez mais inclusivas, acolhedoras e, principalmente, seguras para gamers de todas as identidades. Na prática, fica nítido que trazer as pautas LGBTQIAPN+ para os games é um passo natural em um movimento de evolução, que resgata o caráter de inclusão, debate, e acolhimento, sempre central na cultura dos jogos, resgatando o próprio orgulho e essência de ser gamer.
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Fonte: Canaltech