Existem genes que deixam uma pessoa mais suscetível à depressão, e segundo uma nova descoberta relatada na Molecular Psychiatry no início deste mês, alguém que tem essa genética também está mais sujeito a passar por situações estressantes.
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Pode parecer abstrata a ideia de que os genes podem “atrair” uma determinada situação, mas os cientistas da University of Sydney, na Austrália, têm uma teoria.
Primeiro, vamos entender como eles chegaram a essa descoberta: primeiro, analisaram a amostra de DNA presentes na saliva de mais de 14 mil pessoas com depressão para calcular o risco genético de transtornos mentais.
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Depois, esses participantes responderam a pesquisas sobre a exposição a eventos estressantes da vida (como agressões ou a perda de alguém).
Depressão reativa e depressão endógena
Para guiar o estudo, os participantes foram divididos entre dois grupos: depressão reativa e depressão endógena.
Essa divisão se refere a dois subtipos de depressão. Enquanto a reativa é gerada pela exposição a eventos estressantes, a depressão endógena vem dos genes ou da química cerebral.
O resultado da pesquisa surpreendeu os autores, porque, como é de se presumir, eles achavam que os participantes com propensão à depressão reativa relatariam maior exposição a eventos estressantes, mas o que aconteceu foi o oposto.
Assim, eventos como agressão com arma, agressão sexual, acidentes, problemas jurídicos, problemas financeiros, abuso e negligência na infância foram mais comuns em pessoas com maior risco genético de depressão.
Na concepção dos autores, o risco genético para transtornos mentais altera a sensibilidade das pessoas ao meio ambiente.
Ligação entre genética e depressão
Um estudo do periódico Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry mostrou que existe uma ligação genética entre saúde mental na infância e na vida adulta. Segundo a descoberta, a genética pode estar relacionada a 40% do risco de uma pessoa desenvolver sintomas de ansiedade e depressão.
Para se ter uma noção dessa ligação, a ciência já encontrou até mesmo genes associados com o risco aumentado de suicídio.
Como o DNA “atrai” eventos estressantes?
A genética pode influenciar na depressão. Mas então como o DNA atrairia esses eventos estressantes? Sabe aquele meme do ônibus que tem duas pessoas, e uma delas olha a belíssima paisagem de um lado, feliz, enquanto a outra olha triste para a janela do outro lado, em que só tem as paredes escuras de uma montanha? Então. É mais ou menos isso que acontece. Por exemplo:
Duas pessoas perderam o emprego. A que tem alto risco genético para depressão enxerga essa situação com sentimentos extremos: vergonha, desespero, perda de autoestima. Como a outra pessoa não tem essa pré-disposição, encara esse gatilho apenas como um acontecimento da vida e “vira a página” com mais facilidade.
Então duas pessoas internalizam o evento de maneira diferente e lembram dele de maneira diferente. A teoria apresentada nesse estudo mais atual é que o risco genético também pode aumentar a probabilidade da pessoa buscar inconscientemente esses ambientes estressantes, onde coisas ruins acontecem.
Se uma pessoa tem os genes da depressão e sofre com a baixa autoestima, pode ter mais chances de entrar em um relacionamento abusivo, e isso aumenta o risco de eventos estressantes em sua vida.
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Fonte: Canaltech