Os Estados Unidos estão divididos. Uma guerra entre simpatizantes do governo e uma república independente da Califórnia e Texas lutam pelo destino do país. No meio disso tudo, um grupo de jornalistas tenta mostrar a real face do conflito enquanto viajam por estados tomados pela intolerância ou indiferença.
Essa breve sinopse de Guerra Civil, filme de Alex Garland (Ex-Machina) e estrelado por Kirsten Dunst (Homem-Aranha) e Wagner Moura (Narcos), poderia ser de qualquer produção exagerada de ação, que eventualmente mostraria o valor dos soldados americanos e da população estadunidense. Só que Guerra Civil não é esse filme. Ele é muito mais poderoso do que isso.
O longa, que também é escrito por Garland, é possivelmente um dos filmes mais assustadoramente realistas, em que por mais que a ideia dele pareça exagerada, prova a cada nova cena o quanto esse absurdo é crível.
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Um país dividido pelas suas próprias ideologias
Desde os primeiros momentos, o espectador é recepcionado com cenas de combate em ruas americanas. A tal guerra civil do título não tem sua origem revelada em momento algum do filme, que apenas deixa claro que Califórnia e Texas formaram a mais improvável das alianças contra o governo americano, se separando e lutando pelo futuro do país.
A Flórida luta para conseguir mais territórios e o presidente americano, por mais que ainda faça discursos fortes e incisivos, parece estar cada vez mais isolado. É dentro desse cenário que conhecemos Lee, uma fotógrafa de guerra que já registrou diversos conflitos ao redor do globo, tendo que lidar com uma guerra dentro do seu próprio país. Ao lado dela, Joel, um jornalista que tem um plano perigoso: entrevistar o presidente dos Estados Unidos em Washington.
Acompanhados por Sammy, um jornalista veterano, interpretado por Stephen Henderson (Duna), e Jessie, uma jovem fotógrafa que venera Lee, eles partem uma viagem que mostra a verdadeira face do povo americano, independente de que lado do conflito que eles estão.
Guerra Civil impressiona pelo simples fato de ser um filme que mostra de maneira realista o que um conflito dessa magnitude faria com o dia a dia do americano. Ele tira esse tipo de história de países em que os Estados Unidos comumente invadem, tanto na vida real quanto no cinema, e quebra a ilusão de que isso nunca seria possível na chamada Terra da Liberdade.
A violência, a xenofobia, o preconceito e a ignorância que são retratados no filme, em momento algum, parecem absurdos porque estão presentes na vida real, muitas vezes na mesma dose que vistas na história escrita por Alex Garland.
As atrocidades cometidas por soldados, independente do lado do conflito que estejam, por um momento, parecem mais impactantes por acontecerem em cenários como subúrbios do interior dos Estados Unidos. Basta alguns segundos para perceber que essa violência é a mesma empregada pelos próprios americanos em suas incursões “pela liberdade” em outros países.
Isso vai tornando a realidade de Guerra Civil cada vez mais assustadora, pois não é difícil ver que aquilo pode acontecer a qualquer momento na nação mais poderosa do mundo. A realidade polarizada do país, que vem se potencializando nos últimos dez anos, mostra que os americanos vivem em cima de um imenso barril de pólvora, apenas esperando por uma faísca para fazer tudo ir pelos ares.
Tudo o que Alex Garland coloca na tela mostra que não precisa de muito para que isso aconteça.
Pelos olhos e lentes do jornalismo
A melhor forma de mostrar essa realidade suja da guerra de maneira nua e crua é através das lentes da fotojornalista Lee. Kirsten Dunst entrega uma das suas melhores atuações no papel de uma pessoa que parece ter se dessensibilizado com a violência das guerras por conta de seu trabalho cobrindo tantos conflitos pelo mundo.
Mesmo registrando tantas guerras, nada mudou, e agora vendo isso acontecer no quintal de casa, ela começa a questionar as suas escolhas de vida. A presença de Jessie, personagem da atriz Cailee Spaeny (Priscilla) em um excelente trabalho, faz com que ela se recorde de quando começou a fotografar e o que é preciso para conseguir fazer essa difícil tarefa.
Wagner Moura esbanja carisma no papel de Joel, o jornalista que busca a entrevista com o presidente dos Estados Unidos. A forma como ele e Dunst trabalham juntos é impressionante, pois a personalidade de cada um de seus protagonistas mostra diferentes formas de enxergar o conflito, deixando tudo mais complexo e interessante.
Ambos parecem acostumados com a violência, mas enquanto Joel lida com tudo de uma maneira mais passional, Lee parece desligada ao registrar corpos e momentos que traumatizariam qualquer pessoa. Essa forma mostra como os jornalistas são os melhores personagens para retratar essa história, já que por mais que tenham seu posicionamento frente ao conflito, eles apenas registram o que está acontecendo. Guerra Civil é um belíssimo elogio ao papel desses profissionais em momentos de crise como o retratado aqui.
Em dado momento, eles comentam como o trabalho deles não é falar quem está certo ou errado. Quem precisa fazer isso é o resto das pessoas. Eles estão ali para mostrar como as coisas realmente acontecem.
Essa é a grande sacada do filme, pois por mais que você tenha certa preferência por um dos lados do conflito, identificando quem pode estar certo ou errado com facilidade, o grupo passa por momentos em que fica claro que, na guerra, não existem mocinhos e bandidos. Existem aqueles que sobrevivem e aqueles que não conseguem.
A indiferença com o seu vizinho
Entre todas as cenas mais fortes de Guerra Civil — e existem algumas bastante tensas —, uma passagem relativamente leve mostra um lado que assusta. Ao visitar uma pequena cidade, o grupo percebe que o local parece completamente alheio a tudo o que está acontecendo.
Quando Joel questiona a atendente de uma loja se eles têm noção da guerra que está acontecendo em todo o país, a jovem diz que viu pela TV, mas que se envolver parece não ser uma boa ideia.
A indiferença às mortes e aos princípios pelos quais os dois lados lutam podem parece apenas algo presente em uma guerra, mas que também é facilmente encontrado no dia a dia de uma sociedade tomada pela violência. Desde que ela não seja direcionada diretamente a você, não tem porque se importar.
Garland consegue colocar tudo isso em um filme que ainda consegue ser emocionante e, mesmo sendo uma pedrada, é o tipo de obra que dá vontade de assistir mais de uma vez. É um longa difícil, uma história que incomoda, mas tudo é tão bem feito que se torna impossível tirar os olhos da tela.
Pouco antes da estreia de Guerra Civil, Alex Garland revelou ter vontade de deixar o trabalho de diretor, se dedicando apenas a projetos como roteirista. Se essa for realmente for a sua despedida da cadeira de diretor, por um lado é uma pena, mas por outro, é um adeus em grande estilo.
O excelente Guerra Civil estreia nos cinemas brasileiros no dia 18 de abril.
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Fonte: Canaltech