As obras de restauração e de reabilitação do conjunto paisagístico do Paço de São Cristóvão, onde funcionava o Museu Nacional, destruído por um incêndio em setembro de 2018, vão começar em abril. Na primeira etapa, serão recuperados os ornatos das salas nobres do prédio histórico, antiga residência da família imperial.
Nessa fase, serão restauradas também as estátuas das musas, que ficam no alto do prédio. Segundo a historiadora do Museu Nacional Regina Dantas, algumas já eram vistas desde a época de dom João VI, que pretendia imitar a construção do Palácio da Ajuda, em Portugal, que tem musas nos seus torreões. Com o imperador Pedro I, o Paço recebeu mais algumas estátuas..
Entretanto, foi com o imperador Pedro II, que instalou musas de ponta a ponta no alto do Paço, que a construção ficou com a configuração de hoje.
“Elas [estátuas] têm uma representação de inspirar a criação artística e científica. Esse é o papel delas, por isso, estão ali. Tem deusas da história, da música, da comédia, da dança, da astronomia”, informa Regina Dantas.
Jardim das Princesas
Segundo Regina, está prevista ainda a proteção dos elementos do Jardim das Princesas, como fontes de gnaisse (rocha de origem metamórfica) e guirlandas em alto-relevo, bancos e tronos, mosaicos de conchas e fragmentos de louça. Era naquele lugar, ao lado do Paço, que crianças da corte imperial brincavam e até estudavam.
O valor histórico do espaço é medido também pelas visitas de importantes pesquisadores ao local, como o físico alemão Albert Einstein, que chegou a plantar uma muda de pau-brasil no local. “Era um espaço privativo da família. Esse jardinzinho era da família, porque o jardim mesmo da família era a Quinta da Boa Vista inteira, que ia para além do [estádio] Maracanã atual. Era muito grande”, destaca Regina.
“As louças imperiais eram quebradas, e as crianças quebravam mais ainda e colavam usando a técnica italiana de mosaico para decorar sofá, poltroninhas todas enfeitadas com caquinhos de louças do Império. Dom Pedro II brincava lá, quando pequeno, e tinha um espaço com um caramanchão, onde estudava e as irmãs brincavam. Depois, quando cresceu, ele fez um troninho. Isso foi preservado porque está afastado do Paço. O que está gasto é pela questão do tempo e sem uma restauração devida”, lembra Regina.
Paço
A recuperação do prédio do Paço de São Cristóvão será a etapa seguinte. De acordo com o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, houve um atraso no projeto, e as obras deverão começar até o fim do primeiro semestre. “Se a gente conseguir o dinheiro. Se houver verba. [Essa é] uma coisa que preocupa”, diz Kellner em entrevista à Agência Brasil.
Outra frente de obras é para a construção de seis pavilhões onde vão funcionar laboratórios, em um terreno de 44 mil metros quadrados (m²), vizinho à Quinta da Boa Vista, que abriga o museu e foi cedido pelo governo federal à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que conseguiu, com apoio da bancada do Rio de Janeiro no Congresso, a aprovação de uma emenda de R$ 55 milhões para garantir os recursos necessários à infraestrutura do terreno – as obras já começaram.
A previsão é que, nos próximos meses, a administração do museu possa mudar para as novas instalações. “Os laboratórios ainda não estarão concluídos, mas estamos atuando para que haja o processo licitatório e tudo aconteça. Tem um rito que é demorado, dentro deste contexto a gente espera, ainda este ano, estar lá.”
Kellner informa que, no local, vão funcionar todos os laboratórios e os espaços destinados às novas coleções de acervo. São seis pavilhões com mais de 20 laboratórios. O material de resgate está sendo trabalhado em um anexo ao prédio do museu vai ser levado para lá. “O Museu Nacional são três pontos: o ensino, a pesquisa e a extensão vinculada ao Museu. Vamos poder voltar a fazer pesquisa de forma condizente assim que tivermos estes laboratórios.”
Segundo Kellner, a normalidade institucional se restabelecerá, e vai haver tranquilidade para o desenvolvimento das pesquisas, que são imprescindíveis para o país. “A gente atua em diversidade, em questões de extinção, questões etnográficas, vários assuntos que hoje a gente está fazendo de forma precária.”
O diretor do museu lembra que a instituição recebeu várias promessas de doações para compor o acervo, que ainda não foram entregues porque não existe lugar para guardá-las. “Assim que tivermos condição vamos receber. São peças da cultura africana, biológicas, de paleontologia e etnográficas de instituições do Brasil.”
Para o bioarqueólogo Murilo Bastos, a construção desses laboratórios será decisiva para a continuidade do trabalho de pesquisas da instituição. “Com a reconfiguração do museu e, pesando o fato de ter havido o incêndio, os laboratórios serão fundamentais para a pesquisa e a parte de salas de aula, porque o museu também é aula, educação e pesquisa. Esse outro prédio será fundamental para que possamos trabalhar em uma parte que não é tão conhecida pelo público”, ressaltou.
Fonte: Agência Brasil