Por incrível que pareça, a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster) ou mosca-do-vinagre é uma das espécies mais estudadas por cientistas devido a suas semelhanças genéticas com os seres humanos — estas similaridades estão nos aspectos e mecanismos biológicos compartilhados, já que as formas físicas são completamente diferentes. Por causa desse interesse, pesquisadores conseguiram, pela primeira vez, rastrear como o inseto está evoluindo nos últimos 200 anos.
- Moscas morrem mais rápido quando veem outros insetos mortos
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O DNA dos espécimes de moscas-da-fruta usados nos estudos vieram de coleções de inseto suecas e dinamarquesas, encontradas em museus nas cidades de Lund, Estocolmo e Copenhague. As primeiras foram recolhidas por naturalistas na Europa na primeira década do século XIX — a partir de 1801.
Parentes antigos da mosca-da-fruta
Para os humanos, o período de 200 anos é relativamente curto, já que envolve apenas algumas novas gerações. No entanto, para as moscas, este tempo é interminavelmente longo para uma vida demasiadamente curta.
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Se considerarmos que uma mosca-da-fruta vive, em média, 50 dias, os 200 anos cobertos pelo estudo (cerca de 73 mil dias) equivalem a mais de 1,4 mil novas gerações. É tempo suficiente para inúmeras transformações evolutivas, incluindo mutações em genes importantes, e um prato cheio para quem estuda evolução.
Novas descobertas evolutivas
No estudo publicado na revista PLOS Biology, os autores descrevem as principais transformações sofridas pelas moscas que viviam e ainda vivem nesta região mais fria da Europa. Permitindo a adaptação da espécie nativa da África, está a introdução do gene Ahcy, fundamental para a capacidade de sobrevivência no clima tão hostil.
Além disso, olhando para os espécimes da década de 1930 e os atuais, é possível observar o surgimento de um gene chamado Cyp6g1, capaz de tornar as moscas-da-fruta mais resistentes ao pesticida Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT). Para os pesquisadores, a descoberta e a evolução da espécie caminham no mesmo sentido da história, já que o inseticida foi introduzido na região a partir de 1940. Dessa forma, apenas as que conseguiram sobreviver continuaram a se proliferar.
Por outro lado, o gene ChKov1 era conhecido pela sua origem também relacionada com os pesticidas. No entanto, os pesquisadores descobriram que ele já era comum nas moscas por volta de 1800, ou seja, bem antes deles entrarem no mercado. Nesse sentido, ganha força a ideia de que o gene é, na verdade, relacionado com a resistência ao vírus sigmavírus, que afetava a espécie há cerca de 200 anos.
O interessante é que o estudo pode ter ainda mais desdobramentos. Por exemplo, se os pesquisadores resolveram analisar espécimes da mosca-da-fruta que ficaram na África ou outros exemplares do Brasil, com certeza, o número e os tipos de mutações nos genes serão outros, já que o ambiente é fundamental para determinar o caminho evolutivo da espécie. Recentemente, descobriu-se que a poluição também afeta negativamente a sua capacidade de reprodução, demonstrando como o meio é importante para a vida.
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Fonte: Canaltech