Cometas não são os únicos corpos celestes a possuírem uma cauda. Existem outros objetos espaciais que apresentam caudas — algumas bastante sutis e outras mais exuberantes. Um deles é Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, cuja massa é tão baixa que não permite a formação de uma atmosfera.
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Além de ter apenas cerca de 5,5% da massa da Terra, Mercúrio tem um campo magnético bastante fraco, equivalente a 1% do magnetismo terrestre. Juntos, esses fatores fazem com que aquele mundo tenha apenas algo semelhante à nossa exosfera (a camada que fica acima da atmosfera de nosso planeta). E por estar bem próximo de nossa estrela, Mercúrio recebe constantes ventos e radiação solares.
Sua exosfera é composta principalmente de átomos de oxigênio, sódio, hidrogênio, hélio e potássio, que são continuamente estimulados pelo vento solar. O planeta até consegue segurar essa camada de átomos com sua pequena gravidade, mas não o suficiente para que eles se comportem como um gás. O resultado é que Mercúrio não consegue se proteger contra ventos solares, radiação ou meteoritos — na Terra, tanto a atmosfera relativamente densa quanto nosso campo magnético nos protegem de todas essas ameaças.
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Mas o que tudo isso tem a ver com a cauda mercuriana? Bem, todas essas características são, de certa forma, semelhantes às de cometas. As caudas cometárias se formam à medida que eles se aproximam suficientemente do Sol para que o gelo dentro deles comece a sublimar (ou seja, se transformar em gás antes de passar pelo estado líquido). Quando o gás escapa do corpo do cometa, a poeira acumulada no objeto começa a levantar.
Nov 10, 2020:
That’s not a comet but the tail of our inner planet Mercury ”seen“ from my backyard. This stacked image was exposed through a custom-made Sodium filter. The horizon is from the first exposure.#mercury #spica #yellow #sodium #sodiumtail #spica #astronomy #science pic.twitter.com/vjpK3RAkeA— Dr. Sebastian Voltmer (@SeVoSpace) November 15, 2020
Enquanto todo esse processo acontece, a radiação solar exerce pressão contra o cometa (lembre-se, ele está se aproximando do Sol), empurrando aquela poeira em sentido oposto à estrela, ao mesmo tempo em que o gás (do gelo sublimado) é moldado pelos campos magnéticos do vento solar. É por isso que, se pudermos observar mais de perto, os cometas possuem duas caudas.
Em Mercúrio ocorre algo bem parecido, exceto que a cauda não será formada por gelo sublimado. Os elementos principais da cauda mercuriana são os átomos de sódio, que brilham quando ionizados pela radiação ultravioleta do Sol. Como resultado, o planeta ganha a aparência de um cometa, e podemos observar esse fenômeno aqui da Terra se tivermos instrumentos adequados. Às vezes, o mesmo acontece Vênus também, quando o vento solar sopra na direção certa.
Here’s Mercury and its sodium tail on June 4 through a 60 mm refractor and a 589.3/1.0 nm bandpass filter. The trailed star to the lower left is HIP 31650. pic.twitter.com/jlbKu5B3Oo
— Qiсһеng Ζһаng (@aciqra) June 14, 2020
Mas a cauda de Mercúrio é mais que apenas uma curiosidade bonita. Ela é importante porque permite que os cientistas estudem a exosfera do planeta e suas variações sazonais. Eles também podem aprender como eventos solares, erupções e ejeções de massa coronal afetam o planeta. Esses estudos podem inclusive ser usados em pesquisas de outros sistemas estelares e na busca por vida alienígena. É que, se os cientistas detectarem sódio ao redor de outras estrelas, pode ser que se trate da cauda de um planeta rochoso, talvez potencialmente habitável.
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Fonte: Canaltech