.
De cada 10 estudantes LGBTI+, com 16 anos de idade ou mais, nove foram vítimas de bullying na escola, no ano passado. E mais de 30% foram agredidos fisicamente. É o que aponta a Pesquisa Nacional sobre o Bullying no Ambiente Educacional Brasileiro, da Aliança Nacional LGBTI+, organização da sociedade civil em defesa dessa população.
A maior parte dos entrevistados relata ter sido alvo de xingamentos, ofensas, ou piadas de mau gosto, devido à orientação sexual. Outra parte por não estar de acordo com os padrões ditos “tradicionais” de masculinidade ou de feminilidade.
O levantamento ainda mostra que 86% desses estudantes se sentem inseguros no ambiente escolar, devido a alguma característica. Essa é a sensação de 93% do grupo de estudantes trans ou travestis.
Elis Gonçalves é mãe de um adolescente trans de 13 anos, que nasceu com corpo biológico atribuído ao sexo feminino, mas que se identifica como um menino. Para Elis, os números revelam o que a família já sente na pele, inclusive na escola.
A gente vê essa exclusão na pele com nossos filhos expostos das escolas todos os dias. É uma tristeza! É um desrespeito ao nome social nas escolas. É o professor que se recusa a chamá-lo pelo nome dele. Não pode usar o banheiro de acordo com seu gênero. São crianças que têm infecção urinária, que não fazem as necessidades mais básicas. Eu tenho falado para o meu filho: -‘Sobreviva ao ensino médio porque a sua vida não vai terminar aqui.’ Mas o que nós temos são crianças e adolescentes que estão sobrevivendo à escola. Infelizmente!
Diante dos números que mostram como o ambiente escolar é hostil para essas pessoas, a pesquisa da Aliança Nacional LGBTI+ avalia que existe um “despreparo, por parte das instituições de ensino”, principalmente porque, entre os agressores, estão os próprios educadores. É o que destaca o Presidente da Aliança, Toni Reis.
Nós precisamos trabalhar isso com uma política pública estrutural. Não algo de doutrinação. Esse é um dado da pesquisa que me surpreendeu: 35% dos perpetradores do bullying são professores. A gente tem que cuidar. Como a gente vai abordar esse professor? Porque às vezes o professor faz uma brincadeira. Para ele é uma brincadeira, mas para os estudantes não é. Então, por isso que a gente tem que ter um canal aberto de receber os feedbacks dos adolescentes, que muitas vezes o professor está fazendo uma piada, um apelido, e isso ofende a pessoa.
E aí vem um cenário ainda mais difícil: ao pedir ajuda da instituição de ensino, os estudantes acabam nem recebendo o apoio devido, e consideram a resposta ineficaz no combate a esse tipo de violência.
Com isso, 39% dos que já sofreram algum tipo de bullying por ser LGBTI+ relatam que nunca conversaram com ninguém a respeito do que sofrem. Mais de 40% procuraram conversar com amigos, mas muito poucos acionaram familiares para falar a respeito.
E quando se fala em saúde mental, 94% dos estudantes LGBTI+ entrevistados, na faixa etária da pesquisa, relataram ter se sentido deprimidos no mês anterior à pesquisa: situação que exige, segundo o relatório, medidas “para garantir e promover ambientes mais seguros e acolhedores”.
*Com a colaboração de Daniela Almeida, da Agência Brasil.
liliane.farias , .
Fonte: Agencia brasil EBC..
Wed, 16 Apr 2025 19:12:12 +0000