Brasil

Atacada desde a estreia e alvo de Bolsonaro, Maju passa em “prova de fogo” no Jornal Hoje

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Maria Júlia Coutinho cumpriu com louvor o desafio de ancorar o seu primeiro telejornal diário. Nesta terça-feira (26), a apresentadora se despediu do Jornal Hoje para ocupar o Fantástico, no lugar de Tadeu Schmidt, a partir de 21 de novembro. Para a jornalista, o noticioso foi uma “prova de fogo”, em que enfrentou o preconceito da crítica especializada e os ataques do presidente Jair Bolsonaro.

Com carisma e muito trabalho, Maju passou no teste, como se precisasse provar sua competência. Mas ela precisou. Embora tenha quase duas décadas de profissão, diploma em uma das mais prestigiadas faculdades de jornalismo e experiência como repórter e apresentadora da previsão do tempo, ela pertence a uma parcela mínima da população: a de mulheres negras em cargos de destaque (apenas 0,4% do quadro de profissionais das 500 maiores empresas do Brasil, segundo pesquisa do Instituto Ethos).

Logo na estreia, em 30 de setembro de 2019, Maju sofreu com os ataques da própria classe jornalística, que contou seus erros como nunca havia feito com uma apresentadora branca. Também foi criticada por uma reação, um sorriso após ver imagens de arquivo de Jorge Fernando fazendo caretas em uma reportagem sobre a morte do diretor de novelas.

Durante a pandemia de coronavírus, o Jornal Hoje ganhou espaço na programação, com quase duas horas no ar. Maju acompanhou o início da epidemia, a chegada ao Brasil e o caos na saúde, até finalmente passar boas notícias: a descoberta de vacinas, a imunização da população e a diminuição na velocidade da transmissão. Além de informar, a apresentadora precisou gastar tempo e esforço para desmentir fake news que surgiram pelas redes sociais e até do governo federal.

A titular do Jornal Hoje virou alvo constante de apoiadores de Bolsonaro. Em agosto de 2020, o próprio presidente a acusou de ter mentido ao noticiar que, durante o evento Brasil Vencendo a Covid-19, o presidente e nenhum integrante do governo não prestaram solidariedade às vítimas do coronavírus. “A Globo, como sempre, mentindo a meu respeito”, afirmou.

No dia seguinte, Maju esclareceu o comentário, mas manteve a informação que irritou Bolsonaro: “Ontem, o JH noticiou que, durante o evento Brasil Vencendo a Covid, nem o presidente Jair Bolsonaro nem nenhuma autoridade do governo prestou solidariedade às vítimas. Mas uma médica da Bahia, a doutora Raíssa Soares, que não faz parte do governo, pediu um minuto de silêncio, e o pedido foi respeitado por todos os presentes, inclusive pelo presidente. Fica aqui o esclarecimento”.

Em 16 de março deste ano, Maju provocou os negacionistas da pandemia (aquelas pessoas que chamam o coronavírus de “gripezinha”, inventam notícias falsas sobre vacinas e indicam remédios ineficazes para o tratamento da Covid-19) ao dizer no Jornal Hoje que “o choro é livre” para quem mente sobre a importância do distanciamento social no combate à doença.

“Por todo o país, os números da pandemia não param de subir, e as medidas restritivas de circulação estão se espalhando. Os especialistas são unânimes em dizer que essas são medidas indispensáveis agora para conter a circulação do vírus. O choro é livre, não dá para a gente reclamar, é isso o que tem”, declarou a jornalista antes de noticiar mais restrições anunciadas pelo governo de Minas Gerais.

Políticos e influenciadores de extrema-direita distorceram a frase e acusaram a apresentadora de dizer “o choro é livre” para quem perdeu o emprego ou faliu empresas em função da pandemia, o que é mentira. Outros perfis inventaram que Maju recebe R$ 130 mil mensais da Globo e que ela estava trabalhando em pleno lockdown. Outra mentira, já que a cidade de São Paulo, onde fica o estúdio do Jornal Hoje, não adotou o lockdown (fechamento total) para controlar a circulação de pessoas.

Entre os políticos que compartilharam o vídeo e distorceram a fala de Maju, estão os deputados federais Carlos Jordy (PSL-RJ), Cabo Junio Amaral (PSL-MG) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), a deputada estadual Leticia Aguiar (PSL-SP), a vereadora Sonara Fernandes (Republicanos-SP). Também participaram do ataque à jornalista a ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel e o youtuber bolsonarista Allan dos Santos, investigado pelo STF no inquérito das fake news e sobre atos antidemocráticos.

Maju recebeu ódio, mas também amor. Identificada com o público, a jornalista ganhou fãs negras que finalmente se viram representadas na TV. Uma das mais fofas é Maria Alice, que viralizou se reconhecendo na televisão ao ver a apresentadora. Elas se conheceram pessoalmente em um encontro cheio de carinho e fofura!

Maria Júlia Coutinho deixou o Jornal Hoje com a sua cara, o que aumenta o desafio de seu sucessor, César Tralli. Após vencer a “prova de fogo”, a apresentadora terá no Fantástico mais uma oportunidade de mostrar que o seu lugar na TV é onde quiser.

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Fonte: Observatório da Televisão