O mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) pode ser também o próximo cineasta brasileiro a ter uma produção concorrendo ao Oscar, maior prêmio do cinema mundial. Carlos Diegues, ou simplesmente Cacá Diegues, está em cartaz com O Grande Circo Místico, filme escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar do ano que vem, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. A lista dos escolhidos para a disputa será divulgada em janeiro.
Mas Cacá não supervaloriza o prêmio. Para ele, a crítica do público está acima de tudo. “Eu não faço do Oscar o juiz supremo do cinema brasileiro. Aliás, de nenhum filme do mundo, do brasileiro sobretudo. Quem julga a qualidade do filme é o espectador”, diz o cineasta em entrevista ao programa Conversa com Roseann Kennedy, que vai ao ar nesta segunda-feira (17), às 21h15 na TV Brasil.
Cacá Diegues considera O Grande Circo Místico seu melhor filme. “É uma síntese de tudo o que eu fiz em cinema até hoje, é uma síntese do que eu penso do cinema”, afirma.
Adaptação de um poema do alagoano Jorge Lima, O Grande Circo Místico narra a história de cinco gerações de uma família circense e é embalado por músicas de Edu Lobo e Chico Buarque.
A produção é resultado de 12 anos de trabalho de Cacá Diegues, que a considera ser uma obra diferente do que se produz atualmente na América Latina. “O que se espera do cinema latino-americano é um cinema realista, dentro do que eles acham que é a América Latina. E este é um filme mais fantasia, meio barroco, com imagens que não são propriamente realistas.”
Ao falar do futuro do cinema, Diegues é otimista. Ele destaca que o Brasil está produzindo quase 180 filmes por ano, com muito conteúdo de qualidade. “Temos cineastas estreando com ótimos filmes que estão ganhando prêmios no exterior e recuperando o prestígio do cinema brasileiro”, afirma.
Quanto à revolução tecnológica que hoje atinge todas as artes, o cineasta não titubeia ao responder que o futuro do cinema está na tela do celular. “A gente está filmando para o cinema, para o DVD, para a televisão e também para o streaming. O streaming é a plataforma do momento. Quantas pessoas estão vendo, como é fácil você ter [acesso ao filme]. No dia em que o streaming for uma indústria, uma economia viável dentro do Brasil, você vai ver filme um atrás do outro.”
Ainda sobre o avanço digital, Cacá Diegues reclama de quando o Festival de Cannes, na França, proibiu os filmes exibidos em plataforma de vídeo pela internet. “Achei de um reacionarismo insuportável”, diz, expondo uma de suas características que é não ter medo de criticar, nem de ser criticado.
Em 1978, por exemplo, para rebater críticas dos que exigiam postura política mais contundente nos seus filmes, Cacá se queixou das “patrulhas ideológicas”. O que ele não imaginava, à época, é que a expressão de sua autoria seria atual até hoje. “Eu não faço o filme para mudar a opinião de ninguém. Eu faço filme sobre o estado do mundo. Eu não faço filme nem para o passado, nem para o futuro. Eu faço o filme sobre o presente, sobre o que eu acho sobre o estado do mundo para os meus contemporâneos. Então, vamos ver juntos isso, vamos discutir juntos. Agora, porque a ideologia está errada, aí eu já não sei”, afirma.