Comportamento

Funk Brasileiro Causa Furor Internacional: Descubra Como o Gênero Musical Está Conquistando Gringos!

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Imagem de IADE-Michoko por Pixabay

 

A cultura brasileira é conhecida por sua riqueza e diversidade, e isso tem agradado a todos os tipos de público, alcançando até mesmo lugares distantes fora do Brasil. Nos últimos tempos, o gênero musical funk tem chamado a atenção dos olhos estrangeiros. Com o sucesso de artistas como Anitta no cenário internacional, um público maior tem entrado em contato com os ritmos do baile funk.

Nomes como JBalvin, Maluma e Karol G, da Colômbia, têm se aproximado da música brasileira, inclusive Karol está preparando um álbum de funk. No entanto, o funk que chega ao exterior com Anitta ou com o hit “Bum Bum Tam Tam”, de MC Fioti, está mais ligado a uma visão pop.

No entanto, um estilo de funk menos comercial tem conquistado os ouvidos dos estrangeiros. Uma mistura de referências diversas que ainda habita o meio underground da música brasileira e faz muito mais sucesso nos bailes das comunidades do que nos streamings ou rádios. Não há uma explicação única para o sucesso, mas os três principais pilares da música brasileira estão conquistando também a crítica estrangeira.

Em 2023, um dos primeiros nomes a chamar atenção foi o DJ K, um jovem de 22 anos que era um produto do chamado “funk mandelão”, um estilo de música dos bailes das comunidades de São Paulo com uma batida marcada por notas graves. A batida é quase mais importante do que as letras e os sons foram ficando mais experimentais, com instrumentais mais altos e saturados, aproximando-se da música eletrônica.

Em julho de 2023, DJ K, cujo nome verdadeiro é Kaique Alves Vieira, lançou o álbum “Pânico no Submundo”, que misturava a base do mandelão com referências aos sons estridentes do estilo funk bruxaria, comum em Belo Horizonte. O álbum se destacou não só pela qualidade musical, mas também pela grande quantidade de recortes de sons distintos. Desde trechos de músicas da banda Alice in Chains até trechos de vídeos do YouTube falando sobre a teoria da conspiração dos Illuminati, chegando até mesmo a trechos de jornais televisivos criticando o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.

DJ K afirma que esse álbum surgiu da necessidade de se comunicar para além das palavras. Durante a pandemia, ele sentiu um clima de caos e algo assombroso. Então ele pegou esse mesmo clima e transformou em música. É uma forma, querendo ou não, de expressão, afirma o DJ. Ele entende que sua música pode não ser para qualquer um. É justamente para embaralhar a mente e deixar as pessoas meio malucas, diz ele.

K trabalha com o funk desde os 19 anos, mas só viu seu sucesso crescer no ano passado, quando o site norte-americano Pitchfork avaliou “Pânico no Submundo” com a nota 7.9, uma pontuação mais alta do que a de álbuns de artistas renomados como Kendrick Lamar, Taylor Swift, Drake e Bruno Mars. Com esse sucesso, ele viu a possibilidade de fazer uma turnê pela Europa, passando por países como Polônia, Alemanha, França, Inglaterra e Bélgica. “É muito gratificante vir de onde eu vim, fazendo um álbum apenas com um computador e um fone de ouvido, e depois descobrir que muitas pessoas ao redor do mundo ouvem minha música e querem me conhecer”, reflete o jovem natural de Diadema, em São Paulo.

Tudo começou com a intenção de falar sobre a própria realidade. O nome “Pânico no Submundo” foi escolhido para trazer à tona o pânico que as pessoas estão vivendo nas favelas, explica DJ K. “Eu, particularmente, tento transmitir uma sensação do que estamos passando na favela através da música. Coloco muitos trechos de reportagens nas músicas, trechos de letras de rap. Se você parar para ouvir algumas das minhas músicas, verá muitas referências a tudo o que acontece no meu mundo”, completa.

Outro músico que também mostrou sua própria realidade e está ganhando reconhecimento internacional é o carioca DJ Ramon Sucesso. Ele começou fazendo uma série de vídeos todas as sextas-feiras no Twitter (na época ainda chamado de X). A série recebeu o título “Sexta dos Crias” e mostrava Ramon distorcendo funks na controladora de DJ com a imagem tremida pela vibração dos graves.

