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Brasileiros passaram a confiar menos na ciência e nas vacinas nesta pandemia

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Brasileiros passaram a confiar menos na ciência e nas vacinas nesta pandemia - 1

Uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT), sediado na Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) analisou a confiança dos brasileiros na ciência nos últimos meses, levando em conta as influências da pandemia de covid-19 e o processo de fabricação e distribuição de vacinas para contenção do vírus SARS-CoV-2.

O estudo também considerou fatores como escolaridade, condições financeiras, sexo e valores políticos e morais dos participantes. Os resultados mostram uma diminuição sensível na confiança científica dos habitantes do país, embora a maioria siga mostrando acreditar nos benefícios e resultados trazidos pelos cientistas e pesquisadores de universidades e instituições públicas. Eles seguem vistos como honestos, e seu trabalho é considerado benéfico.

Pesquisadores de institutos ligados à Fiocruz participaram da pesquisa, que entrevistou mais de 2 mil brasileiros sobre suas crenças e descrenças na ciência (Imagem: Leonardo Oliveira/ Fiocruz Imagens)
Pesquisadores de institutos ligados à Fiocruz participaram da pesquisa, que entrevistou mais de 2 mil brasileiros sobre suas crenças e descrenças na ciência (Imagem: Leonardo Oliveira/ Fiocruz Imagens)

Entrevistas e crenças científicas

Para descobrir a opinião da população, uma amostra de 2.069 pessoas com 16 anos ou mais foi entrevistada em casa, pessoalmente e individualmente. Mostrou-se uma crença de que os cientistas permitiram a influência de ideologias políticas nas pesquisas acerca do novo coronavírus durante a pandemia, mas a parcela populacional que não vê benefício algum da ciência para a humanidade é muito baixa, ficando em 3,5%.


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Com uma margem de erro de 2,2%, o estudo teve um intervalo de confiança de 95%. A maioria dos participantes disse confiar ou confiar muito na ciência, chegando a 68,9%. Para modos de comparação, o Índice do Estado da Ciência realizado nos Estados Unidos pela empresa 3M, neste mesmo ano, mostrou um resultado de 90% de concordância populacional com a frase “eu confio na ciência“. Embora pareca baixo, comparativamente, o valor brasileiro é considerado alto.

Mesmo assim, os cientistas figuram entre as fontes de informação mais confiáveis para os brasileiros. No topo da lista, ficam os médicos, com 60,1% de confiança, seguidos pelos cientistas, com 47,3% — destes, 30,6% são de universidades ou institutos públicos de pesquisa, enquanto 16,7% trabalham em empresas. Em seguida estão os jornalistas, com 36,4%, e os menos confiáveis, com meros 1,5% cada, estão os políticos e artistas. A lista de profissionais para consideração foi fornecida pela pesquisa.

Os participantes ainda foram questionados sobre nomes de cientistas e instituições mais lembrados, sendo que 8% relatou conhecer o nome de ao menos um cientista brasileiro, com Oswaldo Cruz e Carlos Chagas figurando no topo. Houve destaque, também, para os profissionais ativos durante a pandemia, como Margareth Dacolmo, da Fiocruz, e Jaqueline Goes, da Universidade de São Paulo (USP), médicas lembradas pelos entrevistados.

Apesar da pandemia ter afetado a percepção de algumas pessoas sobre a importância dos pesquisadores, cientistas continuam sendo considerados confiáveis e benéficos para a sociedade (Imagem: DCStudio/Freepik)
Apesar da pandemia ter afetado a percepção de algumas pessoas sobre a importância dos pesquisadores, cientistas continuam sendo considerados confiáveis e benéficos para a sociedade (Imagem: DCStudio/Freepik)

As instituições lembradas foram o Instituto Butantan, a Fiocruz e a USP, sendo que mais de 25% dos pesquisados relataram se lembrar de instituições que fazem pesquisa científica no país. Quanto às vacinas, 86,7% as percebe como seguras, e 69,6%, como necessárias. Uma parte considerável, 46,4%, acredita que elas produzem efeitos colaterais arriscados, sendo que 40% crê que empresas farmacêuticas esconderiam perigos relacionados aos imunizantes.

