O plano anunciado por autoridades japonesas de liberação da água radioativa da usina nuclear de Fukushima no oceano vem causando controvérsia entre os países vizinhos e ONGs ambientalistas. O resíduo — que já foi tratado — ocupa mais de mil tanques e precisa de uma destinação para que as obras de remediação continuem no local.
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Pode soar uma péssima ideia, como soou para a China, Coreia do Sul e várias ilhas do Pacífico, mas o governo do Japão, a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) e cientistas não relacionados com o plano declararam que ela é segura. Recentemente, um artigo publicado por especialistas australianos no portal The Conversation reforça esta posição.
Com longa experiência profissional e acadêmica na área de ciência e energia nuclear, os cientistas avaliam o tipo e quantidade de radiação a ser liberada, bem como a radiação já presente no oceano. A análise conclui que não há riscos e a medida é necessária para que o Japão siga com o processo de recuperação da área.
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O que existe na água de Fukushima
Um total de 1,3 milhão de toneladas de água — o suficiente para encher 500 piscinas do tamanho da que o atleta Bruno Fratus nadou para conseguir uma medalha de bronze nas Olimpíadas de Tóquio. É esta a quantidade armazenada até o momento em Fukushima. Ela foi usada no processo de contínuo resfriamento dos reatores da usina.
Além disso, um grande volume de água é contaminado todos os dias no solo abaixo do local. A instalação em que os reatores funcionavam foi construída no nível do lençol freático justamente para usar o líquido no resfriamento. É preciso dar sequência no processo de remediação da área para que os 140.000 litros contaminados diariamente sejam zerados.
Toda essa água — tanto a que havia sido usada enquanto a usina estava ativa, quanto a que é contaminada diariamente — é tratada por um processo chamado Sistema Avançado de Processamento de Líquido (ALPS). O tratamento pode ser repetido quantas vezes forem necessárias para deixar a água dentro dos padrões legais, um monitoramento que é feito pela IAEA.
O único contaminante radioativo que o ALPS não consegue remover é o trítio — uma forma de hidrogênio que possui dois nêutrons e um próton em seu núcleo atômico. Como em todo elemento radioativo, a radiação do trítio diminui com o passar do tempo a uma taxa chamada meia-vida. O termo se refere ao período necessário para que a radiação caia pela metade.
No caso do trítio, são 12 anos de meia-vida, ou um século até que ela esteja praticamente zerada, um tempo longo demais para manter o armazenamento nos tanques.
Por que é seguro liberar o trítio?
Existem padrões nacionais e internacionais referentes à potabilidade de água, colocando limites para a presença de uma série de substâncias após os processos de tratamento. No Brasil, o Ministério da Saúde exige que a concentração de urânio na água não seja superior a 0,03 mg por litro.
No caso do trítio, o padrão internacional é medido em uma unidade chamada Becquerel (Bq), que indica o decaimento radioativo na amostra. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece 10.000 Bq por litro como parâmetro para a água potável, enquanto o Japão pretende lançar a água de Fukushima no oceano com apenas 1.500 Bq por litro.
Além disso, pequenas quantidades de radiação estão presentes a todo momento em nosso cotidiano: mesmo o ar, as plantas e até nossos alimentos emitem radiação em alguma medida, em quantidades insignificantes para a saúde. O próprio Oceano Pacífico já possui cerca de 3 quintilhões — 3 bilhões de bilhões — de Becquerels de trítio.
O número é tão grande que é possível expressá-lo na massa total do elemento: seriam 8,4 kg de trítio em todo o volume do maior oceano do mundo. Em comparação, o Japão pretende liberar um total de cerca de 3 gramas com a água de Fukushima, a uma taxa de 0,06 gramas por ano (22.000 bilhões ou 22 TBq).
Finalmente, outras usinas nucleares também são obrigadas a descartar a substância de alguma forma. China e Coreia liberam mais de 50 TBq por ano em suas respectivas usinas de Kori e Fuqing. No Reino Unido, a usina de Heysham pode chegar a 1.300 TBq por ano e está em atividade há 40 anos.
Há um ressentimento justificado nas ilhas do Pacífico em relação às tecnologias nucleares devido ao legado dos testes de bombas realizados na região. De qualquer forma, a diferença que as águas de Fukushima fariam seria mínima. Doze anos após o terremoto que deixou quase 20.000 mortos, a região deve continuar seu processo de reconstrução.
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Fonte: Canaltech