Ramon tem 21 anos e trabalha com música desde os 16. Após comprar seu primeiro notebook, ele baixou um programa de DJ e foi se aperfeiçoando. Até que sua família recebeu uma transferência bancária misteriosa, sem saber quem era o remetente. Depois de muitas buscas, seu pai decidiu usar esse dinheiro para investir no futuro do filho e comprou uma controladora para Ramon. Na época, o garoto juntava dinheiro lavando carros com o irmão. “Eu ficava vidrado, tocando na controladora todos os dias. Até que meu irmão me perguntou: ‘por que você não grava um vídeo e posta no Twitter?’ Então, quando fui gravar, ele colocou a controladora em cima da caixa de graves e fez um efeito legal na imagem, mas eu nem gostei tanto assim. Quando postamos, o vídeo teve mais de 100 mil visualizações”, conta Ramon Sucesso.

Ramon é adepto de um estilo de funk chamado “beat bolha”, em que os sons de bolha são saturados e incorporados ao ritmo das batidas do baile. Os graves também são predominantes nas músicas, que nem sempre precisam ter letras, podendo ser apenas repetições de palavras.

A série “Sexta dos Crias” levou Ramon Sucesso para o centro das atenções e por isso ele decidiu transformar seus sets em um álbum que leva o mesmo nome do projeto que até hoje alimenta nas redes sociais. O álbum foi lançado também em 2023 e disponibilizado apenas no YouTube e no Bandcamp, mas promoveu uma virada na trajetória do jovem. Um selo europeu pediu permissão para transformá-lo em vinil e vários sites internacionais de música tiveram acesso à música do carioca de Duque de Caxias. “Quem diria que um jovem que já foi retirado do palco estaria gravando música para ser distribuída na Europa”, comemora o artista.

A mesma Pitchfork que reconheceu DJ K também deu uma nota alta para Ramon Sucesso, 7.7. A música dele está cada vez mais presente em terras estrangeiras e ele chegou a ser procurado por um dos produtores do rapper Travis Scott para vender beats para a superestrela do hip-hop internacional. “Ainda é difícil acreditar nisso”, celebra Ramon.

Outro artista brasileiro que tem conquistado espaço no exterior é o DJ VHOOR. No entanto, diferente dos colegas que só encontraram sucesso em 2023 graças à crítica internacional, VHOOR já fazia sucesso no Brasil antes de se aventurar além-fronteiras. O produtor, nascido em Belo Horizonte, é adepto dos ritmos ligados ao drum and bass, um desenvolvimento do gênero de música eletrônica jungle originário da Inglaterra, e lançou músicas desde 2017.

Em novembro de 2021, a carreira de VHOOR ganhou destaque no cenário pop com o álbum “Baile”, em parceria com o cantor FBC. O disco foi um dos mais ouvidos em 2022 no país e começou a tocar também fora do Brasil. A sonoridade é uma homenagem ao charme, estilo musical que deu o pontapé inicial no que hoje entendemos como funk, originado do ritmo estrangeiro miami bass.

A partir desse sucesso, VHOOR passou a ser convidado para festivais internacionais e a fazer turnês pela Europa. Uma das conquistas mais recentes e significativas foi a participação no Primavera Sound Barcelona, onde seu show foi gravado pelo canal do YouTube Boiler Room, especialista em sets de DJs. “É um orgulho para mim poder ocupar esse espaço, ter esse reconhecimento e trabalhar no mesmo ambiente que as pessoas que sempre fui fã”, diz o artista. “É muito significativo poder apresentar um pouco da cultura de periferia do meu país e fazer essa interseção com outros estilos musicais. É mostrar um pouco da cultura que não chega até eles”, acrescenta.

Ainda é difícil explicar o motivo pelo qual três estilos de música distintos, de estados diferentes, estão fazendo sucesso fora do Brasil. Um fato em comum é o uso de notas graves para marcar o ritmo. Tanto DJ K quanto Ramon Sucesso e VHOOR utilizam os graves como parte essencial das batidas. A potência desses tambores é o que dita a dança, principal impulsionador do sucesso do funk ao redor do mundo. Com mais tempo de carreira, VHOOR analisa que as raízes afrolatinas e caribenhas também têm o tambor em comum e unem o amor de povos que falam línguas diferentes e têm culturas diversas, mas possuem origens semelhantes. “Acredito que, por causa do ritmo e da alegria, seja algo relacionado à semelhança diaspórica dos sons”, avalia VHOOR.

O sucesso internacional desses DJs brasileiros mostra como a música brasileira tem conquistado cada vez mais espaço no cenário global. Com estilos únicos e influências diversas, esses artistas estão quebrando barreiras e levando a cultura do funk brasileiro para o mundo todo.