O drama Grande Sertão chega aos cinemas no próximo dia 6 de junho adaptando a clássica história contada pelo escritor mineiro João Guimarães Rosa no livro Grande Sertão: Veredas, de 1956, um dos grandes clássicos da literatura brasileira. O filme reconta a trama do livro, mas muda alguns detalhes importantes. O cenário rural fica para trás e a história ganha ares distópicos ao trazer facções criminosas uma cidade cercada de muros.
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Na trama, Riobaldo é um professor de escola pública que leciona em uma favela. Um dia, diante de um tiroteiro, ele percebe que a integrante do bando de criminosos, Diadorim, foi baleada. Ele a esconde e a ajuda a escapar da polícia, mas fica impossibilitado de retomar sua vida ao mentir para as autoridades. Sem trabalho e apaixonado por Diadorim, resolve, então, se juntar ao grupo e fazer justiça com as próprias mãos.
Para contar essa releitura, o filme trouxe como protagonistas Caio Blat e Luisa Arraes, além de Rodrigo Lombardi assumindo o papel de Joca Ramiro, o grande chefe dos jagunços, Luis Miranda como Zé Bebelo, um fazendeiro poderoso da região, Luellen de Castro sendo a prostituta Nhorinhá e Eduardo Sterblitch como Hermógenes.
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As primeiras imagens divulgadas indicam que a obra terá muitas cenas de ação, especialmente de trocas de tiro e luta por justiça. “O exército de Joca Ramiro é uma representação dos oprimidos”, explica Rodrigo Lombardi sobre como seu personagem e o longa representam nossa sociedade atual. “De alguma forma, todos já nos relacionamos com isso e sofremos ou conhecemos alguém que sofreu, ou se perdeu por causa dessa opressão de quem é mais poderoso do que você”.
Do livro para o filme: o que muda?
Apesar de manter a essência do livro, o longa de Guel Arraes (O Auto da Compadecida) mudou alguns pontos importantes, sendo o cenário um deles. O diretor comentou sobre isso.
“Ele [o livro Grande Sertão: Veredas] é, para mim, o maior livro brasileiro. Para muita gente, é o maior livro da língua portuguesa. E tem uma história incrível, uma poesia maravilhosa, e é um desafio transpor. Já a questão da guerra urbana, digamos, foi um pouco a nossa… Como você entra em um livro que é absolutamente consagrado? Você já está perdendo de 10 a 0. Como você vai trazer algo que possa acrescentar àquela obra?”
Mais do que trazer algo novo para o público, Guel também percebeu, durante a criação do filme, que muitos lugares do Brasil se assemelham com esse sertão narrado por Rosa. “O Grande Sertão poderia se passar em uma prisão, em uma favela, porque são lugares onde as pessoas se organizam para sobreviver, porque não tem Estado.”
A questão da sexualidade e do gênero de Diadorim também foi alterada. No livro, Riobaldo se martiriza por imaginar estar amando um homem, para ao final descobrir que trata-se de uma mulher. Já no filme, o assunto é tratado de outra maneira porque o diretor acredita que o debate sobre revelar sua homo ou bissexualidade já avançou de lá para cá.
“Talvez tenha sido a coisa que a gente mais mexeu no livro, mais que a transposição. Não é que a gente mexeu, a gente acrescentou. Achamos que ‘sair do armário’ já não é uma questão tão contemporânea quanto era quando o Guimarães escreveu esse livro, em 1956, que foi uma coisa revolucionária do ponto de vista comportamental. Então, a gente achou que precisava atualizar isso, porque o mundo andou. Começamos a imaginar quem era Diadorim, e aí demos as motivações para Diadorim estar desse jeito, que não é propriamente só entrar na guerra, é uma grande motivação dela, mas ela luta contra o estereótipo feminino de que a mulher não pode fazer a guerra, de que a mulher tem que botar vestido. O pai dela dá um vestido, ela não quer. A mulher é combatente, ela é guerreira, ela é potente.”
Juntos em cena e fora dela
Grande Sertão marca a segunda vez que Caio Blat e Luisa Arraes dão vida aos mesmos personagens. Eles já viveram Riobaldo e Diadorim na peça de teatro Grande Sertão: Veredas, da diretora Bia Lessa, que estreou em 2017. Isso garantiu que eles tivessem mais conhecimento de seus personagens e tempo de pesquisa.
Em uma entrevista para a imprensa, Caio comentou como o filme de Arraes traz uma visão totalmente nova para a obra de Guimarães Rosa.
“Quando o Guel me chamou, foi uma surpresa muito grande. Como já fazia a peça da Bia e tinha planos de fazer também um filme dela, eu não imaginava de maneira alguma que o Guel fosse me chamar. Fiquei, confesso, até meio constrangido. Tinha feito toda uma pesquisa e uma criação de personagem com a Bia, seria como aproveitar um trabalho em outro. Quando li o roteiro, vi que não tinha absolutamente nada a ver. Aí foi que achei incrível: fazer duas versões do mesmo personagem em dois universos completamente diferentes.”
Grande Sertão nos cinemas
O filme de Arraes não é a primeira adaptação cinematográfica da obra de Rosa. Em 1965, o diretor Geraldo Santos Pereira lançou um longa homônimo ao livro e bem fiel à história. A trama contou com o veterano Milton Gonçalves e atualmente pode ser encontrada completa no YouTube.
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Fonte: Canaltech