Nicolas Guerin é o que se pode chamar de veterano da indústria de games. Com 15 anos de experiência, trabalhou como level designer para a Electronic Arts e depois ficou por oito anos na Ubisoft. Lá, participou de Watch Dogs 2 e Assasin’s Creed Revelation, Unity, Syndicate e Origins. Ou seja, Guerin tem um histórico com grandes franquias da indústria.
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Talvez por isso possa soar estranho que, há três anos, ele tenha largado as empresas para trabalhar com a Thunder Lotus como diretor criativo de Spiritfarer, um jogo sobre lidar com a morte com leveza e de forma tocante.
Mas por que este movimento? “Eu sinceramente não sei o que aconteceu no caminho. Eu tenho um filho muito novo agora. Antes de ele nascer, eu não pensava na minha morte. Agora, eu fico apavorado de pensar em não estar aqui para ele”, contou em entrevista ao Canaltech.
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Spiritfarer é o novo jogo do estúdio que já tem os aclamados Jotun e Sundered no catálogo. Assim como seus antecessores, o mais recente game também é todo feito a mão, recheado de carisma e com personagens diversos.
A personagem principal é Stella, que funciona como uma Spitfarer. O termo é um neologismo inglês difícil de explicar, mas que mistura as palavras spirit (espírito) e far (distante). O significado aqui é que Stella é quem guia os espíritos para o fim de suas próprias vidas. Ou seja, leva-os para o além. “Este é um jogo sobre cuidar dos outros”, aponta o desenvolvedor.
De fato, o ciclo de gameplay reflete isso. Até dois jogadores podem controlar Stella e seu fiel gato, Daffodil, para gerenciar os ambientes de um barco e tornar o fim da vida de cada um destes espíritos mais humanizados.
Como funciona?
O Canaltech jogou uma demo de aproximadamente uma hora, explorando algumas funcionalidades mais avançadas do título. Spiritfarer é um misto de gerenciamento e fabricação de itens, com cuidar para todos estejam bem em seu barco. Para isso, é preciso sempre fazer uma longa sequência de ações.
Por exemplo, para tornar o ambiente mais confortável para um dos espíritos em formato de cogumelo, é preciso cozinhar batatas fritas para ele. Nesta intenção, o jogador precisa capinar girassóis, com os quais produz óleo para fritar as batatas. Depois pegar a raiz e levar até a cozinha onde o prato será feito para agradar seu amigo.
“Apesar dos tempos difíceis, queremos lançar uma experiência reconfortante. É sobre a perda, sobre herança, sobre jogar uma luz positiva sobre algo tão efêmero que é a vida”, conta Guerin.
Grande parte da sua jornada vai acontecer no barco, o qual você precisa aprimorar e personalizar de acordo com as necessidades dos tripulantes. Para isso, o jogador precisa sair em missões com o navio, em busca de recursos e de conhecer mais sobre o passado de cada um dos espíritos daquele lugar.
Para não tornar o sistema e coleta e produção de itens pedante, o jogo também traz pequenos minigames para cada ação. Por exemplo, quando se vai fazer tecido (como a lã que você pega da ovelha do navio) há uma mecânica na qual é preciso apertar o botão na hora certa para não perder o fio do tecido.
Em outro, quando se vai produzir um minério novo, o jogador precisa atiçar o fogo da fornalha, tomando cuidado para não esquentar demais. Toda esta necessidade de pequenas ações tira a sensação de que você está apenas cumprindo tarefas de point n’ click, trazendo um dinamismo para o game.
A morte não-violenta
Voltando ao passado de franquias de Guerin, games como Assassin’s Creed e Watch Dogs lidam com a morte o tempo todo. Como aponta o diretor criativo, nestas franquias, o outro nem sempre significa um ser com história ou narrativa, mas apenas um obstáculo a ser superado.
Agora, em Spirtfarer, ele quer ir além deste pensamento. Apesar de lidar com a morte, o jogo não conta com batalhas, ou eliminar os inimigos. A passagem é uma necessidade inerente dos seres vivos.
“Não me entenda mau. O combate tem seu valor, mas não é o que queremos discutir aqui. A promoção é do cuidado do outro, com uma gameplay relaxante”, ressalta o desenvolvedor.
Para isso, os desenvolvedores foram buscar referências na Grécia antiga. Stella é uma metáfora da figura de Caronte, o barqueiro de Hades, cujo objetivo é levar as almas para o deus da morte. Para uma localização brasileira, é o mesmo tema de Gil Vicente no Auto da Barca do Inferno. Por isso, o objeto que traz novas habilidades para Stella é o óbolo, moeda que era o pagamento do Caronte para levar os mortos até Hades.
É preciso notar que todos os pontos estão entrelaçados sobre a mitologia grega da morte. Contudo, esta não é a única referência. Segundo Guerin, há inspirações em filmes do estúdio Ghibli, principalmente em narrativa e criação de personagens. Para a gameplay, os desenvolvedores foram buscar ideias de replicar o sistema de itens e cotidiano de Stardew Valley.
Guerin também viu em Spiritfarer a oportunidade de dar um toque mais pessoal ao game. Trabalhando em franquias enormes como Assassin’s Creed, ele relata que não havia muito espaço para dar sua cara ao produto.
Prepare o lenço
Bom, Spiritfarer é um jogo sobre a morte e, como tal, sobre toda gama de léxico carrega. Assim, também é sobre olhar para seus erros, uma discussão sobre o fim e a efemeridade da vida.
O game trata disso de uma forma muito, mas muito leve. Para os personagens, a passagem é somente mais uma etapa. Contudo, isso não faz do título menos tocante e emotivo.
Nos testes do Canaltech, foi possível levar Gwen, uma alce fêmea estilosa, tal qual uma madame francesa do século passado. Ela tem câncer de pulmão por conta do cigarro que fuma o tempo todo no barco.
Stella a guia pelo portal que a levará para morte, cuja travessia é recheada de questionamentos. Gwen teve uma relação difícil com o pai e guarda dele um isqueiro velho, uma ironia diante do câncer de pulmão que mata. A personagem reflete sobre sua vida, a história com o pai e sobre a morte em si. Nunca de modo negativo, mas com um bonito olhar sobre o passado e herança.
Stella é uma protagonista silenciosa, sem falas. “No leito de morte de alguém, você pode dizer pouco. Para quem aparta dos doentes, é mais importante ouvir que falar. Essa é a função do barqueiro”, lembra Guerin.
Chegada a hora da morte, o jogo se transforma em um bonito cenário de animação que lembra bastante a Gris e até mesmo Ori and The Blind Forest. Com a música interrompida, o game delega ao jogador um momento de luto singelo, mas preciosos. Esse processo deve ser repetido a vários personagens durante o jogo.
Quando?
Se você está em busca de fugir do convencional jogo de tiro, porrada e violência, para algo mais tocante e relaxante, Spiritfarer será uma boa pedida. O jogo está em desenvolvimento há 3 anos, com um excelente polimento na demo e visual bastante impressionante.
Apesar de não contar ainda com tradução na versão testada pelo Canaltech, os desenvolvedores prometeram que o game vai ser lançado em português brasileiro. Isso é bastante importante, já que o cerne do jogo é a história que ele quer contar.
Desenvolvido pela Thunder Lotus Games, Spiritfarer será lançado para PC, Xbox One, PlayStation 4, Nintendo Switch e no Google Stadia, mas ainda não tem data definida. A expectativa é que isso ocorra ainda em 2020.
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Fonte: Canaltech