Talvez os rovers que exploram Marte não encontrem bioassinaturas na superfície marciana, porque a radiação ultravioleta pode ter destruido esses rastros e os deixado indetectáveis para seus instrumentos. O alerta vem de um estudo liderado por Mickael Baqué, do Centro Aeroespacial Alemão (DLR) que, através de um experimento na Estação Espacial Internacional, mostrou como a luz ultravioleta pode afetar biomoléculas desprotegidas.
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Para o estudo, a equipe de Baqué expôs clorofilina, melanina, celulose e outros tipos de biomoléculas no experimento Biology and Mars Experiment (BIOMEX), no lado externo da Estação Espacial Internacional; elas ficaram sujeitas a condições parecidas com aquelas encontradas em Marte. No fim do experimento, ele e seus colegas descobriram que, dentre as moléculas usadas, apenas a clorofilina, quercetina e melanina seguiram detectáveis.
Entretanto, o sinal delas foi reduzido em até 50%, e a luz ultravioleta que incidiu sobre elas as degradou tanto que a espectroscopia de Raman não pôde mais reconhecê-las. Esta descoberta é importante, já que os rovers Perseverance e Curiosity contam com espectrômetros de Raman, usados para identificar compostos orgânicos no Planeta Vermelho.
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Apesar disso, o estudo mostrou que a técnica ainda pôde ser usada para identificar as biomoléculas em uma amostra de controle, protegida da radiação por camadas de regolito. Isso sugere que o rover Perseverance e missões futuras talvez possam identificar os bioassinaturas enterrados sob a superfície, protegidos radiação.
A superfície marciana parece bastante agressiva para estes compostos principalmente pela radiação ionizante, mas também por substâncias oxidantes. “Assim como o regolito pode proteger moléculas diretamente expostas da fotodegradação causada pela radiação ultravioleta, outros componentes podem desempenhar o mesmo papel nos organismos”, acrescentou o autor.
Aqui, Baqué se referiu a experimentos anteriores do BIOMEX, que também levaram seres vivos e mortos a condições parecidas na luz ultravioleta. Contudo, estes experimentos mostraram que as biomoléculas dentro de organismos seguiram intactas mesmo com a radiação. Assim, a equipe de Baqué concluiu que qualquer biomarcador na superfície de Marte, caso exista, poderá acabar degradado em alguns anos.
Na prática, isso significa que, a menos que nosso vizinho esteja “borbulhando” com vida o suficiente para substituir os bioassinaturas de tempos em tempos, permitindo que sejam identificados, parecerá que o planeta é inerte mesmo que este talvez não seja o caso — e que a espectroscopia de Raman pode ter um papel menor do que se pensava para a busca de vida por lá.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Science Advances.
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Fonte: Canaltech