Confiança nas vacinas

Em relação à covid-19, em especial, a maioria reconhece o valor da vacina no combate à pandemia e reações severas ao vírus, bem como sua eficácia e segurança. Uma grande proporção dos participantes também crê que o governo forneceu informações falsas sobre o imunizante recente: 46,7%.

Apesar disso, 13% deles relataram não pretender tomar mais doses de reforço contra o SARS-CoV-2, e quase 8% dos pais ou responsáveis por menores de idade não planejam vacinar seus infantes. Observou-se uma chance bem maior do fenômeno entre os homens e aqueles declararam crença que “o crescimento econômico e a criação de empregos devem ser prioridades máximas, mesmo quando a saúde da população sofra de algum modo”.

Os que mais duvidam da vacina também têm escolaridade mais baixa e menos familiaridade com conceitos científicos e instituições que fazem ciência no Brasil. O posicionamento econômico, os valores e o engajamento na política e sociedade civil também influenciaram na decisão de tomar ou não os imunizantes. Quem prioriza os avanços econômicos em detrimento do combate à desigualdade e pensa no mercado como mais importante que a saúde veem maior risco nas vacinas.

Escolaridade e crenças pessoais influenciam nas ideias que os brasileiros têm da importância das vacinas: crianças podem ser as mais afetadas por isso (Imagem: CDC/Unsplash)
Escolaridade e crenças pessoais influenciam nas ideias que os brasileiros têm da importância das vacinas: crianças podem ser as mais afetadas por isso (Imagem: CDC/Unsplash)

Quem participa menos na política ou demonstra sexismo/machismo, ou seja, pensamentos como “homens são melhores do que mulheres na política ou ciência” ou “homens têm prioridade sobre as mulheres nos empregos” também apresentara mais medo ou cautela com os imunizantes, independente da renda e escolaridade relatados na pesquisa.

Mudanças climáticas

Por fim, a maioria dos participantes concorda que mudanças climáticas estão de fato ocorrendo, chegando a 91%, e menos de 6% crê que elas não existem. Entre os negacionistas, há mais chances de não confiar na ciência ou ter desconfiado mais dela durante a pandemia, o que também ocorreu entre quem tem menos familiaridade com noções científicas e entre os mais abastados, que, curiosamente, são mais escolarizados e possuem mais acesso à informação.

Segundo os cientistas, isso ocorreria pela ligação da aceitação das mudanças climáticas e os valores pessoais. Quem prioriza a economia em detrimento da saúde, por exemplo, tende mais a negar as mudanças climáticas, bem como os que desprezam paridade de gênero. Dos que acreditam nas mudanças climáticas, 85,8% creem que a ação humana é causadora delas, e 12,4% põe o fenômeno na conta das mudanças naturais do meio ambiente.

Apesar da maioria dos entrevistados acreditar que mudanças climáticas existem, nem todos acreditam que o ser humano é responsável por elas (Imagem: Pete Linforth/Pixabay)
Apesar da maioria dos entrevistados acreditar que mudanças climáticas existem, nem todos acreditam que o ser humano é responsável por elas (Imagem: Pete Linforth/Pixabay)

A percepção de consenso na comunidade científica é mais forte do que a de divergências, já que 68% dos participantes relata ver concordância entre a maioria dos cientistas sobre a relação causal das mudanças climáticas e as ações do ser humano. Quanto à preservação do meio ambiente no país, 30,6% dos entrevistados acredita que o Brasil é um dos países que melhor preserva o meio ambiente, e 42,8% discorda disso.

A maioria dos brasileiros também crê que as mudanças climáticas prejudicam a qualidade de vida no Brasil, chegando a 78,3%, e a qualidade de vida de suas famílias, 81%. Os que veem perigo do fenômeno para as próximas geração chegam a 82,8%.

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Fonte: Canaltech