Cientistas da Universidade de Stanford classificaram a depressão em seis novos tipos em estudo publicado na revista científica Nature Medicine na última segunda-feira (17) — o trabalho envolveu o imageamento de centenas de pacientes e tecnologias de aprendizado de máquina para detectar padrões de atividade cerebral.
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No tratamento atual da condição, estima-se que 30% dos pacientes tenham o que se chama “depressão resistente ao tratamento”, ou seja, quando terapias e medicamentos geralmente usados pela medicina não produzem melhora. Isso, em geral, deriva da dificuldade de descobrir qual antidepressivo funciona melhor individualmente: a prescrição costuma ser feita por tentativa e erro.
Buscando melhorar a situação, os pesquisadores estudaram 801 pacientes diagnosticados com depressão ou ansiedade com ressonância magnética, tanto em repouso quanto durante atividades desenhadas para o teste de funções emocionais e cognitivas.
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Um tratamento para cada depressão
Com as imagens cerebrais em mãos, os cientistas usaram análise de cluster, um método de agrupamento que usa aprendizado de máquina, para juntar cérebros “semelhantes”, identificando seis padrões de atividade cerebral diferentes. A partir disso, 250 voluntários diferentes foram selecionados para receber um dos três antidepressivos mais comuns usados em tratamentos médicos.
No cérebro com o padrão de maior hiperatividade nas regiões cognitivas, o medicamento mais efetivo foi a venlafaxina. Já nos cérebros onde o padrão em repouso gera mais atividade associada à depressão e resolução de problemas, a psicoterapia cognitivo-comportamental foi mais eficiente.
Em um terceiro tipo, onde houve menor atividade em repouso na parte do cérebro responsável pela atenção, a psicoterapia teve a menor performance na redução da depressão em comparação aos outros padrões cerebrais.
A diferença entre cada tipo influencia tanto na eficiência dos diferentes tratamentos quanto nos sintomas dos pacientes. Em quem a região cognitiva do cérebro é mais hiperativa, há maior dificuldade de sentir prazer e em desempenhar tarefas relacionadas a funções executivas, por exemplo — nos mais receptivos à psicoterapia, as funções executivas também ficam prejudicadas, mas as tarefas cognitivas, não.
Curiosamente, um dos tipos identificados na pesquisa não teve diferenças perceptíveis na atividade cerebral quando comparado a imagens dos cérebros de pacientes sem depressão.
No estudo, os autores nomearam cada biotipo cerebral de acordo com as características de seus circuitos neurais relacionados à depressão. Na nomenclatura, cada circuito tem seu “nome científico” formado por letras, que significam:
- D: modo padrão;
- S: saliência
- A: atenção
- NS: circuito de afeto negativo evocado por estímulo triste
- NTN: circuito de afeto negativo evocado por estímulo inconsciente
- P: circuito de afeto positivo
- C: circuito cognitivo
- A: atividade
Sendo assim, chegaram ao resultado de 6 tipos de depressão, listados a seguir:
- A) Biotipo DC+SC+AC+: distinguido por relativa hiperconectividade intrínseca dentro do circuito de modo padrão, bem como nos circuitos de saliência e atenção livres de tarefas
- B) Biotipo AC–: distinguido por uma redução relativa na conectividade intrínseca específica do circuito de atenção
- C) Biotipo NSA+PA+: caracterizado por atividade aumentada durante o processamento consciente de emoções, especificamente dentro do circuito de afeto negativo evocado por estímulos tristes e dentro do circuito de afeto positivo evocado por estímulos felizes
- D) CA+: distinguido especificamente pelo aumento da atividade dentro do circuito de controle cognitivo durante a inibição dos estímulos NoGo
- E) NTCC-CA–: diferenciado por uma perda relativa de conectividade funcional dentro do circuito de afeto negativo durante o processamento consciente de faces de ameaça, bem como por atividade reduzida (em vez de intensificada) dentro do controle cognitivo circuito durante a inibição de estímulos NoGo
- F) Biotipo DXSXAXNXPXCX: não diferenciado por uma disfunção substancial do circuito em relação a outros biótipos ou à norma saudável
Os cientistas esperam que, com o estudo, seja possível testar mais tratamentos contra a depressão e de maneira mais eficiente, verificando o que funciona melhor para cada um dos seis tipos e incluindo medicamentos ainda não usados contra o transtorno.
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Fonte: Canaltech