É inegável que a vida moderna, a abundância de alimentos, o desenvolvimento de remédios e a criação de vacinas são benéficos para os humanos. Por outro lado, o atual nível de conforto obtido por alguns indivíduos pode cobrar um elevado preço: o envelhecimento acelerado do cérebro, segundo pesquisa desenvolvida a partir de povos que habitam a Amazônia boliviana e que estão mais próximos das comunidades pré-industriais.
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Há quase 10 anos, os cientistas da University of Southern California (USC) e de outras instituições de pesquisa, nos Estados Unidos, se deslocam para a Amazônia e investigam as formas pelas quais a vida moderna impacta as sociedades. Como grupo controle para fins de comparação, eles utilizam dados de saúde das comunidades locais, como os povos indígenas Tsimané e Mosetén.
Por que a vida moderna envelhece o cérebro?
Em artigo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os autores da USC defendem que os excelentes índices de envelhecimento do cérebro das comunidades da Amazônia são obtidos através do melhor equilíbrio entre o consumo de alimentos e os exercícios, favorecendo o envelhecimento saudável e reduzindo o risco de doenças. Algo que chama a atenção é a dieta rica em fibras, incluindo vegetais, peixe e carne magra.
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Diferente das comunidades indígenas, as populações industrializadas nos EUA e na Europa — usadas na comparação do estudo — têm maior acesso à comida e realizam menos atividades físicas. Como observado, o sedentarismo e o consumo exacerbado de calorias colaboram com a aceleração do declínio cognitivo. Com isso, o risco de demência é maior — e o de problemas no coração também.
Para chegar a estas conclusões, os voluntários passaram por exames de tomografia computadorizada para medir o volume do cérebro por idade. Além disso, foram feitas aferições do Índice de Massa Corporal (IMC), pressão arterial, colesterol e outros marcadores da saúde em geral. No total, foram analisados 1,1 mil adultos nativos, com idades que variavam entre 40 e 94 anos.
Mais estudos investigaram a saúde dos povos da Amazônia
Como adiantamos, este não é o primeiro estudo a investigar as vantagens em relação ao envelhecimento das populações indígenas. No entanto, pesquisas anteriores envolviam apenas a comunidade Tsimane, como é o caso do artigo publicado na revista The Journal of Gerontology em 2021.
Neste caso, os autores revelaram que a população indígena apresentava uma taxa 70% mais lenta de redução do volume cerebral do que seus pares norte-americanos e europeus. Quando acelerado, o comportamento está conectado com o declínio cognitivo e o maior risco das demências, como o Alzheimer. No total, foram analisados 746 adultos da comunidade local.
“Os Tsimanes nos forneceram um experimento natural incrível sobre os efeitos potencialmente prejudiciais dos estilos de vida modernos em nossa saúde”, afirma Andrei Irimia, professor assistente da USC e um dos autores do estudo, em nota. Entre os nativos, dietas ricas em açúcares e gorduras, amplamente disseminadas na vida moderna, são inexistentes.
Em 2017, um outro estudo sobre o povo Tsimane foi publicado na revista The Lancet. Desta vez, as análises descobriram que os indígenas têm a menor prevalência da doença arterial coronariana (aterosclerose coronária) do que qualquer população conhecida pela ciência. De forma geral, são pouquíssimos fatores de risco associados com as doenças do coração. Em contrapartida, este é o grupo de complicações mais associadas aos óbitos no mundo moderno, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Como nem tudo é perfeito, esses indivíduos precisam lidar com outros desafios para a saúde, como as infecções respiratórias, gastrointestinais e parasitárias. Diferente das sociedades modernas, as doenças infecciosas são a principal causa de morte entre os nativos e afetam significativamente a longevidade do grupo.
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Fonte: Canaltech