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Brasileiro descobre por que amendoins “dançam” na cerveja

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Brasileiro descobre por que amendoins

Você já colocou amendoins com casca dentro do seu copo de cerveja? Não? Pois saiba que a prática é comum em alguns bares da Argentina, e ganhou popularidade por algo curioso que acontece com as leguminosas quando depositadas na bebida alcoólica — após afundar, elas começam a boiar, subindo e descendo no copo de maneira hipnotizante. Agora, o pesquisador brasileiro Luiz Pereira encontrou a resposta por trás do fenômeno, e ela pode ter implicações na indústria mineral e entendimento geológico da terra.

O cientista viajava por Buenos Aires, capital do nosso vizinho sul-americano, enquanto aprendia espanhol, e notou que vários atendentes dos bares locais brincavam com os amendoins na cerveja. Como são mais densos que a bebida, eles viajam até o fundo do copo, mas ficam lá por pouco tempo. Cada amendoim se torna um “lugar de nucleação”, com centenas de pequenas bolhas de dióxido de carbono se formando na superfície, agindo como boias e levando o alimento para cima novamente.

A dinâmica dos amendoins cervejeiros

A equipe de Pereira, que inclui cientistas do Reino Unido, Alemanha e França, concluiu que as bolhas de gás preferem se formar nas leguminosas do que nas paredes de vidro do copo. Uma vez que chegam na superfície, elas estouram, levando o amendoim de volta para baixo, repetindo o ciclo. Isso se repete até acabar o dióxido de carbono da bebida ou, bem, até alguém bebê-la. Para testar a dinâmica do fenômeno, foram examinados amendoins torrados com casca em uma cerveja estilo lager.


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Foram descobertos 2 fatores-chave no curioso evento, apelidado de “sistema cerveja-gás-amendoim” pelos pesquisadores. Quanto maior o ângulo de contato entre a curva de uma bolha individual e a superfície do amendoim, mais provável que ela se forme e cresça. O tamanho, no entanto, tem de ser ideal — ou seja, a bolha deve ter menos do que 1,3 mm de raio, segundo cálculos de laboratório.

Ao entender o sistema simples a fundo, que é básico o suficiente para que qualquer um compreenda, é possível entender todo um sistema, que, segundo Pereira, seria útil para a indústria ou na explicação de alguns fenômenos naturais.

Um exemplo é o processo utilizado para separar o ferro do minério, que se aproveita da flutuação de maneira bastante similar. No procedimento, o ar é injetado de maneira controlada em uma mistura na qual um mineral (como o ferro) acabará subindo, já que as bolhas se ligam mais fácil a ele do que às paredes do recipiente ou outros minerais, que acabam mergulhando até o fundo.

Exemplo do ângulo de contato da cerveja com o amendoim, na esquerda, e com o vidro, na direita, o que explica parte do fenômeno (Imagem: Pereira et al./Royal Society Open Science)
Exemplo do ângulo de contato da cerveja com o amendoim, na esquerda, e com o vidro, na direita, o que explica parte do fenômeno (Imagem: Pereira et al./Royal Society Open Science)

Isso também pode explicar porque vulcanólogos veem magnetita subindo até camadas mais altas no magma cristalizado da crosta da Terra em maiores quantidades do que se esperava. Como os amendoins, a magnetita é um mineral mais denso, que deveria, teoricamente, ficar no fundo. Graças a um maior ângulo de contato, no entanto, o mineral acaba subindo e passando pelo magma com a ajuda de bolhas de gás.

Agora, o plano dos cientistas é criar um modelo melhor do fenômeno do amendoim ao repetir os testes com leguminosas das mais diferentes características, bem como cervejas de tipos variados — tudo, é claro, pela ciência. Um estudo sobre os primeiros testes foi publicado na última quarta-feira (14) no periódico científico Royal Society Open Science.

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Fonte: Canaltech